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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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domingo, 14 de dezembro de 2008

Podemos conquistar os Pais para o nosso lado?

Se considerássemos os pais dos alunos como um todo, a resposta seria obviamente "não". Não há unanimidades, e tentar fabricá-las é um exercício fútil.

Acontece, porém, que os pais dos nossos alunos não são um grupo homogéneo: são gente diferenciada, com interesses diferenciados, valores diferenciados e necessidades diferenciadas. O apoio que eles nos possam vir a dar depende muito do que lhes pudermos dar em troca, e infelizmente não é possível dar tudo a toda a gente.

Há um grupo de pais que está naturalmente do lado dos professores mas é, infelizmente, minoritário: refiro-me àqueles para a qual o ensino é a função essencial da escola, o conhecimento um valor essencial da vida, e que conhecem suficientemente a "Pedagogia de Estado" em vigor há trinta anos (e hoje protagonizada por Maria de Lurdes Rodrigues) para saberem que ela é antagónica ao ensino e ao conhecimento. Em relação a este grupo, o risco que corremos não é o de eles se porem contra nós: é o de pura e simplesmente se desinteressarem de tudo o que tenha a ver com a Escola Pública, porem os filhos em colégios privados que ensinem bem (também há os que se podem dar ao luxo de ensinar mal porque têm outro peixe para vender) e não se porem, nem do nosso lado, nem do lado do Ministério.

Há um segundo grupo de pais que é o mais numeroso e que se encontra num dilema que divide interiormente cada um dos seus membros: por um lado, dão-se conta que a função da escola é ensinar, por outro precisam desesperadamente de quem lhes guarde os filhos, porque trabalham muito e infelizmente não se podem dar ao luxo de trabalhar menos. Conquistar este grupo é extremamente difícil por várias razões: primeiro, porque seria preciso convencê-los de um facto que, embora verdadeiro, é muito difícil de engolir: o de que não se pode ter tudo, que há no mundo escolhas difíceis, e que é materialmente impossível ter uma escola pública que desempenhe bem as funções de ensinar e de guardar. O bom desempenho duma destas funções implica necessariamente o mau desempenho da outra. Qual é o pai sobrecarregado de trabalho que interioriza isto, mesmo sabendo intelectualmente que é verdade?

A segunda razão por que é difícil conquistar este grupo de pais é o facto de a maior parte não estar informada da existência da "Pedagogia de Estado" que referi acima, e muito menos do seu carácter profundamente pernicioso. Para terem esta informação teriam que ter um conhecimento minucioso da legislação educativa, dos programas, das teorias pedagógicas e dos currículos, e este conhecimento não lhes pode ser exigido. Sabem que algo está mal, muito mal, no nosso sistema educativo; querem saber de quem é a culpa; e concluem, muito naturalmente, que é dos professores. Não lhes podemos levar isto a mal: qualquer um de nós, dispondo da mesma informação, chegaria à mesma conclusão.

A terceira razão pela qual este grupo é difícil de conquistar está no facto de a mentalidade portuguesa não dar grande valor ao conhecimento. Obrigados a escolher entre a escola que ensina e a escola que guarda, muitos deles escolherão, mesmo que a contragosto, a escola que guarda. Ou então, se puderem, entregarão os filhos às escolas privadas para as quais é materialmente possível desempenhar ambas as funções (e por isso mesmo são tão caras). No aspecto da guarda dos filhos, têm razões legítimas para estarem agradecidos à ministra: este benefício da sua política é visível já hoje, enquanto a catástrofe civilizacional que ela acarreta só será evidente daqui a décadas, quando a senhora já tiver morrido, depois de recebidas as condecorações da praxe.

Resta um terceiro grupo, felizmente minoritário. É um grupo que está perdido para nós à partida e que nem sequer devemos tentar conquistar: aqueles que têm uma profunda necessidade psicológica de odiar e que agradecem à Ministra a dádiva que lhes fez dum objecto plausível para esse ódio: os professores. Em relação a este grupo, não há nada a fazer a não ser isolá-lo na medida do possível e esperar que não faça demasiados estragos nas hipóteses que Portugal ainda tem de vir a ser um país decente.

3 comentários:

Anónimo disse...

"Ou então, se puderem, entregarão os filhos às escolas privadas para as quais é materialmente possível desempenhar ambas as funções (e por isso mesmo são tão caras)."


Considero ser materialmente possível à escola pública, sobretudo no 1.º ciclo e pré-escolar, ensinar e guardar, sendo esta última função assumida pela comunidade(autarquias/pais), como já acontece em muitas escolas do seu concelho:

http://www.educar.maiadigital.pt/MDE/Internet/PT/InformacaoGeral/Noticias/pag1.htm


E por aquilo que vejo na escola dos meus filhos, pública, onde metade dos pais têm formação superior, por muito bom que seja o ensino se os horários forem os tradicionais(9-15:30), sem serviços que garantam a ocupação de tempos livres, a escola está condenada a perder alunos.

E o privado não fica assim tão caro. Entre ter um filho na pública e pagar 150 euros mensais por um ATL, ou dar 300-350 euros num privado com tudo incluído, muitos preferem a 2.ª opção.

Anónimo disse...

Caro Daniel:

No que respeita o pré-escolar e o 1º ciclo, não estou suficientemente dentro do assunto para concordar ou discordar de si.

No que respeita os outros ciclos, você próprio confirma o que eu escrevi: se as escolas públicas quiserem desempenhar eficazmente a função de guarda sem sacrificar a de ensino, só lhes será materialmente possível fazê-lo se cobrarem por aquele serviço.

Julgo que não é isto que se entende por escola pública, universal e gratuita, tanto mais que 150 euros por mês não é tão pouco dinheiro como isso.

Anónimo disse...

A guarda de alunos deixa de ser decisiva a partir do 7.º ano, quando os alunos são mais autónomos. É a percepção que tenho.

Os ATL que cobram 150 euros são os que rodeiam as escolas públicas. Este serviços quando integrados nas escolas(organizados pelos pais ou pela autarquia) são mais baratos.
Voltando ao exemplo da Maia, familiares meus que aí têm os filhos, pagam 95 euros mês (almoço e prolongamentos de horário), valor máximo que se pode pagar. A prestação varia conforme os rendimentos.

Vendo bem, as escolas públicas não são gratuitas, os livros, os almoços e os materiais pagam-se. Os serviços de guarda também devem ser pagos.