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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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domingo, 20 de novembro de 2011

Carta aberta ao PS

Caro PS:

Vou ser sincero. Deixei há muito tempo de confiar em ti e de votar em ti. As desilusões têm um efeito cumulativo, e as que tu me deste foram muitas e vêm de longe. Há um ponto a partir do qual se torna impossível fechar os olhos à corrupção, ao amiguismo, à capitulação, à falta de ideais.

Não foste - longe disso - o único partido socialista europeu a deixar-se transportar na ilusão neoliberal. Quanto a isto, é possível que até nem tenhas grande culpa: era o espírito dos tempos. Mas depois de 2008? Depois de se ter tornado óbvio, escancaradamente óbvio, a quem servia a doutrina económica dita ortodoxa? Não poderias ter feito desde essa altura, ou pelo menos esboçado, o teu exame de consciência? Que considerações, que compromissos, que rabos de palha te impediram de o fazer? Podias ter saído da torre de marfim politqueira onde te encerraste ou te encerraram. Podias ter olhado à tua volta. Podias ter visto, ouvido e lido o que se estava e está a passar no mundo. Porque escolheste permanecer cego e surdo?

Quando governaste, governaste mal. Atacaste com afinco e com acinte, não só os trabalhadores em geral, mas também, de entre estes e em particular, as classes médias e as classes profissionais que eram o teu principal sustentáculo. Onde estavas com a cabeça? Atacaste direitos chamando-lhes privilégios, e deixaste os privilégios como estavam, se é que os não favoreceste ainda mais. Chegaste a ser o único partido parlamentar - nota bem, o único - a colocar obstáculos inultrapassáveis a que se combatesse eficazmente a corrupção. Talvez me fosse possível perdoar-te o resto. Isto, nunca.

Assinaste um acordo com a troika em que se previa que o défice das contas públicas fosse atacado em dois terços pelo lado da despesa e num terço pelo lado da receita. Porquê esta proporção e não outra qualquer? Ocorreu-te sequer fazer esta pergunta? Que tabu, que fetiche te paralisou o cérebro? Abstiveste-te na votação dum Orçamento de Estado que decorria deste acordo. Com que cara vens agora mendigar ao governo que devolva metade do que ajudaste a roubar aos funcionários públicos e aos reformados?

Agora anuncias a tua abstenção quanto à Greve Geral do dia 24. Não me surpreende esta atitude: era a que esperava de ti, dado o teu currículo. Mas compreende uma coisa: o mundo está em guerra. Já não a podes evitar com paninhos quentes. E quem se mantiver na terra de ninguém ficará sob fogo cruzado. 

Já não tens muito tempo. Ou te colocas, rapidamente e sem equívocos, do lado dos 99%, ou ficas para sempre do lado dos 1%. E estes não te ficarão gratos: para ti, doravante, a vida será sempre a perder.

10 comentários:

rita disse...

Brilhante!!!
Tenho de partilhar.

Anónimo disse...

Mesmo na noite mais triste,

em tempo de servidão,

há sempre alguém que desiste:

desiste de dizer "Não!"


Manuel nada alegre

Rui Ferreira disse...

Muito bom.

Rui Ferreira disse...

Muita boa gente disse vezes sem conta "o homem - Sócrates - tem coragem e convicções fortes". Mário Soares foi um deles. Tratando-se da defesa da asneira, a coragem e a convicção resultou num monstro. Este.

Kaos disse...

Caro amigo
Desta gente já nada devemos esperar. Esta gente está firmemente ligada ao poder dos mercados e vendidos a ele. Só podemos contar connosco mesmos, com a multidão que cada dia fica mais pobre. Esse é o nosso exército, esses são os nossos companheiros, esses são os 99%. Só nos falta que este toda esta gente compreenda que são eles que têm o poder, que são eles a chave do futuro. Basta que saiam para a rua e exijam uma democracia verdadeira em que a sua palavra seja ouvida e respeitada. Começou a primeira grande guerra do Sec. XXI
Um abraço
Kaos

Anónimo disse...

Muito bom texto.

João Afonso disse...

Os interesses defendidos pelo PS na AR eram evidentes que nada tinham a ver com a raiz social democrata do seu programa. Mas, um povo inculto, elege gente desonesta.Veja-se o que se passa na Filândia. 6% do PIB é aplicado na educação. Daí que o 25 de Abril não foi nenhuma revolução, porque as estruturas do Estado Novo permaneceram. Venderam-nos uma palavra que deixou muitas esperanças: DEMOCRACIA...mas ela está moribunda,porque a abandonaram à "fome e à sede" de justiça.

Moriae disse...

Grande abraço!

Zéfoz disse...

Texto oportuno que põe o dedo na ferida. Mas o que está a acontecer era mais do que previsível. Ao descrédito e queda do socialismo em Portugal seguiu-se a derrocada do PSOE, como num efeito de contágio, que perdeu 59 mandatos e teve o pior resultado de sempre.
Os socialistas Ibéricos, estão a hibernar e a pôr-se a salvo das tempestades que semearam, infiltrados e manipulados que foram pelo capitalismo neoliberal que está a arrasar tudo.
É óbvio que o socialismo, enquanto ideologia, merecia melhor sorte e com ele os que hoje se sentem frustados e desapontados com o seus mentores actuais. Mas que podíamos esperar de tais dirigentes que além de não saberem ler os sinais dos tempos, não tinham sentido de Estado e foram substituindo a ideologia por vis interesses pessoais e da estranja, alheios ao futuro do país e dos seus concidadãos?

Anónimo disse...

Partilhei !! deixo um abraco e aqui ficou https://www.facebook.com/photo.php?fbid=572066416177162&set=a.481934545190350.117293.100001214266457&type=3&theater