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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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quarta-feira, 24 de julho de 2013

Life of Pi (Excerto)

"I must say a word about fear. It is life's only true opponent. Only fear can defeat life. It is a clever, treacherous adversary, how well I know. It has no decency, respects no law or convention, shows no mercy. It goes for your weakest spot, which it finds with unerring ease. It begins in your mind, always. One moment you are feeling calm, self-possessed, happy. Then fear, disguised in the garb of mild-mannered doubt, slips into your mind like a spy. Doubt meets disbelief and disbelief tries to push it out. But disbelief is a poorly armed foot soldier. Doubt does away with it with little trouble. You become anxious. Reason comes to do battle for you. You are reassured. Reason is fully equipped with the latest weapons technology. But, to your amazement, despite superior tactics and a number of undeniable victories, reason is laid low. You feel yourself weakening, wavering. Your anxiety becomes dread.
    Fear next turns fully to your body, which is already aware that something terribly wrong is going on. Already your lungs have flown away like a bird and your guts have slithered away like a snake. Now your tongue drops dead like an opossum, while your jaw begins to gallop on the spot. Your ears go deaf. Your muscles begin to shiver as if they had malaria and your knees to shake as though they were dancing. Your heart strains too hard, while your sphincter relaxes too much. And so with the rest of your body. Every part of you, in the manner most suited to it, falls apart. Only your eyes work well. They always pay proper attention to fear.
    Quickly you make rash decisions. You dismiss your last allies: hope and trust. There, you've defeated yourself. Fear, which is but an impression, has triumphed over you."

terça-feira, 16 de julho de 2013

Mecânica quântica

O gato de Schrödinger Partido Socialista está simultaneamente vivo e morto. Estará vivo ou morto quando alguém abrir a caixa.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Não são os mercados, estúpido, é um cartel!

Lloyd C. Blankfein, Goldman Sachs
Tenho insistido muito nesta ideia sem a justificar, a tal ponto me parece óbvia. Mas devemos evitar, não só as teorias da conspiração, como a sua aparência; cabe-me portanto explicitar as razões por que falo em cartel e não em mercados quando me refiro às entidades cuja confiança os governos europeus e os partidos do centro político alegam querer conquistar.

Os mercados são um dado objectivo da realidade. Deles fazem parte os trabalhadores, os consumidores, os contribuintes, os empresários, os profissionais liberais, os investidores, os depositantes, em suma: todos nós. E aqui encontramos a primeira contradição do discurso oficial: se os decisores políticos querem conquistar para "Portugal" a confiança dos mercados, como se explica que suscitem por sistema a desconfiança, não só de quem constitui "Portugal", como de quem constitui os mercados?

Não se trata dos mercados em geral, dirão, mas sim dos mercados financeiros isoladamente. Mesmo assim, a narrativa não bate certo. Os mercados financeiros podem ser considerados isoladamente, mas não existem isoladamente. Os seus actores podem procurar, e procuram, uma situação de hegemonia sobre a economia real, mas nem por isso deixam de olhar para ela. É do seu interesse reinar, mas não reinar sobre o deserto. Quando os mercados a sério olham para um país, olham para as suas contas mas também olham para a sua economia, para a sua sociedade e para a qualidade da sua governação. Portugal está a falhar em todos estes critérios, incluindo aquele a que tudo o resto foi sacrificado, que é a simples contabilidade.


Alguém acredita, com efeito, que o mundo, o mesmo mundo que olha com tanta atenção para os nossos défices, não olhe com igual atenção para o nosso sistema educativo, para a nossa justiça, para a nossa indústria, para a nossa agricultura, para a inanidade do nosso centrão político ou para as espantosas piruetas e palhaçadas dos nossos governantes?

Temos, dizem, "objectivos" a cumprir. Se os cumprimos, somos recompensados (dizem); se não os cumprimos, somos punidos. Mas nem essa recompensa nem essa punição fazem sentido económico, ou sequer financeiro. Se fazem algum sentido, é político, e a política não trata da distribuição da riqueza a não ser na medida em que ela se reflecte na distribuição do poder, que é o seu verdadeiro e único objecto. Se há alguém no mundo, e há, que nos castiga e recompensa, esse alguém não pode ser os mercados. Restam duas hipóteses: ou estamos a ser condicionados por uma entidade política (digamos, fantasiando um pouco, por um projecto imperial), ou por uma entidade económica, exterior aos mercados, que os distorce ou destrói. 

Ou seja, por um cartel. E as reacções de um cartel, ao contrário das dos mercados, são previsíveis: não admira o ar de convicção absoluta com que o comentariado económico nos transmite as ameaças dos "mercados" caso exerçamos de modo "irresponsável" a nossa soberania política.

Nada do que condiciona a acção do governo resulta do funcionamento livre dos mercados. Tudo (excepto certas oscilações de curto prazo) é concertado entre um número elevado, mas finito, de decisores com nome e com cara. Os juros que pagamos à banca e à troika são politicamente determinados: podem e devem ser politicamente combatidos. O próprio montante da dívida resulta de um cálculo baseado em escolhas políticas: só assim se compreende que ela nunca tenha sido auditada e que as auditorias não oficiais deparem com tanta resistência por parte de quem teria, formalmente, o dever de as promover. O que estas escolhas políticas têm em comum, desde há mais de 30 anos, é a vontade de redistribuir maciçamente a riqueza de baixo para cima; e isto, não tanto pelo interesse que os beneficiários desta distribuição possam ter na riqueza em si (há um limite para o número de jactos privados que um bilionário possa desejar) mas muito mais pelo poder político - poder sobre a vida dos outros - que a riqueza extrema e a desigualdade extrema conferem. Não são os mercados, são os cartéis; não é a riqueza, é o domínio feudal.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Querem a confiança de quem? (Versão actualizada)

Mercado do Bolhão, Porto
A coisa começou muito de mansinho, e com a aprovação generalizada dos portugueses, quando Manuela Ferreira Leite e revogou retroactivamente  as condições de aposentação dos professores. Bem sei que ela argumentou que a medida não era retroactiva, mas se não o era, pareceu; e nestes casos basta o parecer para começar a minar o Princípio da Confiança - que não é uma chinesice de juristas, mas a trave-mestra do Estado de Direito.

A isto seguiram-se violações cada vez mais graves e mais visíveis do Princípio da Confiança e da não retroactividade. Baixaram-se salários - e selectivamente, para mais - tentou-se menorizar o Tribunal Constitucional e defraudar a sua autoridade, retiraram-se direitos consagrados na lei - adquiridos, pois claro! - e, pior que tudo, retira-se a confiança de toda uma população num futuro, qualquer que ele seja.

Emprego estável? Não pode ser, porque o que é preciso é "flexibilidade" e "o emprego para a vida é uma coisa do passado", só desejada por aqueles seres inferiores que são "avessos à mudança". Perspectivas de rendimento crescente? Nem pensar: "a antiguidade não pode ser um posto" e a única coisa que conta é o "mérito", medido não se sabe como mas minuto a minuto. Carreira profissional? Só para quem queira e possa andar a saltar de empresa para empresa, de cidade em cidade, de país em país, à cata de salários cada vez melhores que se revelam, não poucas vezes, cada vez piores. Ter os filhos que se deseja? Mas como, se cada filho representa um compromisso a décadas e o próprio contrato social é a meses?

Sendo assim, cabe perguntar aos nossos economistas, aos nossos governantes, aos nossos filósofos morais, aos nossos polítólogos, aos nossos jornalistas: que confiança é essa que é tão necessário merecer? Queremos a confiança de quem?

Queremos preservar a confiança dos mercados, respondem os sacerdotes do senso comum em coro com os ideólogos do regime.

Mas esquecem-se que os mercados somos nós: os consumidores, os trabalhadores, os depositantes, os contribuintes, os empresários; e a nossa confiança já a perderam há muito tempo. Não a perderam só porque falharam em todas as previsões financeiras que fizeram, mas também porque a corrupção aumentou, as desigualdades se aprofundaram, a qualidade dos nossos decisores se degradou, o espectáculo político se tornou cada vez mais sórdido, as classes profissionais - tão necessárias à construção de qualquer futuro viável - foram enxovalhadas, a natalidade diminuiu, os jovens qualificados estão a emigrar, e nada disto inspira confiança.

E há os mercados externos, igualmente constituídos por pessoas de carne e osso, trabalhadores, aforradores, investidores, empresas - mercados estes cujo comportamento, tal como o do mercado interno, não pode ser previsto com exactidão mas que também veem e leem notícias sobre o que se passa em Portugal. Notícias que não lhes inspiram grande confiança, como a não inspiram aos portugueses. Tal como os portugueses, olham muito mais para o desempenho visível da economia real e das instituições sociais do que para os números, sempre manipuláveis, dos equilíbrios financeiros.

Há ainda os "mercados financeiros", que supostamente só olham para os equilíbrios contabilísticos mas desviam
da economia real os olhos pudibundos. Por mim, duvido que não a espreitem pelo menos pelo canto do olho.

Há finalmente (mas estes não fazem parte doutros mercados que não sejam o das ideias) os fazedores de opinião, os economistas de todo o mundo que têm repetidamente afirmado que as políticas austeritárias não funcionam e apresentam o exemplo de Portugal como prova disto. Não é tampouco a confiança destes que os nossos decisores políticos esperam merecer.

Querem manter, então, a confiança de quem? De um grupo relativamente pequeno de pessoas e instituições a que abusivamente chamam "Mercados". Este grupo é constituído por três agências de rating, uns quantos grandes bancos internacionais, as direcções de uns tantos partidos das direitas europeias, o BCE, duas ou três burocracias da UE e o suserano alemão.

Não são os mercados, é um cartel. É a confiança desse cartel que "é preciso manter". Mas estão rotundamente enganados: ao contrário do que nos dizem, o que é realmente preciso é retirar de vez a confiança a esse cartel.



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