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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Mensagem à Ministra da Justiça da Suécia

To:
The Ministry of Justice, Sweden


Dear Beatrice, we all know what is really going on, so I will keep it short. If Julian Assange is extradited to the USA from your country, I will never again in my life buy a product from Swedish companies or set foot in Sweden in a business or tourism capacity, and I will ask my friends and relatives to do the same.

Best regards,

(assinatura)




Este e-mail está a ser enviado de todo o mundo para a Ministra da Justiça da Suécia  (beatrice.ask@justice.ministry.se). Traduzo o texto:

Cara Beatrice, todos sabemos o que se está realmente a passar, por isso vou ser breve. Se Julian Assange for extraditado da Suécia para os EUA, nunca mais comprarei qualquer produto duma empresa sueca nem porei os pés na Suécia em turismo nem em trabalho, e pedirei a todos os meus familiares e amigos que façam o mesmo.

Os meus cumprimentos,

(assinatura)

domingo, 12 de dezembro de 2010

Como José Sócrates enganou a OCDE, ou: afinal este Sócrates também é grego

Ver um burlão burlado não é coisa que cause piedade ou terror. A OCDE pode fazer as avaliações que quiser pelos critérios que entender; o que não pode é fazer passar por técnicos critérios que são políticos - por mais rotineira que esta burla se tenha tornado em todos os debates, a começar pelo económico. Escrevi sobre isto na mensagem anterior: é tempo de passar adiante.

José Sócrates usou de vários truques para falsear os resultados do do relatório PISA. Sobre alguns deles, já não preciso de escrever: Octávio V. Gonçalves desmontou-os no seu blogue melhor do que eu o faria. Mas quero fazer referência a mais um: varrer o lixo para debaixo do tapete. Conseguiu isto criando um ghetto - os CEF - onde escondeu os piores alunos,  de modo a que no ensino geral os "piores" de 2009 correspondessem aos médios de 2006. Brilhante, não é?

Só não sei se a OCDE se deixou enganar voluntária ou involuntariamente. Nem isto interessa muito: como comecei por escrever, o espectáculo do burlão burlado não impressiona ninguém.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Eu também sou negativista e maledicente

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (económico, note-se, e não educativo, como disse, talvez por lapso freudiano, uma jornalista da RTP) publicou um relatório sobre os resultados que os europeus de quinze anos obtiveram numa bateria de testes padronizada. De acordo com este relatório, os jovens portugueses atingiram finalmente a média dos países integrantes da organização. José Sócrates embandeirou em arco: vejam os resultados das nossas políticas educativas! Os nossos jovens sabem agora muito mais!

Perdoem-me a falta de entusiasmo, mas do relatório não é possível concluir, nem que as políticas educativas deste governo levaram a estes resultados, nem que os jovens sabem mais.

Passemos por cima do óbvio, que é o factor tempo: é extremamente improvável que uma política iniciada em 2005 tivesse efeitos tão dramáticos já em 2009 (ano a que se refere o relatório); e é absolutamente impossível que políticas seguidas em 2010 tivessem efeitos retroactivos a esse ano, como alegou hoje José Sócrates no Parlamento. Passemos antes à questão, muito mais importante, da idoneidade do relatório e da isenção de quem o produziu.

A OCDE é uma organização politico-económica. Tem uma agenda politico-económica que se baseia em pressupostos ideológicos bem definidos que não podem deixar de ser tidos em conta. A ideia de que as suas conclusões são puramente técnicas, e portanto indiscutíveis, é uma fraude - uma fraude já nossa velha conhecida, de resto, pelo papel central que tem desempenhado no debate económico. O que a OCDE avalia é, na educação como em muitas outras áreas, a conformidade das opções políticas dos governos com as suas próprias opções políticas.

Subordinar a educação à economia não é uma opção técnica: é política. Subordiná-la a uma concepção particular da economia, favorável a um pequeno grupo social e desfavorável à maioria dos cidadãos, é política de classe.

É por opção política que se desvaloriza o ensino das Humanidades - da História, da Filosofia, das Artes, da cultura clássica - a favor dum utilitarismo imediatista e cego. É por opção política que se desvaloriza o texto literário a favor de formas de expressão mais úteis no curtíssimo prazo mas completamente estéreis quando o prazo é a duração duma vida.

A perspectiva adequada para avaliar a idoneidade do relatório PISA não é técnica, mas sim política; mas, mesmo do ponto de vista técnico, é já perceptível uma que os professores de todo o mundo conhecem bem e tentam evitar: a de trabalhar para o exame em vez de trabalhar para a matéria. Em vez de se ensinar Inglês, Química, Biologia ou História, ensinam-se os alunos a fazer exames de Inglês, Química, Biologia e História. Qualquer professor digno deste nome sabe que isto é um erro, mas José Sócrates não sabe.

E desta ignorância nasce a intenção que anunciou hoje durante o debate parlamentar: reforçar o ensino da matemática, da leitura e das ciências. Ou seja, pôr toda a gente a trabalhar para o PISA.
Este trabalho levará, sem dúvida, a que os conclusões de futuros relatórios sejam ainda mais brilhantes; mas não impedirá que este brilho continue a ser de pechisbeque.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Wikileaks

If they think Wikileaks is bad, I can tell you there's a lot worse coming..

(Adaptação duma frase de Dave Evans dos U2, proferida em Agosto do ano 2000 em referência ao Napster).

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

D. Sebastião


Emerge devagar do nevoeiro

e é já cadáver cinzas ou ainda

ele próprio névoa.

Perdeu o elmo e não possui

tigela de barbeiro que o figure

nem Sancho nem lança que lhe lavrem

a loucura, e a cubram e fecundem

e a façam dar fruto.



.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Tive pena de Medina Carreira

Nunca vejo o "Prós e Contras". Não é que tenha alguma coisa contra este programa; é por pura distracção. Antes do "Prós e Contras" há um concurso; quando este começa desligo o televisor e depois não me lembro de o ligar outra vez.

Assim se explica que escreva com tanto atraso sobre a mais recente intervenção de Medina Carreira no programa, do qual só muito mais tarde vi, na Web, a primeira parte. Não me deu pena, antes me fez sorrir, ouvi-lo dizer que o keynesianismo é uma teoria particularista, de conjuntura, porque esta é precisamente a tese simétrica daquela que Keynes enunciou e demonstrou sobre a economia clássica. Deu-me pena, isso sim, vê-lo puxar duas vezes dos seus galões de democrata e de estudioso, porque isto é o mais baixo a que um intelectual pode descer. É o último recurso dos acossados e dos que vivem num mundo que já não é o deles. 

Uma destas vezes foi quando lhe foi apontado o carácter anti-democrático das políticas económicas que defende. Em vez de considerar objectivamente esta acusação - explicando, por exemplo, o que pode haver de democrático em tirar o poder de decisão ao eleitorado português, supostamente soberano, para o entregar a entidades, nacionais ou estrangeiras, que não respondem perante ele - preferiu tirar da gaveta os galões anti-fascistas que estavam lá a ganhar verdete há trinta e seis anos.

A outra, mais grave, foi quando puxou dos galões académicos em abono da sua convicção de que o Estado Social é insustentável. Isto faz pena porque puxar dos galões é em si mesmo patético; e faz mais pena ainda porque custa muito ver alguém desperdiçar anos de honesto estudo para chegar a uma conclusão que vale zero. Não duvido de que os cálculos de Medina Carreira fossem rigorosíssimos, como são por vezes os dos astrólogos, mas já começa a ser óbvio que a conclusão é treta; e os eleitorados europeus estão a dar-se conta disto, como mostraram os manifestantes irlandeses contra a austeridade com o slogan "We are the people, we have the vote".

No caso dos astrólogos, as conclusões são treta porque partem de premissas erradas; no caso de Medina Carreira e dos economistas que estudaram pela mesma cartilha, porque partem das perguntas erradas.

Medina Carreira quis saber se é possível manter por muito tempo o Estado Social. Fartou-se de estudar e concluiu que não. E de facto não é, se assumirmos que todas as outras variáveis, incluindo as ideológicas e as políticas, se manterão constantes. Destas variáveis, a que pesa mais, por larguíssima margem, é a presença no sistema económico português duma das oligarquias mais predadoras e mais corruptas da Europa (e das mais incompetentes, porque depender de salários baixos é o cúmulo da incompetência). Uma oligarquia que se habituou, já desde o século dezanove, não só a não produzir riqueza, como a travar a sua produção; a socializar os custos e os riscos privatizando os proveitos; a viver mais de rendas que de lucros; a enriquecer obscenamente com os impostos dos portugueses; a receber do Estado toda a espécie de monopólios, concedendo-lhe em troca um precioso monopólio sobre a ascensão social.

A pergunta certa não é se é ou não possível sustentar o Estado Social. A pergunta certa, ou a principal das perguntas certas, é se é possível sustentar ao mesmo tempo o Estado Social e esta oligarquia. Se Medina Carreira a tivesse estudado em paralelo com o Estado Social, teria talvez concluído por esta impossibilidade; e esta conclusão teria mérito porque não excluiria do cálculo a variável decisiva.

O mundo mudou em 2008. A oligarquia já vinha de muito antes, mas muitos de nós passávamos por ela sem a ver, como os habitantes de Sevilha pela estátua do Comendador. Mas agora o Comendador de Pedra está presente no debate político-económico como no banquete de Don Giovanni. É impossível que os economistas do regime não o vejam. Só é possível, e à custa de muito esforço, que finjam não o ver.

No caso de Medina Carreira, este fingimento é patético; no caso de outros, menos honestos, é simplesmente criminoso.