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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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domingo, 7 de dezembro de 2008

Escola Pública ou Escola Republicana?

Foi com enorme satisfação que vi, nas manifestações e nas greves dos professores, a profusão de cartazes reivindicando a defesa da Escola Pública. E foi com igual satisfação que vi alguns analistas políticos mais perspicazes começarem a aperceber-se que o conflito entre os professores e o Ministério é cada vez menos de ordem laboral e cada vez mais de ordem política.

Nos próximos meses assistiremos a negociações entre o Ministério e os Sindicatos. O que vai estar em cima da mesa vai ser o Estatuto da Carreira Docente, o Modelo de Avaliação e mais um ou outro afloramento do iceberg que calhe estar na ordem do dia. Sobre estes assuntos, cada uma das partes fará muitas cedências, poucas cedências ou nenhumas cedências conforme o poder negocial que tenha na altura. Nada disto é importante.

O que não estará em cima da mesa é a parte submersa do iceberg. E os professores sabem disso. E porque os professores sabem disso, tanto o Ministério, como os sindicatos estão em pânico. Sentados à volta da mesa, não se ouvirão uns aos outros: terão os ouvidos apurados só para os primeiros sinais de que o Comendador de Pedra se prepara para entrar na sala.

Os gatos saíram do saco e ninguém os vai conseguir meter lá outra vez. Os professores portugueses politizaram-se e ninguém os vai despolitizar. Perceberam que estão frente a frente duas concepções de escolas incompatíveis nos seus pressupostos, na sua concepção do humano e acima de tudo nos interesses que servem. De um lado, aquilo que apareceu referido nos cartazes como a Escola Pública e a que os nossos colegas franceses chamam, talvez com mais propriedade, a Escola Republicana, que se define pelo acesso de todos ao melhor que a nossa civilização oferece. Do outro lado, o inimigo: a escola tecno-burocrata, para a qual não há «civilizações», mas sim «economias», e cujo projecto consiste em ensinar uma pequena elite económica, ficando reservado a todos os outros aquilo a que Maria de Lurdes Rodrigues chama «qualificação».

A luta entre os professores o Ministério da Educação é um conflito de culturas e civilizações. Se permitirmos que o Ministério vença, os nossos netos serão selvagens.

12 comentários:

Anónimo disse...

Completamente de acordo consigo. É exactamente isso que se passa. Os Professores cansaram-se de assistir, de forma mais ou menos abúlica, à transformação da Escola numa palhaçada.
É, de facto, pelo meu neto e pelos filhos e netos de TODOS os portugueses que continuo a lutar, apesar de já aposentada.

Amélia disse...

Excelente análise .Eu não saberia estar mais de acordo.e,sobretudo,
dizê-lo tão bem como o amigo disse.

Anónimo disse...

Na mouche, JLSarmento.

O que antevi há uns dois anos e meio, e o verbalizei a muitos, que não entenderam que seria uma questão óbvia.
Em 74 foram os capitães soldados e em 2007/8/9 seriam os capitães professores.
A Democracia está em causa. O ataque vil e continuado ao professorado iria, inevitavelmente, resultar em revolta e em conscientização política dos professores, até por simples defesa pessoal e profissional.

Um post belíssimo que irei divulgar (muito).

Ana

teodoro disse...

Não são só os professores mas os portugueses todos que têm de escolher entre uma escola promotora de mobilidade social e um país medieval de castas
Teodoro

touaki disse...

Que sejas de novo benvindo ao terreiro da luta!
Andas tipo cometa (nada de confusões)! Apareces duas vezes e depois somes. Mas quando voltas é em cheio!
Abraço

Anónimo disse...

Sabe tão bem ouvir falar republicano em Portugal! Parabéns! Luis Mateus

António da Cunha Duarte Justo disse...

De acordo!

Quanto ao termo republicana discordaria, pela sua conotação!

Antonio Justo

João Sá disse...

Parabéns. É um belo texto. Uma análise lúcida e que toca na essência da questão.

As Joaninhas - 4ºB disse...

Concordo plenamente consigo. Nós professores sabemos que o facilitismo da escola pública actual só nos levará para uma realidade onde a ignorância diplomada, juntamente com a ausência de referências morais tirarão todas as hipóteses futuras aos nossos jovens.
Os nosssos governantes terão dado conta disto? Claro que sim ou não teriam colocado os seus educandos a estudar em colégios particulares que se pautam pela disciplina, rigor e exigência, coisas que a escola pública tem sido impedida de implementar.

Anónimo disse...

Caro António Duarte, eu aqui utilizo a palavra «republicana» no sentido original do termo, o de «res publica». Neste sentido da palavra, a Suécia, por exemplo, é uma República apesar de ser, quanto à identidade do Soberano formal, uma Monarquia.

Diria mesmo que neste sentido todas as monarquias europeias são repúblicas, porque em nenhuma delas se nega a soberania popular. Já as monarquias do Médio Oriente não são repúblicas, porque aí o Estado continua a ser o Rei....

Por isso, fique descansado: eu não propugno uma Escola anti-monárquica, nem creio sequer que essa seja uma questão que interesse à Escola: propugno simplesmente uma Escola ao serviço da «Res Publica».

E é precisamente esta escola que os governos andam há trinta anos a tentar destruir em Portugal. Visto isto, e visto também, por exemplo, a maneira como o actual governo tem agido ao serviço duma reduzida oligarquia em detrimento da «Res Publica», chego a perguntar-me se José Sócrates não poderia ser julgado e condenado por crime de Alta Traição...

Anónimo disse...

411, tanto disparate junto.

Anónimo disse...

Não me parece que o termo selvagens esteja bem aplicado aos nossos netos.
Os selvagens respeitam a hierarquia, respeitam o mais velho e conseguem distinguir os seus limites.