Imaginemos, forçando um pouco, que José Sócrates era um bom primeiro ministro. Imaginemos que todas as suas políticas eram acertadas, ou pelo menos uma boa parte delas. Imaginemos que governava para o bem comum e não para o bem de uns poucos. Mesmo assim, todo esse bom trabalho teria sido desfeito pelo mau exemplo que deu ao chegar atrasado ao CCB. Num país como Portugal, em que a falta de pontualidade é um vício generalizado (que nos fica caríssimo em termos de riqueza e de qualidade de vida), um responsável político não pode, simplesmente não pode, dar exemplos destes. Seja qual for a desculpa.
O remédio para a falta de pontualidade é simples: nunca esperar por ninguém. Imaginemos que o director do CCB tinha decidido dar início ao espectáculo à hora marcada. José Sócrates ficaria perante uma escolha: ou retaliava, ou aproveitava para o elogiar em público, apresentando-o como exemplo do "Portugal moderno" que a sua propaganda nos vende. A hubris aconselharia a primeira alternativa, a inteligência a segunda.
Desconfio que no caso de José Sócrates prevaleceria a hubris. Mas a hubris, como é sabido, atrai a vingança dos deuses.
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