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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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sábado, 21 de março de 2009

Modernidades

Ontem ia na rua e reparei numa coisa para que tenho andado a olhar sem ver: há cada vez mais táxis pretos e verdes.

Lembrei-me que os táxis passaram a ser de cor creme quando Cavaco Silva era Primeiro Ministro. Com carácter obrigatório, note-se: só mais tarde é que a obrigatoriedade foi revogada e os taxistas que quisessem puderam voltar a pintar os seus carros de preto e verde.

Eu não gostei da inovação. Os táxis pretos e verdes eram uma das coisas que me faziam sentir em casa quando aterrava em em Portugal. Mas o que me sobretudo me confundiu foi o argumento usado: os táxis tinham que ser creme por uma questão de modernidade.

O que é que a modernidade tinha a ver com a cor dos carros? Se me falassem em motores menos poluentes, em ABS, em controlo de tracção, em melhor formação e melhor protecção para os taxistas, isso sim, seria moderno. Mas a cor?!

José Sócrates, que além de ser cavaco é yuppie, tem da modernidade uma noção ainda mais estapafúrdia que Cavaco Silva (que nos anos que  entretanto passaram já se cultivou um pouco e aparenta ter lido alguns livros sem ser de Economia). Para José Sócrates, a modernidade consiste em coisas como pôr computadores em salas de aula sem tomadas eléctricas e em instalar equipamentos sem assegurar previamente a sua manutenção. Consiste em ouvir embasbacado todo e qualquer guru (de preferência americano) que tenha escrito um livro de auto-ajuda para empresários e vendido muitos exemplares. Consiste em assumir que só há um  futuro possível e ele próprio é o dono dele - em condomínio com o que há de mais medíocre na política europeia e de mais corrupto no empresariado português. Consiste naquilo a que o velho Montaigne chamava nouvelleté: a mudança pela mudança, sem objectivo, conteúdo, nem sentido. Como os táxis cor de creme.

Em suma: a modernidade, para Sócrates, é simplesmente o que "está a dar".

Mas, para seu mal, "não se muda já como soía". O que estava a dar já não dá. A era Reagan-Thatcher acabou. Sócrates pode ainda não se ter dado conta disto, mas os seus mentores e patrões já o entenderam - e estão em pânico. E assim, a sua modernidade transformou-se naquilo em que se transformam rapidamente todas as modernidades insufláveis: hoje é uma velharia. 

1 comentário:

Grão-Titular disse...

Se fizermos uma analogia entre a cor dos táxis e tantas outras coisas, creio que verificaremos que, a maior parte das vezes, se muda para pior... Dei-me conta disto ao fazer uma reflexão semelhante, sobre aquelas coisas que não vemos apesar de nos entrarem pelos olhos dentro, e que, no caso, são os cadernos escolares...
Confesso que no meu tempo de estudante, e daí me ficou sempre o critério de escolha, as suas capas eram sóbrias, serenas, sérias... E agora? Estão inundadas das mais perfeitas e berrantes palermices, quando não mesmo obscenas. Estão-se a misturar as coisas na cabeça das crianças. Como poderá ser séria uma actividade exercida sobre algo cuja capa, e por vezes as próprias páginas estão pixadas, com imagens que são tudo menos sérias?