Blogue sobre livros, discos, revistas e tudo o mais de que me apeteça escrever...
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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.
..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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domingo, 29 de março de 2009
O que conta é ser importante
O atraso de Sócrates
quinta-feira, 26 de março de 2009
É sonso, ou é pulha?
Não sei como é que Louçã reagiu a esta expressão, e não me compete defendê-lo. Pelo que me toca, se algum José Sócrates dissesse, ou insinuasse sequer, que eu tinha "inveja" dum fulano como Armando Vara, exigiria desculpas públicas; e se elas não me fossem dadas, pregaria dois estalos na cara do atrevido.
Entendamo-nos: Sócrates acusou Louçã de exprimir inveja, sua ou de outrem, em relação a um corrupto. Isto é um insulto pessoal grave e gratuito. E Armando Vara é corrupto: pode não o ser pela definição legal do termo, que é escandalosamente restritiva; mas é-o na substância, visto que converteu poder político em poder económico. Ou haverá alguém tão ingénuo que ache possível, numa sociedade de castas como é a portuguesa, que alguém, partindo de onde Armando Vara partiu, chegasse aonde ele chegou sem passar pela política?
Já escrevi neste blogue que não sei se José Sócrates é corrupto. Sei, sim, que é indulgente com a corrupção, que a facilita por sistema e que não se indigna com ela. E agora fiquei a saber que chama invejoso a quem se indigna.
Crime, digo eu
Pela minha experiência e das pessoas que conheço, sei que mais de metade dos nossos filhos, genros e noras - jovens entre os 25 e os trinta e cinco anos, na esmagadora maioria altamente qualificados - estão a estudar ou a trabalhar noutros países; e fico a pensar se a proporção que encontro neste pequeno universo é ou não generalizável. Em todo o caso, mesmo que a nível nacional a proporção não atinja os 50% que atinge na minha experiência, uma certeza tenho: são muitos. São demais.
Sou professor do ensino secundário no topo da carreira: não é de admirar que uma grande parte das minhas relações sociais consista noutros professores de idade semelhante à minha, muitos deles já aposentados ou a pensar na apossentação, nem que muitos tenham filhos da idade aproximada do meu. Destas pessoas, só uma tem uma filha professora. Os pais fogem da escola; os filhos fogem da profissão dos pais e metade deles fogem de Portugal. É este o padrão que eu vejo.
Não seria interessante se alguma estação de televisão fizesse um documentário sobre os professores que se estão a aposentar prematuramente e, em paralelo, sobre os filhos destes professores - a sua visão do mundo, as suas qualificações, as suas profissões, as suas expectativas de vida e de carreira? Quase garanto que esta reportagem, se fosse bem feita, seria daquelas que dão prémios.
segunda-feira, 23 de março de 2009
Não há alternativa?
Mas, mesmo sem donos, há sempre futuro. Há sempre alternativa. E haverá sempre alguém para a propor.
José Mourinho para Ministro da Educação.
domingo, 22 de março de 2009
Adenda
Democracia radical
sábado, 21 de março de 2009
Modernidades
sexta-feira, 20 de março de 2009
Promessas eleitorais
terça-feira, 17 de março de 2009
Catherine Malfitano no papel de Salomé
domingo, 15 de março de 2009
Será José Sócrates corrupto?
Tiro no pé
quinta-feira, 12 de março de 2009
Panache
Eu não quero
quarta-feira, 11 de março de 2009
Novo blogue
Infelizmente não é só em Portugal
domingo, 8 de março de 2009
Reuniões com pais e alunos: argumentário
1. O principal direito e o principal dever dos professores é ensinar; o principal direito dos alunos é aprender, e o seu principal dever é deixar que os outros alunos aprendam. Estes direitos e estes deveres prevalecem sobre quaisquer outras actividades.
2. Todos os alunos têm direito a uma escola disciplinada e segura. A indisciplina é sempre uma agressão porque faz sempre vítimas. Infelizmente, não perece ser este o entendimento de quem nos governa.
3. A escola prepara para a vida. Como o trabalho faz parte da vida, a escola também prepara para o trabalho. Um aluno preparado para a vida está preparado para o trabalho, ou a um passo disso; mas um aluno preparado só para o trabalho nem para o trabalho está preparado.
4. Entre pais, alunos e professores, a responsabilidade maior, e a tarefa mais difícil, é a dos pais. Nem todos os pais estão em condições de apoiar os seus filhos no estudo, mas este não é o pedido principal que a escola lhes faz. O pedido principal que a escola faz aos pais é que se façam respeitar pelos filhos, ensinando-os assim a respeitar os professores, a autoridade e os adultos em geral.
5. A escola melhorou muito nos últimos 30 anos porque se abriu a toda a gente.
6. A escola piorou muito nos últimos 30 anos porque os políticos as obrigaram a adoptar teorias pedagógicas que não funcionam.
7. Os três grandes males da escola são a burocracia asfixiante, as teorias pedagógicas sem sentido e o incivismo generalizado. Contra o primeiro mal, luta-se através do voto. Contra o segundo, luta-se lendo os programas e os manuais; no caso de não entenderem o que está escrito nos programas, devem exigir às autoridades educativas que publiquem programas que façam sentido, que toda a gente entenda e com os quais a generalidade das pessoas esteja de acordo: os pais têm o direito de saber o que está a ser ensinado aos filhos.
Contra o incivismo, devem os pais adoptar uma política de tolerância zero em relação às agressões, insultos ou ameaças de que os filhos sejam vítimas, apresentando queixa tanto na escola como na polícia e exigindo punições a sério para os culpados. Os professores devem adoptar a mesma política em relação às agressões, insultos ou ameaças de que sejam vítimas os seus alunos ou eles próprios.
8. A agressão, o insulto e o palavrão não têm lugar na escola: nem de professor para aluno, nem de aluno para professor, nem de aluno para aluno. Um governo que desdramatize estas situações e tire aos professores e funcionários a autoridade necessária para as reprimir está a fazer uma má política educativa, da qual as vítimas principais são os alunos.
9. Os alunos mal comportados também têm direitos. Estes direitos não prevalecem sobre os direitos dos outros alunos, que o professor deve ter meios para defender.
10. É possível ganhar dinheiro sem nunca ter aprendido Literatura, História, Matemática, Lógica, Música e Filosofia. Também se pode ganhar dinheiro tendo aprendido isso tudo, e até é muito provável que se ganhe mais. Mas, mesmo sem ganhar mais, a vida de quem aprendeu é mais digna de ser vivida.
11. Onde há um professor e um aluno, mesmo debaixo duma árvore, há uma escola. Tudo o resto pode ser muito útil e conveniente, mas é dispensável. Na categoria das coisas dispensáveis está incluído o Ministério da Educação. Os países europeus onde o ensino é melhor são aqueles onde não há Ministério da Educação.
12. A maioria dos pais (infelizmente, nem todos) quer o bem dos seus filhos. A maioria dos professores (infelizmente, nem todos) quer o bem dos seus alunos. Os pais e os professores estão por natureza do mesmo lado. Os governos e os partidos políticos nunca se sabe ao serviço de quem estão.
Avaliação do Ministério
O Ministério da Educação divulgou hoje um ‘A a Z da Educação', onde se faz um ponto de situação do trabalho feito e dos resultados alcançados nesta legislatura. No texto de abertura, cuja versão integral é aqui disponibilizada, a ministra Maria de Lurdes Rodrigues salienta que colocar a escola ao serviço dos alunos e das suas famílias e reduzir as desigualdades no acesso à formação e ao conhecimento foram os imperativos deste Governo.
Acrescenta ainda que a extensão da escolaridade obrigatória até aos 18 anos e a generalização do pré-escolar gratuito para todas as crianças de 5 anos marcarão, de forma estruturante, o esforço desta legislatura pela melhoria da qualificação dos portugueses e pela elevação da equidade educativa.
Texto de abertura do ‘A a Z da Educação' pela ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues
Aumentar os níveis de formação e qualificação da população portuguesa, através de uma política integrada de valorização da escola pública, foi a prioridade definida para a presente legislatura em matéria de Educação.
Regista-se a falta de ambição deste objectivo, que se fica pela formação e qualificação sem se referir ao conhecimento e à valorização cultural da população. Esta omissão é tanto mais grave quanto é certo que a escola é o único instrumento de que uma sociedade dispõe para a conservação e transmissão entre gerações do seu património civilizacional. Atendo-nos apenas, porém, ao objectivo declarado, verifica-se que NÃO FOI ATINGIDO, a não ser através duma aparência cuidadosamente encenada, que todos os que trabalham ou estudam nas escolas públicas sabem, por experiência própria, ser mentira.
Por isso, colocar a escola ao serviço dos alunos e das suas famílias e reduzir as desigualdades no acesso à formação e ao conhecimento foram os imperativos deste Governo.
Avaliação: OBJECTIVO NÃO ATINGIDO. Pelo contrário, a Escola Pública é hoje menos eficaz como instrumento de ascensão social (principal objectivo dos alunos e das famílias) do que era no início da legislatura. As desigualdades não foram reduzidas, antes aumentaram, uma vez que a diminuição dos níveis de exigência prejudica sobretudo os alunos que não têm outro acesso ao conhecimento que não seja a escola pública.
Ao longo destes quatro anos de mandato o Ministério da Educação orientou a política educativa em torno dos seguintes objectivos:
• Promover o sucesso educativo, colocando as escolas ao serviço das aprendizagens dos alunos...
Avaliação: este objectivo foi bem encenado em termos de marketing político, mas NÃO FOI ATINGIDO em termos reais; pelo contrário, a redução dos níveis de exigência e da disciplina levou a uma degradação significativa das aprendizagens. (Nota: como é que se orienta uma coisa "em torno" de outra?)
• Modernizar as escolas, criando melhores condições de trabalho a professores e alunos...
Avaliação: a "modernização" referida consistiu na colocação altamente mediatizada de alguns equipamentos informáticos, de cuja manutenção não se cuidou por não ser rentável em termos de propaganda política. Não se cuidou de aquecer as escolas, de as tornar mais atraentes e confortáveis, de criar espaços de trabalho para os professores nem de dotar as salas de aula dos equipamentos mais básicos de funcionamento, como torneiras e pias, campainhas para chamar funcionários, dicionários, atlas e obras de referência, armários para mapas, etc. Avaliação: OBJECTIVO NÃO ATINGIDO.
• Enraizar a cultura e a prática de responsabilização, de avaliação e de prestação de contas a todo o sistema de ensino...
Avaliação: OBJECTIVO NÃO ATINGIDO. No que respeita os professores, instituiu-se um sistema de desavaliação que contempla tudo o que é acessório no seu desempenho mas nem sequer aborda as funções definidoras e essenciais da profissão; no que respeita os alunos, os pais e a tutela, assistiu-se à sua desresponsabilização crescente, a ponto de as instruções dadas pela tutela serem muitas vezes anónimas, fazendo cair a responsabilidade pelo seu cumprimento sobre quem, nas escolas, cair na ingenuidade de as subscrever. O objectivo não declarado parece ser o seguinte: quem decide não é responsabilizado e quem é responsabilizado não decide.
• Abrir a escola ao exterior, reforçar as lideranças, promover a autonomia das escolas e melhorar o seu funcionamento, pelo reforço da participação das famílias e das comunidades na direcção estratégica das escolas...
Avaliação: no que respeita o reforço das lideranças e a participação das comunidades, a consecução do objectivo é INAVALIÁVEL, uma vez que nem o conceito de "liderança", nem o de "comunidade" aparecem explicitados; podem, assim, ser conceitos vazios, importados, um do "empresarialês" em voga nos anos 80, e o outro das derivas identitárias em que se degradou o ideal de democracia participativa. Também se deve considerar INAVALIÁVEL a consecução do objectivo respeitante à participação das famílias, uma vez que nunca é explicitado se se trata, escola a escola, das famílias dos alunos que a frequentam, ou antes de lóbis que não estão no terreno, dos quais se ignora de quem dependem e que famílias representam.
No que respeita a promoção da autonomia das escolas, o objectivo não só NÃO FOI ATINGIDO, como se caminhou no sentido oposto por via duma legislação cada vez mais profusa, caótica, ambígua, tecnicamente deficiente e pormenorizada até ao delírio. O funcionamento das escolas não só não melhorou, como piorou, devido à guerra de agressão empreendida pelo Ministério contra os professores e à tentativa de os sujeitar, enquanto funcionários, a uma disciplina que afronta em muitos casos a deontologia implícita na sua profissão. Objectivo NÃO ATINGIDO.
Em todo o caso, é absurdo pensar que os professores, os pais, os alunos, os funcionários e a "comunidade" (que não se sabe o que é) possam participar na direcção estratégica das escolas quando a tutela se reserva a sua direcção táctica até ao mais ínfimo pormenor.
• Alargar as oportunidades de aprendizagem ao longo da vida...
Avaliação: OBJECTIVO NÃO ATINGIDO. À escola generalista compete proporcionar conhecimentos iniciais e fornecer instrumentos conceptuais que permitam futuras aprendizagens, para as quais é necessário fundar escolas especializadas. A tentativa de entregar ambas as tarefas à escola pública generalista leva a que ela não cumpra nem uma função, nem outra. Nos programas estabelecidos para fingir que se atingiu este objectivo ninguém aprende nada de útil nem melhora a sua empregabilidade: tudo o que acontece é que o governo consegue uma baixa espúria nas estatísticas do desemprego e um aumento, igualmente espúrio, nas estatísticas de escolarização.
Das diversas medidas tomadas, destacam-se, pela sua relevância e pelo seu impacto, as seguintes:
• Uma escola a tempo inteiro, com oferta gratuita e generalizada de actividades de enriquecimento curricular para todas as crianças do 1.º ciclo...
Avaliação: OBJECTIVO INFELIZMENTE ATINGIDO. Em vez de se questionar um sistema económico absurdo e esclavagista que tira aos pais o tempo para serem pais, cortam-se os laços de que as crianças precisam para se desenvolverem como seres humanos. A consecução deste objectivo transformará as crianças de hoje nos adultos doentes de amanhã.
• A diversificação da oferta formativa de nível básico e secundário e a criação de cursos profissionais e de cursos de educação e formação nas escolas públicas, triplicando o número de alunos em cursos profissionais...
Avaliação: OBJECTIVO NÃO ATINGIDO. O que se criou no mundo virtual não compensa o que se destruiu no mundo real.
• O alargamento da Acção Social Escolar, aumentando para mais do dobro o número de alunos abrangidos...
Avaliação: OBJECTIVO ATINGIDO (finalmente!)
• A modernização física e tecnológica das escolas e a generalização do uso de computadores e da Internet nas actividades educativas, objectivo bem visível na aquisição de 310 mil computadores, 9 mil quadros interactivos, 25 mil videoprojectores e no número de alunos por computador, que passou de 16 para 5...
NÃO AVALIÁVEL. Neste ponto são apresentados meios que se confundem com fins. O futuro dirá como serão utilizados estes meios tecnológicos, se a sua manutenção é feita ou não, a rapidez com que se tornarão obsoletos, e qual é a sua eficácia comparada com a de outros meios que as escolas continuam a não ter, menos avançados tecnologicamente, mas porventura mais baratos e eficazes.
• A avaliação interna e externa das escolas, envolvendo mais de 700 escolas...
NÃO AVALIÁVEL. A avaliação das organizações (e, por maioria de razão, das instituições) é um meio e não um fim. Encarada como um fim, torna-se contraproducente e destrutiva, como os factos têm mostrado à evidência. As empresas fazem a avaliação com pinças e com infinitos cuidados para que a emenda não seja pior que o soneto; Maria de Lurdes Rodrigues acha que a pode fazer à marretada.
• Um novo modelo de gestão escolar e a transferência de competências para as escolas e para as autarquias, em curso em todo o país.
Avaliação: o modelo é novo, mas nada garante que seja bom, havendo fundadas razões para temer o contrário. A transferência de competências para as escolas é mentira: o que se está a transferir são só as responsabilidades, segundo o princípio, enunciado acima, de responsabilizar quem não decide ao mesmo tempo que se desresponsabiliza quem decide.
A extensão da escolaridade obrigatória até aos 18 anos e a generalização do pré-escolar gratuito para todas as crianças de 5 anos marcarão, de forma estruturante, o esforço desta legislatura pela melhoria da qualificação dos portugueses e pela elevação da equidade educativa.
NÃO AVALIADO: é um projecto para o futuro e a seu tempo se verá se funcionou. Entretanto, importaria saber o que significa "marcar um esforço de forma estruturante".
As diversas intervenções levadas a cabo em diferentes áreas-chave do sistema educativo concorreram para o cumprimento do objectivo central do Governo, de garantir uma melhoria da qualidade média dos recursos humanos, físicos, organizacionais e curriculares ao dispor da comunidade educativa, independentemente da sua localização geográfica e numa perspectiva de redução das desigualdades escolares.
Avaliação: o que é aqui apresentado como OBJECTIVO CENTRAL do Governo NÃO FOI CUMPRIDO, ainda que parcialmente. No que respeita a melhoria dos recursos físicos das escolas, o Governo interveio apenas sobre o vistoso, o efémero e o acessório, deixando por satisfazer necessidades básicas.Quanto aos recursos curriculares, não interveio, a não ser para criar um sistema virtual que mostra à opinião pública como se duma realidade se tratasse. Quanto aos recursos organizacionais, que já eram péssimos, piorou-os significativamente. Em matéria de recursos humanos, está a expulsar das escolas os melhores professores e a substituí-los por mão de-obra barata e dócil, vinda de universidades de vão de escada (certificadas pelo Governo) a dizer "póssamos" e a escrever "anda-mos".
Mais eficiência na organização das escolas, novas lideranças, escolas mais orientadas para os alunos e para as suas famílias, mais estudantes e melhores resultados, menos abandono e menos insucesso escolar é o que encontramos hoje no nosso sistema educativo.
Avaliação: lamenta-se que em vez de "mais eficiência na organização das escolas" o Ministério não tivesse lutado por mais eficiência no ensino; que, em vez de impor "novas lideranças", o governo não tivesse permitido que as lideranças existentes (afogadas permanentemente na legislação e na quasi-legislação que a tutela produz às toneladas e sem tempo para mais nada do que interpretá-la) funcionassem melhor; que distinguisse entre "mais estudantes" e mais figurantes; que não falsificasse resultados, nem pressionasse os professores a falsificá-los, de modo a poder dizer que são "melhores" quando são, pelo contrário, cada vez piores; que o "menor abandono" não correspondesse a uma política de subornos; e que confessasse aos portugueses o que realmente entende por "sucesso" e "insucesso" escolar, em vez de lhes vender gato por lebre.
Nesse sentido, não posso deixar de dirigir um voto de apreço ao empenho dos professores, das escolas e de autarquias, que têm vindo a fazer um trabalho persistente no combate ao insucesso escolar e ao abandono precoce, com resultados visíveis para milhares de jovens e respectivas famílias, que encontram hoje nas escolas respostas para os seus problemas.
Os professores e as escolas merecem, de facto, um voto de apreço pelo seu empenho, mas esse voto terá que vir dos alunos e da sociedade civil para quem têm trabalhado. Dispensam votos de apreço dum Ministério que nunca passou de um estorvo e contra o qual sempre tiveram que lutar para poderem fazer bem o seu trabalho.
O combate que os professores travam contra o insucesso escolar e o abandono precoce é travado no mundo real. Não tem nada a ver com o combate virtual da tutela; e se ainda hoje algum aluno encontra na escola resposta para os seus problemas, encontra-as apesar do Ministério e não por causa dele.
AVALIAÇÃO GLOBAL: Duma primeira leitura dos objectivos adoptados pelo Governo para a Educação, e dos resultados alegadamente obtidos, ressalta que a escola pública não é vista como uma instituição civilizadora, mas apenas como uma repartição pública posta pelo Estado ao serviço da Economia. Trata-se de "formar" e "qualificar", e nunca de ensinar; tenta-se preparar os alunos para o trabalho, e não para a vida - de onde resulta que nem para o trabalho ficam preparados. O "novo" é fetichizado em detrimento do "bom". A "eficiência", igualmente fetichizada, é vista como algo intransitivo, sem objecto; ou, quando tem objecto, esse objecto é a "organização" - também ela fetichizada e intransitiva.
Avaliemos, porém, este texto nos seus próprios termos, apesar de paupérrimos. Dos vários objectivos educativos estabelecidos pelo Governo para a legislatura que agora finda, só dois foram cumpridos, e um deles é criminoso. Dos restantes, ou não foram cumpridos, ou os resultados foram diametralmente opostos aos objectivos.
Uma discrepância tão radical entre objectivos e resultados não pode ser devida à mera incompetência: ninguém é incompetente a este ponto. Resta, como explicação alternativa, uma agenda oculta: os objectivos reais deste governo em matéria educativa são diferentes dos objectivos declarados, e nalguns casos opostos a eles.
O que se passou nos últimos quatro anos permite já especular com alguma segurança sobre a agenda do governo para a Educação. Trata-se de transformar a escola pública, na melhor das hipóteses, numa fábrica de mão-de-obra barata, acrítica e dócil (por isso se eliminam as humanidades: para que precisa um engenheiro de ler Flaubert?) Ainda na melhor das hipóteses, trata-se de transformá-la num armazém onde os pais deixam os filhos para se dedicarem inteiramente ao emprego, num "Admirável Mundo Novo" em que o trabalho substitui a vida.
Na pior das hipóteses, a escola será uma espécie de antecâmara da prisão: os crimes cometidos dentro dela são mais facilmente abafados que os cometidos na rua, e não contam para as estatísticas.
Este projecto de escola, que está a ser construído há trinta anos, parecia viável na era Reagan-Thatcher; e quando Maria de Lurdes Rodrigues se tornou Ministra da Educação tinha já adquirido os contornos de um facto consumado: faltava apenas subjugar os últimos resistentes e limpar o terreno, tarefa a que a senhora se entregou com entusiasmo e afinco.
Mas a era Reagan-Thatcher acabou, sem que nada o fizesse prever, com o 11 de Março em Madrid e com a eleição de Obama nos EUA. As classes médias, que ainda há dois anos estavam resignadas a uma derrota inevitável, estão hoje ao ataque; bem armadas, e quem sabe, num futuro próximo, se bem dirigidas. A "escola do futuro" de Sócrates e de Maria de Lurdes Rodrigues transformou-se, da noite para o dia, na escola do passado.
Hoje, quem "resiste à mudança" não somos nós: são eles. Tanto a invocaram, e não previram que ela lhes caísse em cima.
quarta-feira, 4 de março de 2009
Paralelismos
terça-feira, 3 de março de 2009
Outras óperas
A propósito da cena final da ópera «Salomé» de Richard Strauss, publicada no blogue The Braganza Mothers, lembrei-me de recomendar aqui dois dos meus DVD's de ópera preferidos.
As representações de «Orfeo ed Euridice» de Gluck a que assisti foram a primeira versão, com o libretto em italiano, em que o papel de Orfeu é normalmente interpretado por um contralto.
No filme feito em 1982 em Glyndebourne e posteriormente publicado em DVD, o papel está entregue a Janet Baker (mezzosoprano), que terminou com este espectáculo a sua carreira operática.
domingo, 1 de março de 2009
Mentiras do Pinócrates (6)
Traduzindo: a única ética que reconhecemos é "o que está a dar."
Mentiras do Pinócrates (5)
Traduzindo: o nosso programa é o dos taxistas e a nossa referência é Salazar.
Mentiras do Pinócrates (4)
Mas atenção às letrinhas pequenas:
Deixaremos passar leis neste sentido quando todos os outros países da UE fizerem o mesmo, ou seja: nunca.
Mentiras do Pinócrates (3)
A bem dizer, esta talvez não seja mentira. A questão é saber: melhor para quem?