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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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sábado, 2 de fevereiro de 2008

Ana Benavente

Confesso que não tenho especial simpatia por Ana Benavente. Ou, para ser franco: confesso que não gosto mesmo nada de Ana Benavente. Considero que Ana Benavente tem graves responsabilidades em pelo menos dois dos três vícios essenciais que deformam o sistema de ensino em Portugal: a burocracia gigantesca, o delírio pedagógico e o incivismo endémico.

Não ignoro que a jusante destes três vícios vêm centenas de outros, decorrentes deles; nem que Ana Benavente, enquanto teve responsabilidades governativas, trabalhou arduamente e lutou denodadamente conta estes; mas de que serve lutar contra efeitos quando se ignoram, ou até se incentivam, as causas?

Nem ignoro que os vícios fundamentais do sistema já estavam instalados quando Ana Benavente entrou em cena, pelo que não a podemos culpar de os ter originado. Mas quando chegou a sua oportunidade deu a cara por eles, e deu-a convictamente: não a podemos absolver duma responsabilidade que ela própria fez questão de assumir.

Porque não gosto dela, causa-me alguma perplexidade vê-la criticar Maria de Lurdes Rodrigues, de quem gosto ainda menos. Ainda se Benavente criticasse Rodrigues pelas más razões... Mas não, critica-a pelas boas: pela burocratização do sistema, pela proletarização dos professores, pelo despotismo autista na acção. Contrariamente ao Paulo Guinote, do Umbigo, não consigo aplicar a este caso a lógica do «inimigo do meu inimigo». Nem mesmo com as reservas que ele põe nem com a relutância que ele declara.

No cenário que Ana Benavente ajudou a criar, quer agora Maria de Lurdes Rodrigues armar um espectáculo de autoridade e rigor, que convence os néscios. Lembra um barão medieval que escolhesse a pedra mais pesada e mais dura para construir, sobre um pântano fétido e mole, a sua fortaleza. É claro que a fortaleza se vai afundar, e tanto mais rapidamente quanto mais pesada e mais dura for a pedra de que é feita. Mas muito antes de o torreão mais alto desaparecer no lodo, largando com um som molhado uma última bolha de gás tóxico, já o último habitante terá fugido, ou morrido com alguma febre maligna.

Seria preciso drenar o pântano. Não contemos para isso com Maria de Lurdes Rodrigues. Nem com Válter Lemos ou Jorge Pedreira. Nem, lamento dizê-lo, com as Anas Benaventes que continuam a pulular pelo Mined.

2 comentários:

Cristina Gomes da Silva disse...

Obrigada pela referência ali ao lado.
Quanto ao teor do seu post, acho que o que está de facto em causa é uma dinâmica instalada que pouco tem a ver com personagens efémeros, como é o caso dos personagens no cenário da educação. Mas, olhe que no terreno, por parte de alguns profissionais também encontramos coisas que não lembram ao diabo.

Fliscorno disse...

É pertinente esta sua observação sobre a renascida (?) Ana Benavente. Com efeito, acho inacreditável que essa senhora venha criticar a actual ministra depois de ter por lá andado anos a fazer, cosmética à parte, do mesmo que agora se faz.