Não é só em Portugal. Os políticos têm medo, muito medo. Geralmente, e apesar das aparências, não são estúpidos: e quando tomam decisões em contravenção directa dos seus mandatos sabem o que estão a fazer.
Às vezes são decisões grandes, como a de subtrair uma parte considerável do território à soberania popular e outorgá-la a uma entidade privada - a um dos novos barões que pululam no mundo pós-moderno sob a forma de empresas, igrejas, seitas, sociedades secretas, lóbis... Repare-se que não estou a falar de propriedade, estou a falar de soberania pura e dura: nos termos do contrato assinado pelo ministro Ferreira do Amaral, a Lusoponte não se tornou proprietária do trecho inferior do Tejo, tornou-se sua suserana.
Outra decisão grande foi a de não submeter a referendo o Tratado Europeu. Porque a democracia representativa (dizem eles, e com razão) é tão legítima como a directa. Sucede, porém, que neste particular o mandato dos representantes era claro, e consistia em referendar um determinado normativo independentemente de entretanto ter mudado de nome. Era uma questão concreta em que os representantes estavam expressamente mandatados para não representar.
E há as dezenas e centenas de pequenas decisões que são tomadas, como estas, em contravenção directa do mandato concedido pelo Soberano. Eles, os mandatários infiéis, sabem-no; e sabem que cada uma destas decisões os deslegitima mais um pouco.
Porque continuam a tomá-las, então? Porque o medo que têm de perder a legitimidade é por enquanto menor do que o medo que têm de desobedecer aos seus patrões. E assim, a cada pequena decisão auto-deslegitimadora que tomam, vão vivendo na esperança que ainda não seja aquela a que os vai deslegitimar de vez.
De noite, passam mal. Têm suores frios. Sofrem pesadelos. Sonham, quiçá, com a guilhotina, ou com os seus próprios cadáveres pendurados, na névoa nocturna, dos candeeiros de iluminação pública. Talvez seja por isso que se ufanam de dormir tão pouco.
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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.
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2 comentários:
Os nossos políticos estarão familiarizados com o conceito do "Mandato dos Céus"?
Caro L.Rodrigues:
Os nossos, não sei. Os americanos, pelos vistos, parece que sim. E estão uns e outros familiarizados com o conceito do 'Mandato Popular'. Por isso é que dormem mal.
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