Os alunos portugueses com 15 anos, considerados na globalidade, têm resultados abaixo da média da OCDE. Má notícia, é claro.
Decompondo-se este universo entre os que estão e os que não estão no nível correspondente à sua idade, vê-se que os do primeiro grupo até obtêm resultados superiores à média: logo, a média é puxada para baixo pelos do segundo grupo.
Entende o Secretário de Estado que se os do segundo grupo fossem incluídos no primeiro por via do carácter excepcional da retenção, os resultados médios melhorariam. Não vejo como é que ele chega a esta conclusão: um aluno que não sabe baixa os resultados médios do conjunto, independentemente de estar retido no sétimo ano ou de estar já a frequentar o nono ou o décimo. Se não sabe, não sabe.
Atrevo-me até a especular que, a fazer-se o que exige o secretário de estado, os resultados não só não melhorariam, como haviam de piorar: a presença numa turma de um aluno que, por não acompanhar a matéria, se torna disruptivo prejudica a aprendizagem de todos os outros.
Acho bem que se reduzam as retenções, mas não enquanto estiver vigente a escola de modelo único que temos em Portugal. Se um aluno não aprendeu o suficiente no sétimo ano de escolaridade, deve passar para o oitavo - mas não para o mesmo oitavo, na mesma escola, para que transitaram os seus colegas.
Por mais que a lei queira obrigar os professores a estabelecer «estratégias de diferenciação» que obviem a necessidade de reter alunos, eles nunca o farão, e não o farão porque é materialmente impossível. Não se pode fazer de cada aluno uma turma, fazendo para cada um uma planificação diferente, uma leccionação diferente e uma avaliação diferente. Nenhum professor poderia ter a seu cargo 120 turmas unipessoais. Se se exigir diferenciação aos professores, eles vão fazê-la, sim - mas só no papel. Vão inventar um paleio qualquer para pôr nas actas e nos relatórios, e vão continuar a trabalhar como podem - isto é, e ressalvando uma ou outra diferença cosmética, como sempre fizeram.
A diferenciação não pode ser feita aluno a aluno, tem que ser feita escola a escola. Só assim será possível reduzir as retenções sem agravar ainda mais um problema que já é grave.
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7 comentários:
A cada evidência de falhanço de ideia peregrina sai nova ideia peregrina.
A eterna fuga para a frente.
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Por acaso, até não concordo com a solução...
Se um aluno não sabe o suficiente para passar, deve chumbar.
O JLS ao estar a dizer que um aluno deveria ir para um oitavo ano numa escola diferente está, parece-me inconscientemente, a "jogar o jogo" desta conversa de ministros e teóricos da coisa.
Não sabe, chumba.
E deve ser essa mesmo a palavra:chumbar.
E abandonar a palavra "retenção" que não passa de português politicamente correcto.
E, é também por isso que não concordo com a diferenciação escola a escola.
Penso que a lógica da diferenciação escola a escola aplicada é um ataque lateral ao conceito de escola pública e ao conceito de que todos devem ter uma oportunidade.
O que aqui está é uma questão simples. As pessoas não sabem, devem chumbar de ano.
Simples, claro, concreto, honesto.
Estabelece-se um padrão médio de conhecimentos que são necessários saber.
Quem não sabe, chumba.
Agora querer fazer passar de ano durante 9 anos toda a gente, não.
Ou transferir para escolas diferentes.
Lembra-me o sitio onde vivo. Duas escolas.A primeira "leva" com os melhores alunos, os alunos "de cor da pele branca", os alunos com paizinhos educados.
Notas médias-altas. Exemplo: 14 fictício que corresponde a 17 real.
Na escola "second -rate", vão os alunos problemáticos, com dificuldades de aprendizagem e mais indisciplinados. Exemplo: 16 fictício equivale a um 10 real.
Mas todos são "genericamente maus"
embora a qualidade do genericamente mau seja evidentemente diferenciada......de um sitio para o outro.
Temos assim 500 ou 600 alunos aos quais é dito que são melhores do que são, e que, caso queiram chegar à universidade,ou até mesmo ao 10º-12º, chegam e
levam com um banho de frustração enorme.E ressentimento...
Do outro lado temos, gente relativamente mais bem preparada para pelo menos chegar ao 12º sem grandes problemas,embora com notas artificialmente mais baixas.
JLS: pode-se suportar "pacificamente" uma sociedade assim - geração após geração - às quais é dito a 500 que eles são melhores do que efectivamente são, para depois estes 500 perceberem que foram enganados;
e que o caminho esteve a ser aplainado para os outros 500 que foram colocados na "escola boa"?
Dito de outra maneira: este "caldeirão a ferver, latente, é sustentável?
É democrático?
Penso que não...
Soluções? Como é que os outros paises fazem?
Eu suponho que diferenciar escola a escola não é uma boa solução, tem muitos inconvenientes - só é solução para os bons alunos.
Eu suponho que quando os paises mais avançados do que nós enfrentaram este problema começaram por pensar em soluções eugénicas; mas depois acabaram por perceber que o problema se tem de resolver eliminando-o na origem - ou seja, nas condições sociais e familiares que enformam certas infâncias.
Infantários, accção social, são medidas acertadas e indispensáveis; podem minorar o problema em relação a futuras gerações. E com estas, o que fazer?
alf: com todo o respeito, mas as soluções dos outros países não funcionam e não devem ser aplicadas.
Temos problemas aqui.
As soluções devem ser pensadas para resolver problemas específicos daqui.
E não ir atrás de países e de soluções miraculosas de outras países que funcionam nesses mesmos países ,mas depois quando transportadas para aqui, pura e simplesmente, não funcionam.
é necessário regras claras.
Turmas com numero de alunos definidos a não exceder "x"; exames previamente definidos e marcados;
Horários estáveis, escolas construídas por exemplo, com salas de aula em pisos superiores, proibição de telemóveis, etc...
E não a bandalheira organizada que existe.
Que passa por dizer as pessoas que todas devem passar de ano apenas porque todas devem passar de ano.
Caro dissidente-x, caro alf:
O que eu tenho em mente ao propor a diferenciação por escolas é qualquer coisa de semelhante ao sistemas «germãnicos» actualmente em vigor na Alemanha, na Áustria, na Suíça, no Luxemburgo e em alguns dos países escandinavos.
A base do sistema é a diferenciação das escolas em três tipos: Realschule, Hauptschule e Gymnasium. Há uma escola vocacionada para o prosseguimento de estudos, outra para a formação de profissionais e outra para acolher os alunos que não têm capacidade, vocação ou motivação para aprendizagens mais abstractas ou académicas.
Este sistema é alvo de forte contestação por parte de quem o considera elitista. Na Alemanha e na Suíça esta contestação parte em grande parte das comunidades imigrantes, entre elas a portuguesa, porque sentem que os filhos são relegados, muitas vezes de forma injusta, para as escolas de cariz mais prático e menos académico. A resposta das autoridades educativas a estas críticas tem sido, não o abandono do sistema, mas a criação de mecanismos que permitem a migração horizontal entre os vários tipos de escola. Assim, um aluno que frequente uma escola menos exigente em termos académicos tem sempre acesso a uma mais exigente, se os seus resultados o justificarem; ou pode ser obrigado a passar para uma escola de índole mais prática se os seus resultados académicos forem insuficientes.
Assim se tenta compensar, por via da mobilidade horizontal, o «elitismo» inerente ao sistema.
Quer isto dizer que eu considere ideal o sistema germânico? Não, não o considero ideal, embora o considere francamente preferível ao nosso.
A questão é que tudo o que tem vantagens tem desvantagens. A vida é assim mesmo. Ou temos um sistema quase sem «chumbos» mas co0m escolas diferenciadas, ou temos um sistema com escola de modelo único, mas com «chumbos». O que eu nunca vi em parte nenhuma do mundo é um modelo de escola pública que funcione aceitavelmente sem «chumbos» e ao mesmo tempo sem diferenciação.
Um dos problemas inatos da cultura portuguesa é a dificuldade em fazer escolhas. E de tanto adiar a escolha acabamos muitas vezes por ficar com o pior de dois mundos. Mas temos que escolher, sob pena de tudo ficar ainda pior do que já está. Não podemos ficar eternamente a querer o impossível nem a exigir o impossível aos professores.
Não há soluções cabais, ideais ou milagrosas: nem na educação, nem em nenhum outro aspecto da vida. Tudo o que se faça para resolver um problema cria outro. A única coisa que podemos fazer é maximizar as vantagens de tudo aquilo que fizermos, tendo ao mesmo tempo o cuidado de minimizar as consequente e inevitáveis desvantagens.
Um exemplo disto está no qu eu escrevi atrás: o modelo germânico, que tem as vantagens de incluir no sistema educativo todos os jovens e de levar a bons resultados médios nas avaliações internacionais, paga por elas o preço duma desvantagem, que é o estabelecimento precoce duma certa estratificação social.
Uma das razões que leva as sociedades germânicas a considerar aceitável este preço está no facto de esta estratificação se concentrar no centro da escala social, ou seja: diferencia-se entre as classes média-baixa, média, média-alta e alta, mas quase se elimina o «lumpen». Isto explica a inexistência, nos subúrbios das grandes cidades alemãs, de revoltas semelhantes às que têm lugar periodicamente nos subúrbios franceses.
Tudo tem o seu preço. O que nós temos, é que saber qual ele é, e se estamos ou não dispostos a pagá-lo.
Quais são os objectivos da escola? Talvez interessasse conseguir dar uma resposta clara a esta questão. Talvez a partir daí fosse mais fácil construir uma solução.
deixo-lhe aqui mais este desafio...
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