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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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quarta-feira, 10 de março de 2010

Desta vez não vai ser tão pacífico

O pacote de austeridade do FMI foi imposto há trinta anos sem demasiada dificuldade: houve greves, houve manifestações, mas o País não ficou propriamente a ferro e fogo. Com o PEC agora em discussão as coisas não vão ser tão fáceis.

O tempo era outro. A crise de então não tinha autores facilmente identificáveis. Era possível aos políticos convencer muita gente que ela estava inscrita na natureza das coisas; que era, por assim dizer, uma catástrofe natural; que as medidas heróicas que tomavam para a combater, e os sacrifícios que pediam, eram uma exigência elementar de patriotismo.

Tal como, supostamente, não tinha autores, também não tinha beneficiários. Era possível convencer as pessoas que o que lhes saía do bolso não ia parar ao bolso de mafiosos. Hoje esta treta já não é possível.

Os economistas mediáticos que apoiavam o discurso dos políticos tinham autoridade e prestígio, hoje não têm: ou são velhos teimosos, incapazes de se livrarem dos seus preconceitos ideológicos, ou são jovens formados em universidades em que os programas são sujeitos a censura prévia, pagos para acreditar no que o patrão ordena e incapazes, por ignorância, de acreditar noutra coisa. As pessoas perceberam que há outros economistas a pensar doutra maneira. O mundo mudou em 2008: meter Keynes outra vez na gaveta é tão possível como pôr a pasta de dentes outra vez na bisnaga.

As pessoas podiam ser convencidas que não havia alternativa racional; agora, quando o ministro Teixeira dos Santos vem com essa treta requentada, enfrenta uma opinião pública mais esclarecida que sabe que não só há alternativa, como essa alternativa é mais racional e eficaz do que as políticas que ele se propõe seguir.

Os eleitores acreditavam que o governo era responsável: que respondia perante o Parlamento, que por sua vez respondia perante o eleitorado. Hoje, é o próprio governo que declara sem pudor que, em vez de responder perante o povo, responde perante a União Europeia, perante os mercados, perante as agências de rating e - pior que isso tudo - perante os próprios autores e beneficiários da crise, a quem volta a ser permitido que determinem as regras do jogo. Isto significa pura e simplesmente que governo perdeu a sua legitimidade, ou melhor: que a deitou fora.

E pedem-nos que não fiquemos crispados?! Que nos rendamos sem luta?! Que ofereçamos a outra face?! Devem estar a sonhar, ou então perderam de vez o contacto com a realidade.

A classe média estava ressentida; hoje está furiosa. Se o que preocupa o governo é a credibilidade do País perante os mercados, é bom que entre com esta fúria nos seus cálculos.

5 comentários:

Anónimo disse...

Espero bem que não estejas enganado. Isto precisa de uma grande volta.

Nan disse...

O que me assusta é a incapacidade de prevero tipo e o grau de violência da volta...

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

Também a mim, Nan. O desespero e a ira são maus conselheiros, e nada impede que a ditadura neoliberal venha a ser substituída por algo ainda pior.

Mário Machaqueiro disse...

Pois eu acho, José Luiz, que estás demasiado optimista em relação à capacidade de revolta e de consciência política do «bom povo português». Vejo muitos sinais de desespero à mistura com sentimentos de impotência e de resignação, mas nenhuma "vaga de fundo" revoltada à maneira do que está a acontecer na Grécia. Pode ser que eu esteja enganado, mas esta gente continua amodorrada na mansidez de sempre.

Anónimo disse...

Acho que ainda falta muito para se ver essa "revolta". O povo ainda terá de levar muita pancada.
E pelos resultados das últimas eleições podemos concluir que a maioria pensa que este é o rumo certo.