Corre a opinião de que o voto na direita em toda a Europa foi um voto no neoliberalismo; e que, mesmo em Portugal, a subida percentual do PSD e do CDS correspondem a uma opção pelo neoliberalismo por parte de quem neles votou.
Eu não sou dessa opinião. Primeiro, porque nenhum partido, em Portugal ou na Europa, fez campanha com base na defesa das ideias neoliberais. Segundo, porque muitos dos partidos populistas ou de extrema-direita que registaram grandes subidas são no mínimo indiferentes, e nalguns casos hostis, ao neoliberalismo.
É opinião contra opinião. Nestes casos, geralmente, cada um fica na sua.
Mas desta vez há a possibilidade, no que toca a Portugal, de verificar qual das duas hipóteses é correcta: basta que o PSD e o CDS façam das teses neoliberais o centro da sua campanha para as legislativas. Inundem as ruas de cartazes a propor a liberalização completa dos despedimentos. Advoguem insistentemente e com fragor a abolição do salário mínimo e dos subsídios de desemprego. Declarem-se, sem ambiguidades nem tergiversações, partidários incondicionais da privatização total da saúde, da educação e da segurança social.
(O PS fica de fora deste desafio porque, quer se declare partidário, quer adversário do neoliberalismo, poucos vão acreditar).
Se há mais países na UE com eleições para breve, sugiro que os partidos do centro-direita façam a mesma experiência.
E depois contem os votos. Os votozinhos, como diz Maria de Lurdes Rodrigues.
Blogue sobre livros, discos, revistas e tudo o mais de que me apeteça escrever...
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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.
..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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5 comentários:
Caro José Luíz Sarmento,
A tese que refere também me surpreendeu desde que no próprio domingo à noite começou a surgir. A sua falsidade parecia-me óbvia: numa europa a caminho do desastre social não era imaginável que as pessoas fossem maciçamente votar no ideário que as conduzira à crise. Contudo, a falta da solidariedade do próprio modelo neoliberal da UE - clara na barragem de apoios ao leste - levou a que tomasse em conta crescentemente outra hipótese: o voto nacionalista, xenófobo, eurocéptico, e em partidos mais conservadores foi um voto contra o abandono a que a UE está a vetar muitos países. Como em geral os partidos socialistas são vistos como mais pró integracionistas foram punidos mesmo estando na oposição, enquanto todas as forças de direita, sobretudo mais extrema foram beneficiadas pelo voto de revolta contra a UE. É por isso ainda maior do que pensava o risco que este modelo de UE comporta.
Em todo o caso, permito-me deixar-lhe aqui o link da análise se nele tiver interesse. Ficava grato se pudesse depois partilhar a sua opinião sobre esta visão dos eventos: http://tinyurl.com/n66oy6.
Um abraço,
Carlos Santos
Com efeito tem havido quem afirme que é foi uma vitória do neoliberalismo. Wishful thinking, creio.
Mas sem ir do oito ao oitenta, creio que há muito espaço para menos estado. Com Sócrates vimos o estado aumentar de peso. Mais subsídios (controle da economia), mais nomeações (todos os novos cargos de director das escolas, o que politiza a educação), mais entidades reguladoras (com cargos de nomeação), mais entrega directa de negócios (projectos PIN, ajustes directos) e recusa em que se vote um tratado que nos afectará (Tratado de Lisboa). Ao aumentar o poder do estado, Sócrates é agora um homem mais poderoso. Ficámos melhor? (Sobre o estado, escrevi há uns dias: http://tinyurl.com/phv6vu)
Mesmo quanto a questões mais sensíveis como a liberdade para despedir, creio que há múltiplos pontos de vista a considerar. Um caso concreto. Na minha empresa empresa há uns quantos postais que optaram por não trabalhar. Sem nunca recusar novas tarefas, vão deixando-as de lado até que expira que o prazo para as terminar. Então quem lhes deu essas tarefas tem um problema em mão pois algo que precisava de ser feito ficou por fazer. Negoceia-se com o cliente um atraso, redistribuem-se as tarefas a outros colaboradores e da próxima vez que houver algo a fazer opta-se por não se contar com estas pessoas. Pensará o caro José Luíz, "bom estas pessoas acabarão despedidas". Mas é aqui que entra em cena a blindagem do actual código laboral. Apesar de várias tentativas, nunca foi possível despedir estas pessoas. Entre (falsas) baixas psiquiátricas, alegada falta de condições para trabalhar e vários outros subterfúgios, faz anos que estas pessoas são um peso morto na empresa. A solução possível seria alegar extinção do posto de trabalho mas isso não é plausível.
A actual legislação laboral pressupõe que o empregador será sempre um mafioso e que o empregado será sempre um anjo. O exemplo anterior (bem real, note) recorda-me que o mundo não é a preto e branco. E esta situação passa-se numa empresa privada.
Partilho a opinião de Carlos Santos. Não me parece que para as legislativas a direita PSD e CDS façam campanha com base na tese no neoliberalismo. Seria dar um tiro no pé.
Uma coisa é as pessoas mostrarem o seu descontentamento com a UE, outra seria votar em partidos do neoliberalismo.
Em Portugal nas eleições europeias, todos os partidos subiram, só o PS desceu, mas o que mais cresceu foi, sem dúvida o BE.
Abraço,
Safira
Carlos, concordo consigo e também com a Safira. Os eleitores do PS dispersaram principalmente para o BE. Neste contexto, a vitória do PSD é aparente, uma vez que, comparada com a das eleições anteriores, a percentagem de votos é quase a mesma.
E mais nada... quem fala assim...
Abraço
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