Nas próximas eleições legislativas vamos ter que decidir entre várias propostas que não estamos habilitados a avaliar cabalmente do ponto de vista técnico e científico: o TGV, o investimento público, as políticas salariais, o défice... Não podemos nem devemos furtar-nos a essa decisão: somos cidadãos, fazemos parte de um corpo político, e ninguém além de nós tem legitimidade para determinar a vontade desse corpo.
Os economistas, geógrafos, politólogos, sociólogos que nos têm dado as suas opiniões sobre estas matérias têm autoridade profissional para o fazer, mesmo quando estas opiniões são contraditórias entre si. Podemos e devemos ouvi-los; mas tem que ficar bem claro que dos meios sabem eles, mas dos fins sabemos nós.
Até porque eles próprios são leigos fora da sua esfera de competência. Quando um economista está doente e vai ao médico, tem em conta o que o médico lhe propõe, mas não prescinde de ter a última palavra sobre os tratamentos que aceita ou não aceita fazer. Quando um médico quer construir uma casa e encomenda o projecto a um arquitecto, está a reconhecer implicitamente a autoridade deste, mas ele é que sabe a casa que quer.
Todos nós somos leigos; e cada vez mais, numa sociedade cada vez mais complexa, todos nós somos especialistas. E daqui resulta o dilema que dá o título a este texto: como conciliar uma legitimidade de que não podemos abdicar (legitimidade esta que pode ser política quando está em causa o corpo político, ou individual quando está em causa o nosso corpo físico ou a nossa propriedade) com a autoridade profissional que temos de reconhecer a quem a tem?
Ao fazer a pergunta já estou, é claro, a dar uma parte da resposta. Tudo começa, com efeito, pela necessidade de separar conceptualmente o direito de decidir, que incide sobre os fins, da autoridade científica, que incide sobre os factos, e da autoridade profissional, que incide sobre os meios.
Os cientistas e os técnicos não devem invadir a esfera da decisão política - a não ser, obviamente, na sua qualidade de cidadãos; e o poder político não deve invadir a esfera da autoridade profissional, como tem tentado fazer no caso dos professores.
Eu, enquanto cidadão, não quero uma tecnocracia. Não quero uma república de militares, nem de juízes, nem de juristas, nem de gestores, nem de professores, nem de economistas. Quero uma república de cidadãos em que nenhuma área do saber se apresente como explicação definitiva e única do Homem e do Mundo.
E é por este critério que avalio, a partir da minha ignorância, as propostas dos sábios: se fazem do seu saber um saber totalitário; se invadem a esfera de legitimidade dos cidadãos; se não reconhecem nem têm em conta outras esferas de autoridade além da sua - então fico autorizado a presumir que se trata de charlatães. E se comparar, à luz deste critério, o Manifesto dos 28 sobre as grandes obras públicas com o Manifesto dos 51, a minha decisão enquanto eleitor vai favorecer o segundo.
Uma decisão tomada com base em informação insuficiente? Sem dúvida. É assim que a democracia funciona. Mas também foi para isto que o cérebro humano evoluiu.
Blogue sobre livros, discos, revistas e tudo o mais de que me apeteça escrever...
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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.
..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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terça-feira, 30 de junho de 2009
terça-feira, 23 de junho de 2009
Economistas «credíveis»
Vinte e oito economistas mediáticos assinaram um manifesto contra os grandes investimentos públicos. Há outros que são a favor; mas, como não são mediáticos, não os conhecemos.
Conhecemos estes. São os mesmos que nos andam a dizer há anos, do alto da sua autoridade mediática e da sua credibilidade politicamente certificada, que temos que trabalhar cada vez mais e ganhar cada vez menos, em empregos cada vez mais precários, para que a utopia neoliberal se possa cumprir - e isto apesar de vivermos num mundo em que o avanço tecnológico torna cada hora de trabalho cada vez mais produtiva.
A nós, pobres leigos, só nos resta inclinar humildemente a cabeça e murmurar credo quia absurdum.
O que eles nos vendem como ciência não é ciência, é propaganda política. E no cerne desta propaganda está o slogan terrorista por excelência: o «não há alternativa» de Margaret Thatcher.
Mas a mentira tem pernas curtas e cada vez se vai tornando mais óbvio que há alternativa; e autorizada, e credível. Podem ser encontrados exemplos AQUI, AQUI,
AQUI e AQUI.
Quando me foi diagnosticada uma doença grave, o meu médico disse-me que a Medicina não é uma ciência exacta; e consequentemente, embora a autoridade científica fosse dele e dos seus colegas, todas as decisões eram minhas. Se a Medicina não é uma ciência exacta, muito menos o é a Economia. Se não aceito amputar uma perna baseado na opinião de um só médico, muito menos aceito resignar-me à insegurança económica, à desigualdade e à pobreza baseado na opinião de um grupo de economistas, todos da mesma área política e da mesma escola, e ao serviço dos mesmos interesses.
Agora que o corpo político de que faço parte está doente, e sabendo que estes economistas de mediática autoridade contribuíram no passado recente para agravar esta doença, tenho legitimidade para lhes dizer: não suba o sapateiro acima da chinela. A Economia pode ser convosco, mas a Política é comigo e com os meus concidadãos.
Conhecemos estes. São os mesmos que nos andam a dizer há anos, do alto da sua autoridade mediática e da sua credibilidade politicamente certificada, que temos que trabalhar cada vez mais e ganhar cada vez menos, em empregos cada vez mais precários, para que a utopia neoliberal se possa cumprir - e isto apesar de vivermos num mundo em que o avanço tecnológico torna cada hora de trabalho cada vez mais produtiva.
A nós, pobres leigos, só nos resta inclinar humildemente a cabeça e murmurar credo quia absurdum.
O que eles nos vendem como ciência não é ciência, é propaganda política. E no cerne desta propaganda está o slogan terrorista por excelência: o «não há alternativa» de Margaret Thatcher.
Mas a mentira tem pernas curtas e cada vez se vai tornando mais óbvio que há alternativa; e autorizada, e credível. Podem ser encontrados exemplos AQUI, AQUI,
AQUI e AQUI.
Quando me foi diagnosticada uma doença grave, o meu médico disse-me que a Medicina não é uma ciência exacta; e consequentemente, embora a autoridade científica fosse dele e dos seus colegas, todas as decisões eram minhas. Se a Medicina não é uma ciência exacta, muito menos o é a Economia. Se não aceito amputar uma perna baseado na opinião de um só médico, muito menos aceito resignar-me à insegurança económica, à desigualdade e à pobreza baseado na opinião de um grupo de economistas, todos da mesma área política e da mesma escola, e ao serviço dos mesmos interesses.
Agora que o corpo político de que faço parte está doente, e sabendo que estes economistas de mediática autoridade contribuíram no passado recente para agravar esta doença, tenho legitimidade para lhes dizer: não suba o sapateiro acima da chinela. A Economia pode ser convosco, mas a Política é comigo e com os meus concidadãos.
segunda-feira, 22 de junho de 2009
O que eu não sei sobre o TGV e Alcochete
Dizem os opositores das grandes obras públicas que estes investimentos representam um passivo a pagar pelas próximas gerações. Isto parece-me óbvio, mas também me parece óbvio que representam um activo. O que eu não sei, é se o saldo será negativo ou positivo. Desde logo, no curto prazo, não posso arbitrar a polémica entre os economistas keynesianos e os neoclássicos. Quanto ao longo prazo, não sei (e suspeito que os políticos e economistas que intervêm no debate também não sabem) qual será a cotação do petróleo daqui a vinte ou trinta anos, quanto custará nessa altura uma viagem de avião entre Lisboa e Madrid, se as transportadoras low cost ainda serão viáveis, ou se a fonte de energia que alimentará os comboios será hidráulica, térmica, solar, eólica ou nuclear.
E isto, se ficarmos por um ponto de vista meramente contabilístico: tanto de investimento, tanto de lucro, e depois uma conta de subtrair. Se considerarmos o TGV como aquilo a que os economistas chamam um bem de mérito; e se o considerarmos, não apenas em si próprio, mas como parte de um sistema em que se inclui toda a rede de transportes ferroviário, rodoviário e aéreo da península Ibérica e da Europa - então a questão atingirá um tal grau de complexidade que duvido da possibilidade de construir um modelo computacional que a represente adequadamente.
Isto, por si só, não é razão para que o investimento não se faça, mas também não é razão para que se faça de qualquer maneira; todo o investimento é um risco; mas se a minimização do risco é da esfera de competência dos especialistas, a decisão de o correr é política e situa-se, portanto, na esfera de legitimidade dos cidadãos. Esta legitimidade prevalece sobre a autoridade de 28 economistas, para mais representantes duma só área política e duma só escola económica.
Resta-me, portanto, discutir a questão do ponto de vista em relação ao qual tenho legitimidade: o meu ponto de vista de cidadão e consumidor.
Para ir da Maia a Lisboa, dispenso o TGV. O pendular basta-me - ou bastar-me-ia se a velocidade média se aproximasse dos duzentos e tal à hora de que as composições são capazes e não se ficasse pelos actuais 90 à hora, a que a falta de investimento nas linhas as limita. Num dia de chuva e vento está fora de questão, é claro, desembarcar na Gare do Oriente, mas seguir até Sta. Apolónia não prolonga por aí além o tempo de viagem.
Já para ir a Vigo, o TGV dar-me-ia imenso jeito. Ou para ir a Madrid. Ou mesmo a Alcochete, se a estação ferroviária ficar, conforme o previsto, por baixo do aeroporto.
Do meu ponto de vista, o TGV dá-me jeito, sobretudo, para andar de avião. Na situação actual, estou praticamente limitado ao Aeroporto Sá Carneiro. Se quiser ir apanhar o avião a Vigo, demoro uma hora de automóvel - mas depois não tenho onde o deixar sem pagar um balúrdio de estacionamento. De comboio, demoro três horas: não vale a pena. Se o quiser apanhar em Lisboa, sou obrigado a sair com as malas todas na Gare do Oriente e a meter-me num táxi para a Portela. Três horas e um quarto de viagem, meia hora para o táxi e duas horas de antecedência para fazer o check-in, e já gastei cinco horas e um quarto de viagem antes mesmo de entrar no avião. Para o ir apanhar a Madrid, tenho que ir de avião até Barajas - o pior aeroporto da Península Ibérica - e rezar a todos os santinhos para que um atraso não me faça perder a ligação.
Com o TGV, poderia fazer o check-in na estação de Campanhã, viajar confortavelmente e sem me preocupar com a bagagem até ao aeroporto que mais me conviesse, subir da estação até à zona de partidas sem apanhar chuva e dirigir-me directamente para os portões de embarque, dispensando assim a tal antecedência de duas horas.
Façamos agora o mesmo raciocínio para um habitante de Vigo, de Braga, de Lisboa, de Setúbal, de Évora, de Badajoz, de Madrid. Pensemos nas novas opções que teria um lisboeta que quisesse ir de avião a Buenos Aires, ou um madrileno que quisesse ir ao Recife. E deixemo-nos de clubismos partidários: qualquer decisão sobre este assunto será tomada com base em informação insuficiente, e quanto a isto a situação dos especialistas é pouco melhor que a dos leigos.
E isto, se ficarmos por um ponto de vista meramente contabilístico: tanto de investimento, tanto de lucro, e depois uma conta de subtrair. Se considerarmos o TGV como aquilo a que os economistas chamam um bem de mérito; e se o considerarmos, não apenas em si próprio, mas como parte de um sistema em que se inclui toda a rede de transportes ferroviário, rodoviário e aéreo da península Ibérica e da Europa - então a questão atingirá um tal grau de complexidade que duvido da possibilidade de construir um modelo computacional que a represente adequadamente.
Isto, por si só, não é razão para que o investimento não se faça, mas também não é razão para que se faça de qualquer maneira; todo o investimento é um risco; mas se a minimização do risco é da esfera de competência dos especialistas, a decisão de o correr é política e situa-se, portanto, na esfera de legitimidade dos cidadãos. Esta legitimidade prevalece sobre a autoridade de 28 economistas, para mais representantes duma só área política e duma só escola económica.
Resta-me, portanto, discutir a questão do ponto de vista em relação ao qual tenho legitimidade: o meu ponto de vista de cidadão e consumidor.
Para ir da Maia a Lisboa, dispenso o TGV. O pendular basta-me - ou bastar-me-ia se a velocidade média se aproximasse dos duzentos e tal à hora de que as composições são capazes e não se ficasse pelos actuais 90 à hora, a que a falta de investimento nas linhas as limita. Num dia de chuva e vento está fora de questão, é claro, desembarcar na Gare do Oriente, mas seguir até Sta. Apolónia não prolonga por aí além o tempo de viagem.
Já para ir a Vigo, o TGV dar-me-ia imenso jeito. Ou para ir a Madrid. Ou mesmo a Alcochete, se a estação ferroviária ficar, conforme o previsto, por baixo do aeroporto.
Do meu ponto de vista, o TGV dá-me jeito, sobretudo, para andar de avião. Na situação actual, estou praticamente limitado ao Aeroporto Sá Carneiro. Se quiser ir apanhar o avião a Vigo, demoro uma hora de automóvel - mas depois não tenho onde o deixar sem pagar um balúrdio de estacionamento. De comboio, demoro três horas: não vale a pena. Se o quiser apanhar em Lisboa, sou obrigado a sair com as malas todas na Gare do Oriente e a meter-me num táxi para a Portela. Três horas e um quarto de viagem, meia hora para o táxi e duas horas de antecedência para fazer o check-in, e já gastei cinco horas e um quarto de viagem antes mesmo de entrar no avião. Para o ir apanhar a Madrid, tenho que ir de avião até Barajas - o pior aeroporto da Península Ibérica - e rezar a todos os santinhos para que um atraso não me faça perder a ligação.
Com o TGV, poderia fazer o check-in na estação de Campanhã, viajar confortavelmente e sem me preocupar com a bagagem até ao aeroporto que mais me conviesse, subir da estação até à zona de partidas sem apanhar chuva e dirigir-me directamente para os portões de embarque, dispensando assim a tal antecedência de duas horas.
Façamos agora o mesmo raciocínio para um habitante de Vigo, de Braga, de Lisboa, de Setúbal, de Évora, de Badajoz, de Madrid. Pensemos nas novas opções que teria um lisboeta que quisesse ir de avião a Buenos Aires, ou um madrileno que quisesse ir ao Recife. E deixemo-nos de clubismos partidários: qualquer decisão sobre este assunto será tomada com base em informação insuficiente, e quanto a isto a situação dos especialistas é pouco melhor que a dos leigos.
A luta vai tomando forma
Julgo que este texto, organizado à volta do conceito de objecção de consciência, é representativo de um dos núcleos essenciais da estratégia a seguir pelos professores na sua luta contra a destruição do ensino e da escola pública. Os consensos vão-se formando lentamente, como não pode deixar de ser; mas por isso mesmo são mais sólidos.
Que ninguém se iluda: a luta vai ser longa e difícil, e não terminará com a derrota do PS nem com a demissão de Maria de Lurdes Rodrigues. O trio MLR, VL e JP bem pode sair de cena, mas há outro trio bem pior que está na raiz de todos os males da escola e que continuará activo se os professores não tiverem um sobressalto ético, político e deontológico que o destrua de vez: incivismo endémico, pedagogia delirante, burocracia asfixiante.
Podemos ter aliados nesta luta - ultimamente parece que os encontramos para onde quer que nos viremos - mas não nos podemos esquecer que cada um deles tem a sua própria agenda, que a qualquer momento pode deixar de intersectar a nossa.
Que ninguém se iluda: a luta vai ser longa e difícil, e não terminará com a derrota do PS nem com a demissão de Maria de Lurdes Rodrigues. O trio MLR, VL e JP bem pode sair de cena, mas há outro trio bem pior que está na raiz de todos os males da escola e que continuará activo se os professores não tiverem um sobressalto ético, político e deontológico que o destrua de vez: incivismo endémico, pedagogia delirante, burocracia asfixiante.
Podemos ter aliados nesta luta - ultimamente parece que os encontramos para onde quer que nos viremos - mas não nos podemos esquecer que cada um deles tem a sua própria agenda, que a qualquer momento pode deixar de intersectar a nossa.
domingo, 21 de junho de 2009
Se não ler outro livro este Verão...
Ignatius J. Reilly é monstruosamente obeso, virgem, e incapaz de se manter num emprego. Nunca saiu de Nova Orleães. Acredita que o melhor sistema político para os EUA seria uma monarquia absoluta, acha que o Papa devia reinstituir a Inquisição e que a penitência adequada para a mãe, quando se vai confessar, devia ser aplicada com um látego. Fala e escreve como se fosse um John Updike ou um John F. Buckley transplantado do extremo Norte para o extremo Sul dos Estados Unidos, de modo que ninguém à sua volta entende metade do que ele diz.
O que ele não entende, por sua vez, é a linguagem do politicamente correcto. Isto leva-o a dizer coisas tão para lá de racistas que os pretos que o ouvem nem sequer se ofendem: olham para ele como para um extra-terrestre e gozam o espectáculo.
Muito longe, em Nova Iorque, vive Myrna Minkoff, judia e de extrema-esquerda, que quer salvar Ignatius de si próprio - o que se poderia obter, na opinião dela, por meio de um bom orgasmo seguido de vários anos de psicanálise.
Com estes ingredientes, John Kennedy Toole constrói um livro que só não é puro slapstick porque integra todas as outras dimensões do cómico. Absolutamente a não perder.
sexta-feira, 19 de junho de 2009
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Fui um pouco ingénuo, mas não me demito
Foi o que Vítor Constâncio declarou perante a Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso BPN. Será de mim, ou haverá nesta afirmação algo de, como dizer? Contraditório? Esquisito? Surrealista? Impudente?
Se os contribuintes portugueses quisessem um ingénuo como Governador do Banco de Portugal, teriam com certeza muito por onde escolher; ingénuos não faltam; e com uma oferta tão grande, não haveria dificuldade em recrutar alguém por um salário relativamente baixo.
Ora acontece que Vítor Constâncio recebe um salário muito alto. Excepcionalmente alto. O mínimo que os contribuintes podem esperar em troca deste salário é um desempenho também ele excepcional.
Eu, e a maior parte das pessoas que me estão a ler, somos provavelmente ingénuos demais para sermos Governadores do Banco de Portugal. Por isso mesmo é que não o somos. Mas se Vítor Constâncio é ingénuo demais, é medíocre demais; e se é medíocre demais, o dever dele é demitir-se, deixando o lugar a outro menos confiante na virtude intrínseca dos banqueiros.
Se os contribuintes portugueses quisessem um ingénuo como Governador do Banco de Portugal, teriam com certeza muito por onde escolher; ingénuos não faltam; e com uma oferta tão grande, não haveria dificuldade em recrutar alguém por um salário relativamente baixo.
Ora acontece que Vítor Constâncio recebe um salário muito alto. Excepcionalmente alto. O mínimo que os contribuintes podem esperar em troca deste salário é um desempenho também ele excepcional.
Eu, e a maior parte das pessoas que me estão a ler, somos provavelmente ingénuos demais para sermos Governadores do Banco de Portugal. Por isso mesmo é que não o somos. Mas se Vítor Constâncio é ingénuo demais, é medíocre demais; e se é medíocre demais, o dever dele é demitir-se, deixando o lugar a outro menos confiante na virtude intrínseca dos banqueiros.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Ficha de auto-avaliação
Não exprimi até agora qualquer opinião sobre este assunto, não porque não a tivesse, mas porque não me senti com autoridade para o fazer. Repugna-me a ideia de ser "herói" sem correr os riscos que outros correm. Estou no 10º escalão; estive, até há pouco, em situação de baixa médica prolongada; e a minha perspectiva, no futuro próximo, é a aposentação, seja por incapacidade, seja com penalização.
Não se me põe, portanto, a questão de entregar ou não entregar a ficha; e consequentemente não me sinto no direito de incentivar outros a que a entreguem ou não.
Quando decidi calar-me sobre esta questão, tive a consciência de que haveria quem estranhasse o meu silêncio, e assim aconteceu: o Mário Machaqueiro acabou por me pedir, num comentário, a minha opinião. Pois aqui está ela, pelo pouco que vale, e ressalvando o que declarei acima.
Se estivesse no activo e em condições de progredir ou não na carreira, não entregaria uma ficha de avaliação pré-formatada pela tutela com base em pressupostos pedagógicos e deontológicos aos quais me oponho frontalmente. Se entregasse algum documento em sua substituição - e não reflecti o suficiente para saber se o faria - seria uma auto-avaliação feita nos meus próprios termos, que não violasse a minha ética profissional nem as posições deontológicas que deixei documentadas, ao longo de mais de trinta anos no activo, em centenas de actas de Conselho de Turma, reuniões de Grupo e de Disciplina, Conselho Pedagógico, Assembleia de Escola, bem como em intervenções públicas de vária natureza, sem que a tutela alguma vez as contestasse. Neste documento, se o entregasse, invocaria objecção de consciência, não só a muito daquilo a que sou obrigado legalmente, mas também, e sobretudo, a tudo aquilo a que seria obrigado ilegalmente.
O que eu entregaria, por certo - em conjunto com este documento ou isoladamente - seria uma declaração de recusa relativa aos termos desta avaliação. Mas repito: estou numa posição demasiado cómoda e segura para dar sugestões a quem está na linha da frente a correr riscos reais. Por isso fico por aqui.
*Nota: a desobediência civil mencionada na Constituição da República é interpretada de forma divergente pelas várias autoridades. Umas defendem que se trata em si mesma de um direito, outras defendem que só constitui um direito nos casos em que decorre doutros. Entre estes, é explicitamente mencionada a objecção de consciência. Ao invocar desde já, fundamentadamente, a objecção de consciência, um professor estará a preparar o terreno para poder mais tarde invocar em tribunal, com êxito, o direito à desobediência civil.
Não se me põe, portanto, a questão de entregar ou não entregar a ficha; e consequentemente não me sinto no direito de incentivar outros a que a entreguem ou não.
Quando decidi calar-me sobre esta questão, tive a consciência de que haveria quem estranhasse o meu silêncio, e assim aconteceu: o Mário Machaqueiro acabou por me pedir, num comentário, a minha opinião. Pois aqui está ela, pelo pouco que vale, e ressalvando o que declarei acima.
Se estivesse no activo e em condições de progredir ou não na carreira, não entregaria uma ficha de avaliação pré-formatada pela tutela com base em pressupostos pedagógicos e deontológicos aos quais me oponho frontalmente. Se entregasse algum documento em sua substituição - e não reflecti o suficiente para saber se o faria - seria uma auto-avaliação feita nos meus próprios termos, que não violasse a minha ética profissional nem as posições deontológicas que deixei documentadas, ao longo de mais de trinta anos no activo, em centenas de actas de Conselho de Turma, reuniões de Grupo e de Disciplina, Conselho Pedagógico, Assembleia de Escola, bem como em intervenções públicas de vária natureza, sem que a tutela alguma vez as contestasse. Neste documento, se o entregasse, invocaria objecção de consciência, não só a muito daquilo a que sou obrigado legalmente, mas também, e sobretudo, a tudo aquilo a que seria obrigado ilegalmente.
O que eu entregaria, por certo - em conjunto com este documento ou isoladamente - seria uma declaração de recusa relativa aos termos desta avaliação. Mas repito: estou numa posição demasiado cómoda e segura para dar sugestões a quem está na linha da frente a correr riscos reais. Por isso fico por aqui.
*Nota: a desobediência civil mencionada na Constituição da República é interpretada de forma divergente pelas várias autoridades. Umas defendem que se trata em si mesma de um direito, outras defendem que só constitui um direito nos casos em que decorre doutros. Entre estes, é explicitamente mencionada a objecção de consciência. Ao invocar desde já, fundamentadamente, a objecção de consciência, um professor estará a preparar o terreno para poder mais tarde invocar em tribunal, com êxito, o direito à desobediência civil.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
LA GÉANTE
Du temps que la Nature en sa verve puissante
Concevait chaque jour des enfants monstrueux,
J'eusse aimé vivre auprès d'une jeune géante,
Comme aux pieds d'une reine un chat voluptueux.
J'eusse aimé voir son corps fleurir avec son âme
Et grandir libremente dans ses terribles jeux;
Deviner si son coeur couve unne sombre flamme
Aux humides brouillards qui nagent dans ses yeux;
Parcourir à loisir ses magnifiques formes;
Ramper sur le versant de ses genoux énormes,
Et parfois en été, quand les soleils malsains,
Lasse, la font s'étendre à travers la campagne,
Dormir nonchalamment à l'ombre de ses seins,
Comme un hameau paisible au pied d'une montagne.
Charles Baudelaire, Les Fleurs du Mal
domingo, 14 de junho de 2009
Resumindo
Todos nascemos numa prisão. A escola serve para nos tirar dela. A etimologia da palavra educação exprime isto mesmo. As filosofias educativas que fecham cada aluno na prisão em que nasceu são criminosas e violam a deontologia implícita da profissão docente; e quando dão origem a políticas educativas, este facto legitima, não só a objecção de consciência, como a desobediência civil.
quinta-feira, 11 de junho de 2009
Um voto no neoliberalismo?
Corre a opinião de que o voto na direita em toda a Europa foi um voto no neoliberalismo; e que, mesmo em Portugal, a subida percentual do PSD e do CDS correspondem a uma opção pelo neoliberalismo por parte de quem neles votou.
Eu não sou dessa opinião. Primeiro, porque nenhum partido, em Portugal ou na Europa, fez campanha com base na defesa das ideias neoliberais. Segundo, porque muitos dos partidos populistas ou de extrema-direita que registaram grandes subidas são no mínimo indiferentes, e nalguns casos hostis, ao neoliberalismo.
É opinião contra opinião. Nestes casos, geralmente, cada um fica na sua.
Mas desta vez há a possibilidade, no que toca a Portugal, de verificar qual das duas hipóteses é correcta: basta que o PSD e o CDS façam das teses neoliberais o centro da sua campanha para as legislativas. Inundem as ruas de cartazes a propor a liberalização completa dos despedimentos. Advoguem insistentemente e com fragor a abolição do salário mínimo e dos subsídios de desemprego. Declarem-se, sem ambiguidades nem tergiversações, partidários incondicionais da privatização total da saúde, da educação e da segurança social.
(O PS fica de fora deste desafio porque, quer se declare partidário, quer adversário do neoliberalismo, poucos vão acreditar).
Se há mais países na UE com eleições para breve, sugiro que os partidos do centro-direita façam a mesma experiência.
E depois contem os votos. Os votozinhos, como diz Maria de Lurdes Rodrigues.
Eu não sou dessa opinião. Primeiro, porque nenhum partido, em Portugal ou na Europa, fez campanha com base na defesa das ideias neoliberais. Segundo, porque muitos dos partidos populistas ou de extrema-direita que registaram grandes subidas são no mínimo indiferentes, e nalguns casos hostis, ao neoliberalismo.
É opinião contra opinião. Nestes casos, geralmente, cada um fica na sua.
Mas desta vez há a possibilidade, no que toca a Portugal, de verificar qual das duas hipóteses é correcta: basta que o PSD e o CDS façam das teses neoliberais o centro da sua campanha para as legislativas. Inundem as ruas de cartazes a propor a liberalização completa dos despedimentos. Advoguem insistentemente e com fragor a abolição do salário mínimo e dos subsídios de desemprego. Declarem-se, sem ambiguidades nem tergiversações, partidários incondicionais da privatização total da saúde, da educação e da segurança social.
(O PS fica de fora deste desafio porque, quer se declare partidário, quer adversário do neoliberalismo, poucos vão acreditar).
Se há mais países na UE com eleições para breve, sugiro que os partidos do centro-direita façam a mesma experiência.
E depois contem os votos. Os votozinhos, como diz Maria de Lurdes Rodrigues.
quarta-feira, 10 de junho de 2009
Prémio LEMNISCATA
Recebi este prémio por via da Safira e da Hurtiga, a quem agradeço a distinção que me quiseram dar.
"O selo deste prémio foi criado a pensar nos blogs que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores."
Cabe-me repassar este selo a 7 blogues considerados merecedores de o receber, devendo eles proceder de igual modo.
ACHAQUES E REMOQUES
BLOGRE
CORRENTES
DISSIDENTE X
DIZ QUE NÃO GOSTA DE MÚSICA CLÁSSICA?
MIND THIS GAP
O VENTO QUE PASSA
Sobre o significado de LEMNISCATA:
LEMNISCATA: “curva geométrica com a forma semelhante à de um 8; lugar geométrico dos pontos tais que o produto das distâncias a dois pontos fixos é constante.”
Lemniscato: ornado de fitas Do grego Lemniskos, do latim, Lemniscu: fita que pendia das coroas de louro destinadas aos vencedores
(In Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora)
Acrescento que o símbolo do infinito é um 8 deitado, em tudo semelhante a esta fita, que não tem interior nem exterior, tal como no anel de Möbius, que se percorre infinitamente.
Texto da editora de "Pérola da cultura"
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Vencedores e vencidos
Ponto prévio: na política, como na guerra, não há vitórias esmagadoras. Mesmo que se julgue ter exterminado todo um povo, há sempre um recanto remoto onde sobrevivem meia-dúzia de crianças - e destas crianças há-de nascer, a seu tempo, um exército.
Vencer é, tão somente, atingir ou ultrapassar os objectivos fixados; perder é não os atingir. A derrota e a vitória medem-se pela distância a que se ficou além ou aquém dos objectivos.
E não vale a pena fazer batota: se colocamos a fasquia baixa demais no intuito de podermos mais tarde cantar vitória, alguém se a encarregará de a pôr à altura certa.
Nestas eleições europeias houve um derrotado e quatro vencedores. O derrotado foi o PS. Tinha por objectivo ser o partido mais votado, ainda que por por margem estreita, e não o foi por larga margem. Tinha por objectivo ficar bem colocado para disputar as legislativas, e não ficou. Tinha por objectivo ficar com as mãos livres para fazer o que quisesse no que resta do seu mandato, e ficou com elas presas. Sócrates sabe que está perdido se continuar no caminho que traçou, mas também sabe que está perdido se se desviar dele um milímetro.
Já o PSD ganhou, e folgadamente. Bastava-lhe ficar um pouco atrás do PS e ficou muito à frente. Previa não ter alternativa à participação num bloco central, e abre-se-lhe a possibilidade de integrar um bloco de direita. A imagem cinzenta da sua líder vai ficar de um dia para o outro bastante mais colorida, porque nothing succeeds like success.
Ganhou o Bloco de Esquerda. Queria uma votação que o pusesse na primeira liga, e obteve-a. Queria dois mandatos, obteve três. Os outros partidos vão tentar retratá-lo como um partido marginal e irrelevante, mas não vão conseguir. Tem uma boa equipa no Parlamento Europeu, e uma equipa de luxo na Assembleia da República - dedicada, inteligente, culta, trabalhadora, entusiástica, imaginativa, eloquente e fanática do trabalho de casa bem feito. Quase triplicou o número de votos em relação às eleições anteriores, e tem o eleitorado mais jovem de todos os partidos. Foi uma vitória enorme.
Ganhou a CDU. Queria sacudir a imagem de velharia ultrapassada, e sacudiu-a. Passou, como se esperava, da terceira posição para a quarta, mas por uma diferença mínima. Não tem as expectativas de crescimento do BE, mas não está em risco de definhar.
Ganhou o CDS. Derrotou as sondagens. Ficou numa boa posição para disputar as legislativas. Se a votação que teve se repetir, e se nem o PS nem o PSD tiver a maioria absoluta, pode aspirar à posição de partido-charneira.
Ganhou a sociedade civil. A classe política ficou notificada - ou pelo menos os mais inteligentes dos seus membros - que é impossível, além de ilegítimo, governar contra o Soberano. Para esta vitória, contribuiu decisivamente a luta dos professores. As duas referências que Paulo Rangel fez às classes profissionais no seu discurso de vitória mostram que compreendeu a importância e o poder da sociedade civil, mesmo que outros políticos ainda insistam em demonizá-la sob o epíteto depreciativo de "corporações." Mas não nos iludamos: Rangel vai para Estrasburgo e nada nos garante que os seus correlegionários que cá ficam, a começar por Manuela Ferreira Leite, tenham a mesma perspicácia ou a mesma sensibilidade.
Tão importante como falar de vitórias é falar do seu preço. O preço da derrota é a própria derrota, mas o da vitória pode variar. Quem pagou o preço mais alto pela vitória foram o PSD e o CDS. Para ganhar a Europa, tiveram que enviar para lá os seus melhores generais, e deixaram mal guarnecida a frente interna. Isto poderá ficar-lhes caro em Outubro. Já ao BE ficou barata a vitória. Não lhe faltam generais brilhantes: conservam-se em Portugal Ana Drago, Cecília Honório, Francisco Louçã, Luís Fazenda.
De tudo isto vamos nós - os professores e as outras classes profissionais - ter que tirar as devidas ilações. As regras do jogo mudaram; temos mais aliados do que tínhamos, mas não sabemos bem quais são as suas agendas nem até que ponto se articulam com a nossa. É tempo de rever tácticas e estratégias, na certeza porém que, se vencemos uma batalha, ainda estamos muito longe de ganhar a guerra.
Vencer é, tão somente, atingir ou ultrapassar os objectivos fixados; perder é não os atingir. A derrota e a vitória medem-se pela distância a que se ficou além ou aquém dos objectivos.
E não vale a pena fazer batota: se colocamos a fasquia baixa demais no intuito de podermos mais tarde cantar vitória, alguém se a encarregará de a pôr à altura certa.
Nestas eleições europeias houve um derrotado e quatro vencedores. O derrotado foi o PS. Tinha por objectivo ser o partido mais votado, ainda que por por margem estreita, e não o foi por larga margem. Tinha por objectivo ficar bem colocado para disputar as legislativas, e não ficou. Tinha por objectivo ficar com as mãos livres para fazer o que quisesse no que resta do seu mandato, e ficou com elas presas. Sócrates sabe que está perdido se continuar no caminho que traçou, mas também sabe que está perdido se se desviar dele um milímetro.
Já o PSD ganhou, e folgadamente. Bastava-lhe ficar um pouco atrás do PS e ficou muito à frente. Previa não ter alternativa à participação num bloco central, e abre-se-lhe a possibilidade de integrar um bloco de direita. A imagem cinzenta da sua líder vai ficar de um dia para o outro bastante mais colorida, porque nothing succeeds like success.
Ganhou o Bloco de Esquerda. Queria uma votação que o pusesse na primeira liga, e obteve-a. Queria dois mandatos, obteve três. Os outros partidos vão tentar retratá-lo como um partido marginal e irrelevante, mas não vão conseguir. Tem uma boa equipa no Parlamento Europeu, e uma equipa de luxo na Assembleia da República - dedicada, inteligente, culta, trabalhadora, entusiástica, imaginativa, eloquente e fanática do trabalho de casa bem feito. Quase triplicou o número de votos em relação às eleições anteriores, e tem o eleitorado mais jovem de todos os partidos. Foi uma vitória enorme.
Ganhou a CDU. Queria sacudir a imagem de velharia ultrapassada, e sacudiu-a. Passou, como se esperava, da terceira posição para a quarta, mas por uma diferença mínima. Não tem as expectativas de crescimento do BE, mas não está em risco de definhar.
Ganhou o CDS. Derrotou as sondagens. Ficou numa boa posição para disputar as legislativas. Se a votação que teve se repetir, e se nem o PS nem o PSD tiver a maioria absoluta, pode aspirar à posição de partido-charneira.
Ganhou a sociedade civil. A classe política ficou notificada - ou pelo menos os mais inteligentes dos seus membros - que é impossível, além de ilegítimo, governar contra o Soberano. Para esta vitória, contribuiu decisivamente a luta dos professores. As duas referências que Paulo Rangel fez às classes profissionais no seu discurso de vitória mostram que compreendeu a importância e o poder da sociedade civil, mesmo que outros políticos ainda insistam em demonizá-la sob o epíteto depreciativo de "corporações." Mas não nos iludamos: Rangel vai para Estrasburgo e nada nos garante que os seus correlegionários que cá ficam, a começar por Manuela Ferreira Leite, tenham a mesma perspicácia ou a mesma sensibilidade.
Tão importante como falar de vitórias é falar do seu preço. O preço da derrota é a própria derrota, mas o da vitória pode variar. Quem pagou o preço mais alto pela vitória foram o PSD e o CDS. Para ganhar a Europa, tiveram que enviar para lá os seus melhores generais, e deixaram mal guarnecida a frente interna. Isto poderá ficar-lhes caro em Outubro. Já ao BE ficou barata a vitória. Não lhe faltam generais brilhantes: conservam-se em Portugal Ana Drago, Cecília Honório, Francisco Louçã, Luís Fazenda.
De tudo isto vamos nós - os professores e as outras classes profissionais - ter que tirar as devidas ilações. As regras do jogo mudaram; temos mais aliados do que tínhamos, mas não sabemos bem quais são as suas agendas nem até que ponto se articulam com a nossa. É tempo de rever tácticas e estratégias, na certeza porém que, se vencemos uma batalha, ainda estamos muito longe de ganhar a guerra.
Notas sobre um debate
Depois de a RTP e a Sic fecharem a emissão dedicada às eleições, fiquei Na SICNotícias a ver o debate. Fez-me sorrir a afirmação de António Barreto de que José Sócrates não tinha entendido as causas da sua derrota. Não porque isto não fosse verdade, mas porque ele também não as entendeu, assim como não as entendeu nenhum dos outros paarticipantes do debate.
Nenhum deles pareceu entender que há uma sociedade civil em Portugal; que esta sociedade civil tem adquirido, nos anos mais recentes, meios de expressão e de acção que não tinha antes; e que a classe política e o comentariado perderam o monopólio da intervenção política.
É por ser assim que as sondagens falham, e hão-de falhar cada vez mais. O "vocês não existem" de que José Gil falou a propósito da relação entre a Ministra da Educação e os professores repercute-se no âmbito mais vasto das relações entre o poder e os cidadãos. E os didadãos respondem, nas urnas, "tenham lá cuidado, porque quem se arrisca a não existir são vocês."
They just don't get it. Pacheco Pereira andou lá perto, mas faltou-lhe dar o último pequeno passo. Olha para a Europa e intui, correctamente, que o problema da governabilidade está indissoluvelmente ligado ao da legitimidade; mas no momento em que vira os olhos para Portugal perde este resquício de lucidez. Alinha no coro dos políticos medíocres e dos comentadores banais e tenta passar a ideia que o problema da governabilidade é, em Portugal, uma mera questão de geometria parlamentar. Esta ideia, dum simplismo atroz, vai estar na base da campanha do PS e do PSD; compete aos segmentos letrados da sociedade civil, particularmente aos que se exprimem através da blogosfera, desmontar esta propaganda.
Finalmente, Lopo Xavier. Achei graça à sua afirmação que os jovens votantes do BE não se consideram de extrema esquerda, ou melhor, achei graça àquilo que esta afirmação subentende: que os nossos jovens são tão ingénuos e estúpidos que se deixam enganar por um lobo com pele de cordeiro. Não lhe ocorre, aparentemente, a possibilidade de os jovens portugueses terem uma ideia mais clara do que ele, menos fundada em preconceitos ideológicos, sobre a "verdadeira natureza" do BE. Nem lhe ocorre a possibilidade de haver muitos jovens (pense nos precários) que não são de extrema-esquerda mas também não se assustam com ela, e votam pragmáticamente naquilo que ela tiver para lhes propor.
A convocação repetida do fantasma de Estaline é chão que deu uvas. Ainda pode resultar com os eleitores com mais de quarenta anos (e mesmo assim não com todos); mas com os mais jovens não funciona de todo.
Se querem entender o que se está a passar politicamente em Portugal, metam os professores na equação. E não só os professores, como a sociedade civil em geral. Tentem perceber porque é que as pessoas estão, não apenas zangadas, mas furiosas. Aprendam que dizer a alguém que não existe é um erro que se paga muito caro. Não se esqueçam de ter em conta as novas tecnologias de informação e comunicação. Para a Europa, façam, mutatis mutandis, o mesmo exercício. Sem negligenciarem a necessária atenção a indícios tão subtis, e aparentemente tão insignificantes, como o resultado do Partido Pirata na Suécia.
Nenhum deles pareceu entender que há uma sociedade civil em Portugal; que esta sociedade civil tem adquirido, nos anos mais recentes, meios de expressão e de acção que não tinha antes; e que a classe política e o comentariado perderam o monopólio da intervenção política.
É por ser assim que as sondagens falham, e hão-de falhar cada vez mais. O "vocês não existem" de que José Gil falou a propósito da relação entre a Ministra da Educação e os professores repercute-se no âmbito mais vasto das relações entre o poder e os cidadãos. E os didadãos respondem, nas urnas, "tenham lá cuidado, porque quem se arrisca a não existir são vocês."
They just don't get it. Pacheco Pereira andou lá perto, mas faltou-lhe dar o último pequeno passo. Olha para a Europa e intui, correctamente, que o problema da governabilidade está indissoluvelmente ligado ao da legitimidade; mas no momento em que vira os olhos para Portugal perde este resquício de lucidez. Alinha no coro dos políticos medíocres e dos comentadores banais e tenta passar a ideia que o problema da governabilidade é, em Portugal, uma mera questão de geometria parlamentar. Esta ideia, dum simplismo atroz, vai estar na base da campanha do PS e do PSD; compete aos segmentos letrados da sociedade civil, particularmente aos que se exprimem através da blogosfera, desmontar esta propaganda.
Finalmente, Lopo Xavier. Achei graça à sua afirmação que os jovens votantes do BE não se consideram de extrema esquerda, ou melhor, achei graça àquilo que esta afirmação subentende: que os nossos jovens são tão ingénuos e estúpidos que se deixam enganar por um lobo com pele de cordeiro. Não lhe ocorre, aparentemente, a possibilidade de os jovens portugueses terem uma ideia mais clara do que ele, menos fundada em preconceitos ideológicos, sobre a "verdadeira natureza" do BE. Nem lhe ocorre a possibilidade de haver muitos jovens (pense nos precários) que não são de extrema-esquerda mas também não se assustam com ela, e votam pragmáticamente naquilo que ela tiver para lhes propor.
A convocação repetida do fantasma de Estaline é chão que deu uvas. Ainda pode resultar com os eleitores com mais de quarenta anos (e mesmo assim não com todos); mas com os mais jovens não funciona de todo.
Se querem entender o que se está a passar politicamente em Portugal, metam os professores na equação. E não só os professores, como a sociedade civil em geral. Tentem perceber porque é que as pessoas estão, não apenas zangadas, mas furiosas. Aprendam que dizer a alguém que não existe é um erro que se paga muito caro. Não se esqueçam de ter em conta as novas tecnologias de informação e comunicação. Para a Europa, façam, mutatis mutandis, o mesmo exercício. Sem negligenciarem a necessária atenção a indícios tão subtis, e aparentemente tão insignificantes, como o resultado do Partido Pirata na Suécia.
sábado, 6 de junho de 2009
LES CHATS
Les amoureux fervents et les savants austères
Aiment également, dans leur mûre saison,
Les chats puissants et doux, orgueil de la maison,
Qui comme eux son frileux et comme eux sédentaires.
Amis de la science et de la volupté,
Ils cherchent le silence et l'horreur des ténèbres:
L'Érèbe les eût pris pour ses coursiers funèbres,
S'ils pouvaient au servage incliner leur fierté.
Ils prennent en songeant les nobles attitudes
Des grands sphinx alongés au fond des solitudes,
Qui semblent s'endormir dans un rêve sans fin:
Leurs reins féconds sont pleins d'étincelles magiques,
Et des parcelles d'or, ainsi qu'un sable fin,
Étoilent vaguement leurs prunelles mystiques.
Charles Baudelaire
2.550.000.000,00 €
Assim, com estes zeros todos. Duzentos e cinquenta e cinco euros por cada português. Quinhentos e dez euros por cada casal sem filhos. Mil e vinte euros por cada família de quatro pessoas.
Foi o que uns roubaram aos accionistas, depositantes e credores do BPN. Foi o que outros roubaram aos contribuintes portugueses para cobrir este roubo.
... e ainda assim vai haver quem vote neles?!
Foi o que uns roubaram aos accionistas, depositantes e credores do BPN. Foi o que outros roubaram aos contribuintes portugueses para cobrir este roubo.
... e ainda assim vai haver quem vote neles?!
quinta-feira, 4 de junho de 2009
Recomendação de voto para as europeias
Desculpem-me o que parece ser um atrevimento - quem sou eu para fazer recomendações de voto aos meus concidadãos - mas não é atrevimento. Cada cidadão deve ser livre de fazer aos outros as recomendações que entender, desde que se disponha em troca a ter em conta as recomendações que lhe fizerem. Eu já estou decidido a votar no BE para as eleições europeias, e quase decidido a votar nele para as legislativas; mas ainda não sei em quem vou votar para as autárquicas, tendo em conta que voto na Maia e que não vivo neste Concelho há tempo suficiente para ter uma ideia clara dos méritos e deméritos das forças políticas locais, nem da utilidade do meu voto em termos nacionais.
Vamos então às recomendações. A primeira coisa que peço aos meus concidadãos é que não se abstenham nem votem branco: quem cala consente, e estão a acontecer demasiadas coisas, em Portugal e na Europa, em que um cidadão consciente não pode consentir.
A segunda está aqui na coluna do lado: peço-lhes que não votem PS nem PSD. Estes partidos, largamente maioritários no Parlamento, têm provado em ocasiões sucessivas que são ultra-minoritários nos interesses que representam. No que respeita a Europa, ambos defendem a ressureição, nem que seja à força, do Tratado de Lisboa, ou seja, da constitucionalização do neoliberalismo; e ambos apoiam a reeleição de Durão Barroso, que é o rosto desta ideologia e desta política.
A terceira recomendação será talvez surpreendente: não votem no MPT Partido da Terra. Porque me preocupo eu, perguntarão, com uma força política tão insignificante? Cujas probabilidades de eleger um deputado são ínfimas? E que ainda por cima tem um programa que parece, no âmbito nacional, ser razoavelmente inócuo e até, nalguns aspectos, simpático?
Porque, no âmbito europeu, o programa do MPT é tudo menos inócuo ou simpático: O MPT deixou-se constituir como filial portuguesa do movimento pan-europeu Libertas, com o qual (e cabe aqui um mea-culpa) me deixei entusiasmar até ser informado do que ele é e do que pretende. A razão do meu entusiasmo foi a oposição do Libertas ao Tratado de Lisboa; a razão da minha mudança de ideias foi a descoberta que, não faltando boas razões para que nos oponhamos a este documento, o Libertas se lhe opõe por razões ignóbeis. Basicamente, o Libertas é uma aliança entre as extremas-direitas irlandesa, francesa e holandesa, os britânicos saudosos da Sra. Thatcher e os ultra-católicos polacos que querem impor o ensino do criacionismo em todas as escolas da Europa. O que menos preocupa o Libertas no Tratado de Lisboa é a constitucionalização do neoliberalismo: pelo contrário, esta constitucionalização é provavelmente a única coisa que lhes agrada nele.
É certo que o Sr. Daclan, líder do Libertas, disse uma verdade lapidar quando declarou que se UE se candidatasse à UE nunca seria aceite por não satisfazer os critérios de democraticidade necessários; mas não é por um populista mentiroso dizer ocasionalmente uma verdade que deixa de ser um populista mentiroso.
Os meus objectivos ao votar nas europeias são, além de barrar o caminho ao Sr. Daclan, à extrema-direita europeia e ao Tratado de Lisboa, dificultar a passagem de certas barbaridades que se preparam em Bruxelas, como a semana de trabalho de 65 horas - ou de 7 dias, noutra versão mais recente - e o Pacote das Telecomunicações, que foi objecto duma votação no passado dia 6 de Maio e será objecto doutra em Setembro.
O que esteve em causa a 6 de Maio foi a vontade de Sarkozy de que nos pudesse ser cortado o acesso à Internet, se fizéssemos downloads ilegais, por mera decisão administrativa. Esta cláusula foi derrotada, obrigando a nova discussão do pacote na generalidade. Dos deputados portugueses, estiveram bem a 6 de Maio, os seguintes: do PCP, Ilda Figueiredo e Pedro Guerreiro; do BE, Miguel Portas; do PS, todos; do CDS/PP, Ribeiro e Castro; e do PSD, ninguém. Nem bem nem mal andaram os seguintes, que se abstiveram: do PSD, Duarte Freitas, Sérgio Marques e Silva Peneda; e do CDS/PP, Luiz Queiró.
Francamente mal andaram Assunção Esteves, João de Deus Pinheiro e Vasco Graça Moura, todos do PSD.
O que vai estar em causa em Setembro é muito mais grave: a possibilidade de acabar o acesso livre dos internautas aos diversos sites, que passarão a ser facultados em pacotes, como actualmente a televisão por cabo. Se isto for adiante, passarei a só ter acesso ao "Arrastão", ao "Insurgente", ao "Blasfémias", ao "País do Burro" ao EsquerdaNet", ao "Jugular" ou ao "Educação do Meu Umbigo" se estes blogues fizerem parte dos pacotes vendidos pelas empresas operadoras. E os meus leitores deixarão de ter acesso a este blogue, já que nenhuma operadora verá nele interesse comercial.
E daqui decorre a minha quarta, e última, recomendação: examinem, por favor, o historial de votações dos candidatos a deputado; tentem prever, a partir deste historial, o sentido das suas votações futuras; votem em consequência; e nunca por nunca se abstenham, porque as decisões das instituições europeias afectam mais as nossas liberdades, o nosso bem-estar económico e a nossa qualidade de vida do que as do governo português.
PS. Percorri os blogues e sites dos partidos e movimentos políticos portugueses à procura de referências ao Pacote das Telecomunicações e às posições desses partidos em relação a ele. A única coisa que encontrei foi um alerta do MIC, publicado antes da votação de 6 de Maio e ao qual não foi dado posteriormente qualquer seguimento. Daniel Oliveira queixa-se aqui que o BE é acusado de não trazer as questões europeias para a campanha eleitoral quando a verdade é que as traz mas a Comunicação Social não as deixa passar, preferindo noticiar o espectáculo. Certo é que eu também não vejo, nem no Arrastão, nem nos sites ligados ao BE, uma discussão assídua do Pacote das Telecomunicações, do significado e consequências do Tratado de Lisboa para as nossas vidas, ou da democraticidade das instituições europeias. Se a esquerda não traz estas questões ao debate público, deixa o campo aberto para que a direita - ou a extrema-direita, neste caso - as traga. E assim será a direita a definir os termos do debate.
Vamos então às recomendações. A primeira coisa que peço aos meus concidadãos é que não se abstenham nem votem branco: quem cala consente, e estão a acontecer demasiadas coisas, em Portugal e na Europa, em que um cidadão consciente não pode consentir.
A segunda está aqui na coluna do lado: peço-lhes que não votem PS nem PSD. Estes partidos, largamente maioritários no Parlamento, têm provado em ocasiões sucessivas que são ultra-minoritários nos interesses que representam. No que respeita a Europa, ambos defendem a ressureição, nem que seja à força, do Tratado de Lisboa, ou seja, da constitucionalização do neoliberalismo; e ambos apoiam a reeleição de Durão Barroso, que é o rosto desta ideologia e desta política.
A terceira recomendação será talvez surpreendente: não votem no MPT Partido da Terra. Porque me preocupo eu, perguntarão, com uma força política tão insignificante? Cujas probabilidades de eleger um deputado são ínfimas? E que ainda por cima tem um programa que parece, no âmbito nacional, ser razoavelmente inócuo e até, nalguns aspectos, simpático?
Porque, no âmbito europeu, o programa do MPT é tudo menos inócuo ou simpático: O MPT deixou-se constituir como filial portuguesa do movimento pan-europeu Libertas, com o qual (e cabe aqui um mea-culpa) me deixei entusiasmar até ser informado do que ele é e do que pretende. A razão do meu entusiasmo foi a oposição do Libertas ao Tratado de Lisboa; a razão da minha mudança de ideias foi a descoberta que, não faltando boas razões para que nos oponhamos a este documento, o Libertas se lhe opõe por razões ignóbeis. Basicamente, o Libertas é uma aliança entre as extremas-direitas irlandesa, francesa e holandesa, os britânicos saudosos da Sra. Thatcher e os ultra-católicos polacos que querem impor o ensino do criacionismo em todas as escolas da Europa. O que menos preocupa o Libertas no Tratado de Lisboa é a constitucionalização do neoliberalismo: pelo contrário, esta constitucionalização é provavelmente a única coisa que lhes agrada nele.
É certo que o Sr. Daclan, líder do Libertas, disse uma verdade lapidar quando declarou que se UE se candidatasse à UE nunca seria aceite por não satisfazer os critérios de democraticidade necessários; mas não é por um populista mentiroso dizer ocasionalmente uma verdade que deixa de ser um populista mentiroso.
Os meus objectivos ao votar nas europeias são, além de barrar o caminho ao Sr. Daclan, à extrema-direita europeia e ao Tratado de Lisboa, dificultar a passagem de certas barbaridades que se preparam em Bruxelas, como a semana de trabalho de 65 horas - ou de 7 dias, noutra versão mais recente - e o Pacote das Telecomunicações, que foi objecto duma votação no passado dia 6 de Maio e será objecto doutra em Setembro.
O que esteve em causa a 6 de Maio foi a vontade de Sarkozy de que nos pudesse ser cortado o acesso à Internet, se fizéssemos downloads ilegais, por mera decisão administrativa. Esta cláusula foi derrotada, obrigando a nova discussão do pacote na generalidade. Dos deputados portugueses, estiveram bem a 6 de Maio, os seguintes: do PCP, Ilda Figueiredo e Pedro Guerreiro; do BE, Miguel Portas; do PS, todos; do CDS/PP, Ribeiro e Castro; e do PSD, ninguém. Nem bem nem mal andaram os seguintes, que se abstiveram: do PSD, Duarte Freitas, Sérgio Marques e Silva Peneda; e do CDS/PP, Luiz Queiró.
Francamente mal andaram Assunção Esteves, João de Deus Pinheiro e Vasco Graça Moura, todos do PSD.
O que vai estar em causa em Setembro é muito mais grave: a possibilidade de acabar o acesso livre dos internautas aos diversos sites, que passarão a ser facultados em pacotes, como actualmente a televisão por cabo. Se isto for adiante, passarei a só ter acesso ao "Arrastão", ao "Insurgente", ao "Blasfémias", ao "País do Burro" ao EsquerdaNet", ao "Jugular" ou ao "Educação do Meu Umbigo" se estes blogues fizerem parte dos pacotes vendidos pelas empresas operadoras. E os meus leitores deixarão de ter acesso a este blogue, já que nenhuma operadora verá nele interesse comercial.
E daqui decorre a minha quarta, e última, recomendação: examinem, por favor, o historial de votações dos candidatos a deputado; tentem prever, a partir deste historial, o sentido das suas votações futuras; votem em consequência; e nunca por nunca se abstenham, porque as decisões das instituições europeias afectam mais as nossas liberdades, o nosso bem-estar económico e a nossa qualidade de vida do que as do governo português.
PS. Percorri os blogues e sites dos partidos e movimentos políticos portugueses à procura de referências ao Pacote das Telecomunicações e às posições desses partidos em relação a ele. A única coisa que encontrei foi um alerta do MIC, publicado antes da votação de 6 de Maio e ao qual não foi dado posteriormente qualquer seguimento. Daniel Oliveira queixa-se aqui que o BE é acusado de não trazer as questões europeias para a campanha eleitoral quando a verdade é que as traz mas a Comunicação Social não as deixa passar, preferindo noticiar o espectáculo. Certo é que eu também não vejo, nem no Arrastão, nem nos sites ligados ao BE, uma discussão assídua do Pacote das Telecomunicações, do significado e consequências do Tratado de Lisboa para as nossas vidas, ou da democraticidade das instituições europeias. Se a esquerda não traz estas questões ao debate público, deixa o campo aberto para que a direita - ou a extrema-direita, neste caso - as traga. E assim será a direita a definir os termos do debate.
Teoria e prática
Neoliberalismo na teoria: Não há almoços grátis.
Neoliberalismo na prática: Almoços grátis, só para o sector financeiro.
Neoliberalismo na prática: Almoços grátis, só para o sector financeiro.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
De novo a abstenção
Ouve-se dizer muitas vezes "não vou votar porque não me identifico com nenhum dos partidos candidatos".
Para que todos nos identificássemos garantidamente com um partido, teria que haver em Portugal dez milhões de partidos. Exigir um partido à medida de cada um é irrealismo e megalomania. Ninguém vota no melhor partido: votamos todos (excepto os clubistas) no partido menos mau. O mundo é assim mesmo.
Para mim, o menos mau ainda é o BE, embora a minha confiança neles tenha sofrido um rude golpe aquando da aprovação, na Assembleia da República, da lei do financiamento partidário. Mas em contrapartida estiveram muito bem no Parlamento Europeu a 6 de Maio, quando se votou o Pacote das Telecomunicações.
Para que todos nos identificássemos garantidamente com um partido, teria que haver em Portugal dez milhões de partidos. Exigir um partido à medida de cada um é irrealismo e megalomania. Ninguém vota no melhor partido: votamos todos (excepto os clubistas) no partido menos mau. O mundo é assim mesmo.
Para mim, o menos mau ainda é o BE, embora a minha confiança neles tenha sofrido um rude golpe aquando da aprovação, na Assembleia da República, da lei do financiamento partidário. Mas em contrapartida estiveram muito bem no Parlamento Europeu a 6 de Maio, quando se votou o Pacote das Telecomunicações.
Abstenção
Não, não me vou abster. Nem votar branco. Nem votar nulo. Porque quem cala, consente, e eu não quero consentir.
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