Perguntam-me muitas vezes o que é que eu tenho conta as Ciências da Educação. E eu respondo: o mesmo que tenho contra a Bioquímica, ou seja, nada.
Sem os avanços da Bioquímica, muitos progressos que tem havido na Medicina nunca se teriam verificado. A Bioquímica reveste-se, portanto, de autoridade sobre a profissão médica. E os médicos aceitam esta autoridade de boa vontade.
A bioquímica impõe-se aos médicos pela sua autoridade própria, não através da autoridade do Estado. Os investigadores em Bioquímica nunca colonizaram o Ministério da Saúde nem elaboraram a partir dele normas legais para os médicos respeitarem. Validam as suas teorias e as suas descobertas através dos protocolos estabelecidos para as Ciências: avaliação pelos pares, replicabilidade dos resultados, etc. E as técnicas a que as suas teorias dão origem passam, para chegarem aos consultórios e às salas de operações, por um crivo profissional - não por um crivo político, burocrático ou administrativo. É por isso que em Medicina há progresso.
Em Educação há, em vez de progresso, inovação. Não gosto muito desta palavra. Implica mudança, que pode ser para melhor mas também para igual ou pior. Faz-me engulhos que no Ministério da Educação haja organismos dedicados à Inovação -assim, com maiúscula e carácter obrigatório. Porque sentem as Ciências da Educação esta necessidade de se imporem aos professores através da autoridade do Estado? Não têm autoridade própria? Porque colonizam o Ministério da Educação? Se os próprios especialistas nestas disciplinas confiam tão pouco na sua validade, porque hei-de eu, professor, confiar nela?
Não desejo que fechem as Escolas Superiores de Educação. Pelo contrário, desejo que prosperem, e que apresentem no mercado das ideias as suas conclusões para serem ou não adoptadas por quem tem que construir, a partir delas, técnicas que funcionem no terreno. Mas larguem o Ministério da Educação, que já é grande demais e tem demasiados parasitas. É um favor que fazem aos professores, aos alunos, à sociedade em geral e, a longo prazo, a si próprias. Uma ciência que se impõe por decreto é uma ciência que desistiu de o ser.
Blogue sobre livros, discos, revistas e tudo o mais de que me apeteça escrever...
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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.
..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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12 comentários:
Sugiro que o JLS passe pelo blog "Kontratempos".
Lá um apparatchick do partido socialista, mas que ainda não saiu mentalmente do bloco de esquerda escreve um pedaço de lixo onde explica para que é que serve as ciências da educação.
A explicação é qualquer coisa como "são as pessoas que sabem" os que estudam, os profissionais.
Entre muitas asneiras, lá escritas, deduz-se que são as pessoas que sabem,dotados desse saber por Deus ou qualquer outra entidade e portanto o resto dos comuns mortais não pode opinar.
Caro Dissidente, obrigado pela indicação. Já fui ao Kontratempos e já lá deixei um comentário.
Ciências da Educação, pelo seu nome, deduz-se que seja uma ciência que estuda, investiga e apresenta conclusões sobre a Educação. Contudo, como muito bem escreveu, não fazem apenas isso. Legislam. Sinceramente, e até pode ser ignorância minha, não tenho visto debates públicos alargados sobre essas novas conclusões, sobre novas metodologias, sobre o impacto que estas poderão ter num sistema educativo, etc. Ou seja, alguém mestrado ou doutorado (se existe) em Ciências da Educação deverá ser ouvido, mas não pode, ter um cargo que lhe permite, tornar conclusões de um seu estudo em generalização para um sistema educativo. E quando há outros estudos e outras conclusões? Como abranger, comparar e cruzar todos esses "novos" conhecimentos? Como torná-los exequíveis num sistema generalizado?
Quanto destes mestres leccionaram durante o tempo suficiente para poderem integrar uma experiência profissional longa e heterogeneizada nesses estudos e nas suas conclusões?São muitas perguntas, eu sei, mas que infelizmente não obtenho resposta. Contudo, uma conclusão posso eu fazer: nos últimos anos (décadas até), a Ciência da Educação, foi generalizada teoricamente no sistema educativo português, com o "sucesso" que se vê.
Não tenho nada contra as Ciências da Educação, aliás, considero um mestrado bastante válido. No entanto, como qualquer conjunto de teorias, deve ser visto como base, e não como um fim...
Muito bem.
Pela minha parte suponho que os cientólogos da educação encontraram, na "ciência" uma terapia de substituição, algo metafísica com pitadas de divino, aos velhos "amanhãs" que derrocaram.
Tratar-se-á de fazer um homem novo ("Inovação") através de um 'novo aluno', convenientemente "educado".
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Eu não percebo nada de ciências da educação, mas acho que seria muito melhor reduzir o número de alunos por turma, parece que há turmas com mais de 30, para menos de 20 alunos por turma. Em vez de os professores perderem tempo com burocracias, aulas de substituição, e outras dispensáveis, usariam esse tempo para ensinar mais, porque se o número de alunos por turma for reduzido serão precisas mais horas de ensino. O governo também poderia ajudar nisso empregando mais professores.
É que de 20 vagabundos para 30 vagabundos vai muita diferença, e até 20 são muitos. Eu aposto que com turmas de 10 o sucesso escolar seria muito bom, embora o ideal fossem turmas de apenas 2 alunos, um para filmar com o telemóvel e outro para embirrar com o professor.
Fora a brincadeira de turmas de 2, turmas de 20, ou menos de 20, seria uma coisa muito boa para as escolas.
Quantos alunos há por turma na Finlândia? Afinal quais são os truques dos finlandeses para serem os melhores na educação, ainda por cima com escolas que são públicas, e não como as boas privadas inlesas?
Sr. José Luís Sarmento,
a mim ninguém me pergunta e não chego a perceber porquê. Só me falta fazer uso de uma pistola tazer quando topo qualquer um dos seus sinais.
Ao contrário do que sucede consigo tenho tudo contra as “ciências da educação”. Porquê? Precisamente porque as não posso comparar com a Bioquímica do seu exemplo. No que a esta se refere, o Sr. disse quase tudo o que precisamos de saber para a ter como coisa respeitável, praticada por gente de bem e socialmente útil. No caso das “ciências da educação” a coisa fia mais fino. Senão, vejamos:
As utilizações da palavra “ciência” – pelo menos no seu uso comum e naquele que para aqui nos importa – referem-se a um conjunto de conhecimentos que são universais, exactos, verificáveis e passíveis de serem expressos por meio de leis.
De onde resulta que as “ciências da educação” pretendem ser o que não são. Portanto, são uma charlatanice. E isso não é respeitável nem próprio de gente de bem.
Aquilo que as “ciências da educação” poderiam ser (de entre as categorias de conhecimento cuja sistematização herdámos do séc. XVIII) se estas quisessem ser alguma coisa e ao mesmo tempo serem sérias e próprias de gente de bem, seriam uma forma de arte.
Repare que não pretendo que fossem coisa menor. Se exceptuarmos uma reduzida meia dúzia de tontos que ninguém leva a sério, entre a comunidade científica não há ninguém que defenda a superioridade das ciências em relação às artes ou a qualquer outra categoria de conhecimento. Todos entendem que elas se equivalem e complementam, que pouco valem isoladamente (escuso-me a indicação de biblio. no domínio da filosofia das ciências …).
Mas isso teria algumas consequências no método e “elas” (as “ciências da educação”) escolheram ser desonestas.
Saudações
Carlos Gonçalves
Sr. José Luís Sarmento,
a mim ninguém me pergunta e não chego a perceber porquê. Só me falta fazer uso de uma pistola taser quando topo qualquer um dos seus sinais.
Ao contrário do que sucede consigo tenho tudo contra as “ciências da educação”. Porquê? Precisamente porque as não posso comparar com a Bioquímica do seu exemplo. No que a esta se refere, o Sr. disse quase tudo o que precisamos de saber para a ter como coisa respeitável, praticada por gente de bem e socialmente útil. No caso das “ciências da educação” a coisa fia mais fino. Senão, vejamos:
As utilizações da palavra “ciência” – pelo menos no seu uso comum e naquele que para aqui nos importa – referem-se a um conjunto de conhecimentos que são universais, exactos, verificáveis e passíveis de serem expressos por meio de leis.
De onde resulta que as “ciências da educação” pretendem ser o que não são. Portanto, são uma charlatanice. E isso não é respeitável nem próprio de gente de bem.
Aquilo que as “ciências da educação” poderiam ser (de entre as categorias de conhecimento cuja sistematização herdámos do séc. XVIII) se estas quisessem ser alguma coisa e ao mesmo tempo serem sérias e próprias de gente de bem, seriam uma forma de arte.
Repare que não pretendo que fossem coisa menor. Se exceptuarmos uma reduzida meia dúzia de tontos que ninguém leva a sério, entre a comunidade científica não há ninguém que defenda a superioridade das ciências em relação às artes ou a qualquer outra categoria de conhecimento. Todos entendem que elas se equivalem e complementam, que pouco valem isoladamente (escuso-me a indicação de biblio. no domínio da filosofia das ciências …).
Mas isso teria algumas consequências no método e “elas” (as “ciências da educação”) escolheram ser desonestas.
Saudações
Carlos Gonçalves
Eu não teria escrito melhor.
Parabéns!
la tem razão quando fala na dimensão das turmas. Naturalmente que com turmas enormes muitas vezes em salas sem condições mínimas é impossível trabalhar bem.
Mas, a propósito da Finlândia, há um aspecto em que não tocamos. Ao contrário do que acontece pelos países nórdicos, aqui as crianças são maltratadas. Andei lá por cima há dois anos, no verão, com toda a gente na rua a aproveitar o sol e nunca ouvi uma criança chorar ou fazer uma birra. Mas também não vi nenhum adulto a gritar com elas, a tratá-las de forma agressiva. No ano passado, por razões de saúde, estive quinze dias na praia, no Algarve. Fiquei assustada. Toda a gente comandava agressivamente as crianças pequenas e poucos estavam disponíveis para brincar com elas.
Estes crescem de certeza mais agressivos do que os que têm à volta ambiente de tranquilidade. Começa logo aqui a diferença. E os pais de cá julgarão que estão a educar gritando ordens a torto e a direito.
Caro dutilleul,
Não percebo qual foi a facada que as CE deram no país. É minha opinião, por muito modesta que seja, que à falta de melhor, se bate nestas porque não há mais. O resto ou já mataram, ou está em coma.
A verdade é que nos últimos anos se resolveu dizer que todos os que habitam e percorrem os corredores do respectivo ministério são "cientistas da educação". Coisa que não sei o que é, dado que não existem. Podem-lhe chamar pedagogos, educólogos, o que quiserem. É indiferente.
Ora isto não passa de uma grandessíssima balela, meu caro. É verdade que alguns deles podem ter especialização nesta área, não o contrario, mas daí até responsabilizar uma área de estudo pelo estado das coisas ainda vai um bocadinho, não lhe parece?
E quando ainda não tinham inventado, isto é, denominado esta fatia do conhecimente, as CE? De quem era a culpa? Dos profissionais especializados em quê?
Parece-me um ataque barato e completamente ouco. Acrescente um bocadinho de vácuo e ficará digno de publicação com capa dura e título a oiro!
Em relação à definição de "ciência", tenha cuidado não se queime, é que se puxa a braza mais um bocadinho ainda corre o risco.
Será assim tão difícil descortinar a utilidade das CE? Serão os investigadores da área todos incompetentes? Terão todos eles vivido dentro de cápsulas durante os anos que precederam a especialização (limito-me a falar destes, os licenciados não são chamados para o caso)? É que com tanto ataque não percebo como é que ainda há professores a especializar-se nas CE... ah! Esses são os que vendem a alma ao demónio por meia dúzia de tustos...
Sejamos correctos. Existem muitos e bons investigadores na área. Os contributos são reais e aplicáveis.
Se os que andam no ME são do grupo dos que falo? Bom... aí concordamos.
Luís Matos
Calo Luís Matos,
Lamento que as minhas palavras se tenham prestado ao equívoco em que labora o seu comentário. Culpa minha.
Esclareço que estava longe da minha intenção ofender, de qualquer modo, qualquer colega que tenham investido nas “ciências da educação” e em particular todos aqueles que não têm vivido “dentro de cápsulas”.
Feito este esclarecimento, reitero tudo o que escrevi no meu comentário e subscrevo o post de José Luiz Sarmento.
Caro Luís Matos,
Lamento que as minhas palavras se tenham prestado ao equívoco em que labora o seu comentário. Culpa minha.
Esclareço que estava longe da minha intenção ofender, de qualquer modo, qualquer colega que tenha investido nas “ciências da educação” e em particular todos aqueles que não têm vivido “dentro de cápsulas”.
Feito este esclarecimento, reitero tudo o que escrevi no meu comentário e subscrevo o essencial do post de José Luiz Sarmento.
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