(Publicado em 13.12.06 no meu blogue Lyceum)
Num artigo anterior comparei Maria de Lurdes Rodrigues a Maria Antonieta, de quem ficou famosa a frase "comam brioche" ao ser informada de que a arraia miúda de Paris se manifestava por não ter pão.
"Se não têm pão, comam brioche:" a frase, aparentemente dum cinismo intolerável, pode não ter sido assim tão cínica. É possível que a jovem rainha de França ignorasse sinceramente que a falta de pão pudesse ser para algumas pessoas mais do que uma inconveniência momentânea, facilmente suprida pela abundância de bolos. Já o "eles que chamem a polícia" de Maria de Lurdes Rodrigues a propósito da violência sobre os professores é com certeza bem menos inocente: a Avenida 5 de Outubro não está tão isolada da rua como Versailles de Paris.
Retomo a comparação a propósito de outra frase da Ministra, que eu próprio testemunhei. De visita a uma escola secundária situada num edifício antigo, muito bonito e muito frio, comentou:
- Não sei como é que os alunos aguentam este frio.
- Os alunos e os professores, senhora Ministra - lembrou-lhe alguém.
Maria de Lurdes fechou a expressão:
- Ah, os professores... Se vocês gerissem melhor os recursos, podiam comprar aquecedores.
É difícil explicar a quem não conheça as nossas escolas a monstruosa injustiça destas palavras. Quem diz uma enormidade destas junta o insulto à injúria. Se a senhora queria dizer que o orçamento do Ministério da Educação anda muito mal gerido e que se desperdiçam muitos milhões de euros, tem razão. Mas não é "no terreno" que esse desperdício se verifica, é no aparelho administrativo do Ministério. O dinheiro que falta para comprar caldeiras, canalizações, radiadores e gás sobra para pagar aos milhares de burocratas e "pedagogos" que todos os dias fazem crescer mais um pouco a montanha de lixo legislativo que pesa sobre as escolas.
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