Toda a gente diz que vivemos num regime democrático - e se toda a gente o diz, deve ser verdade.
Porém, que democracia é a nossa? É esta a questão que me vexa e deixa perplexo. Democracia representativa não é porque os eleitos não representam ninguém que não seja os aparelhos partidários - e, vá lá, um ou outro grupo de interesses que lhes meta mais medo. Democracia directa também não: os referendos são raros e pouco participados, e não é constitucionalmente possível que partam da iniciativa popular.
Democracia participativa, que é o que está em moda nos meios modernaços e politicamente correctos? Mas como assim, se em nome do combate às corporações tudo se faz para tirar a palavra às pessoas e impedir, justamente, que participem nas decisões que lhes dizem respeito?!*
O que o regime político português mais me faz lembrar é aquela cantigueta brasileira sobre uma casa muito engraçada que não tinha chão, nem tecto, nem paredes, nem portas, nem janelas, nem «pinico» para fazer xixi.
Não sei como é que chegámos a este buraco em que a melhor grelha interpretativa para entender o presente não pode ser encontrada na História, na Filosofia, na Psicologia, no Direito, na Ciência Política, na Ética nem na Sociologia, mas sim numa cantiguinha de infantário. Mas é neste buraco que estamos, e é dele que de uma maneira ou outra temos que sair, porque não tem nada de engraçado.
*Não, não estou a falar apenas de casos como o de Fernando Charrua; estou a falar também de técnicas muito mais hábeis e muito mais eficazes, das quais conto vir a dar alguns exemplos em posts futuros.
Blogue sobre livros, discos, revistas e tudo o mais de que me apeteça escrever...
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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.
..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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1 comentário:
Se o texto não fosse teu, sem vergonha te digo: era meu. Não podia estar mais de acordo com o que aqui acabas de escrever. Quanto ao texto, estamos falados, 100% de acordo.
Quanto às origens que fazem de Portugal um "país", não como outro qualquer: um "país". Aqui as coisas, eu "pinto-as" para além do politicamente correcto. Os votantes sabem o que querem. Por isso, eles não mudam. A corrupção crassa por tudo quanto é sítio. Ao dizer por tudo quanto é sítio, estou a dizer que muitos dos que dizem mal desta "badalhoquice" votam em quem lhes interessa. Não votam em quem saiba ou queira governar o País. Têm medo. É que com estes, a pequena corrupção também tem o seu lugar garantido. Contudo, se eles trocarem o voto para gente decente, a corrupção pode acabar em todos os sentidos. Por isso, também lhes toca. Estes caso de os desempregados terem andado arranjar baixa para não andarem pelas empresas a pedir algo para confirmar o seu interesse por trabalho, que confirmasse o seu interesse por alcançar um posto de trabalho, disse-me tudo: não saíram para a rua contestar a lei que tanto os humilha, arranjaram forma de a tornear. Por isso, os eleitores votarem em quem têm votado: «dá para todos», pensam eles. Não arriscam em mudar o voto, porque com gente séria a governar este "país", pode não dar para ninguém. Já não vou no politicamente correcto. Há muita coisa escondida. Mesmo naqueles que nos acompanham a dizer mal dos políticos.
Adorei o teu texto e sempre que haja algo de novo, avisa. Eu estou na Costa do Marfim junto de crianças abandonadas, estou a tentar ser útil a esta "humanidade" porca. Contudo, o meu filho faz um apanhado dos comentários que pensa serem os que mais me interessam e enviamos por telex. Depois aqui faço um apanhado e ele faz-me o favor de os comentar como sendo eu. Mas em Outubro, aí estarei. Mas quando voltares a dar seguimento ao texto que vais fazer, deixa comentário no meu último poste, que vai ser o mesmo até 31 de Outubro. Há sempre artigos que me interessam ler e, pelo que estou a ver, os teus são do meu interesse.
Até sempre
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