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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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segunda-feira, 30 de julho de 2007

A espiral produção-consumo

(Publicado originalmente em Abril de 2005, no Leviathan)

O NorteShopping, no limite entre o Porto e Matosinhos, está construído no lugar duma antiga indústria têxtil. Em homenagem a esta indústria, a decoração do centro comercial inclui fotografias ampliadas de grupos de operárias, teares, uma carreta do serviço de incêndios privativo da fábrica, etc.

Mas quem for passear no NorteShopping não poderá deixar de reparar na peça central desta exibição: uma enorme máquina a vapor - hoje movida por um motor eléctrico - ocupando a quase totalidade de uma das praças centrais e desenvolvendo-se em altura por dois pisos.
Circundemos esta máquina. Reparemos nos cilindros, nos êmbolos, nas correias de transmissão de movimento, nos dispositivos de lubrificação; e atentemos, a certa altura, num pequeno dispositivo que consiste num eixo vertical em cujo extremo estão articuladas simetricamente duas hastes. Nos extremos destas, duas esferas de metal.

Estamos perante um dispositivo de auto-regulação. Quanto mais depressa a máquina funciona, maior é a velocidade de rotação deste eixo; quanto maior esta velocidade, mais as esferas metálicas se afastam uma da outra, por efeito da força centrífuga; e ao afastarem-se accionam um mecanismo que reduz a pressão do vapor e a velocidade a que a máquina funciona. Como o controlo se faz através duma redução, chama-se a isto um processo de feedback negativo.

Também na economia há exemplos de feedback negativo. A lei da oferta e da procura é um deles.

Imaginemos agora que há sessenta anos tinha aparecido naquela fábrica um gestor a dizer que quanto mais depressa a máquina funcionasse, melhor. E que esse gestor ordenava aos engenheiros que instalassem na máquina um sistema de controle por feedback positivo. Isto é: as tais esferas metálicas, ao afastarem-se, accionariam um acelerador em vez de um travão. O que aconteceria então?

O que aconteceria é que os engenheiros se recusariam a cumprir a ordem. E se a cumprissem a caldeira acabaria por rebentar, ou as juntas por se desconjuntar, ou os rolamentos por se escangalhar, ou produzir-se-ia uma qualquer outra catástrofe. A máquina entraria num processo imparável de auto-destruição e destruiria também muito do que se encontrasse à sua volta, incluindo o mais barato de tudo, que são as vidas humanas.

Tal como os engenheiros, também os economistas sabem que nenhum sistema se auto-regula por feedback positivo. Isto, quer se trate de economistas clássicos, marxistas, keynesianos ou neo-clássicos. É um princípio de racionalidade elementar com que todos concordam.

Todos? Não.

Há alguns, chamar-lhes-ei os neo-místicos (dou-lhes este nome porque são muito dados a escutar gurus) que fundamentam a sua apologia da eficiência numa espécie de mito do eterno retorno: quanto mais produzimos mais temos que consumir, quanto mais consumimos mais temos que trabalhar, quanto mais trabalhamos mais produzimos - numa espiral sem fim, ou melhor, num movimento helicoidal que nunca terminará - a não ser eventualmente na apoteose duma super-nova politico-económica.

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