A ignorância mata.
Quem não souber Física suficiente para compreender a energia cinética num automóvel em movimento tem mais probabilidades de conduzir em excesso de velocidade. Quem não souber o suficiente de teoria das probabilidades para discutir racionalmente o uso do cinto de segurança tem mais probabilidades de não o utilizar.
E, mesmo quando não mata, a ignorância põe-nos em desvantagem: quem não souber detectar uma falácia no discurso dum político ou dum jornalista, ou num anúncio publicitário, arrisca-se a votar em quem o prejudica ou a comprar caro e mau.
Em poucas matérias a ignorância é mais perigosa do que na sexualidade. Uma pessoa que acredita que a pílula anticoncepcional protege contra a SIDA; ou que não é possível engravidar na primeira relação; ou que o sexo ocasional é suficiente para assegurar uma vida plena no campo amoroso; ou que todos os homens são, por natureza, predadores e todas as mulheres, por natureza, vítimas - esta pessoa corre no máximo o risco de morrer precocemente, e no mínimo o de levar uma vida emocionalmente pobre.
É por isso que a educação sexual é necessária na família, e subsidiariamente nas escolas. Trata-se de evitar sofrimento e morte.
Mas a educação sexual nas escolas pode constituir ela própria um perigo se for ideologizada - isto é, se a coberto de uma qualquer pedagogia "dos valores" for usada como pretexto para impor, de forma acrítica e sem possibilidade de contraditório, um qualquer moralismo - seja ele, à direita, o moralismo anti-sexual do judeo-cristianismo, ou à esquerda o ideal andrógino do politicamente correcto. A única moral que cabe nesta disciplina é a do consenso; e a única ética é uma ética prudencial que assegure que cada um sabe o que faz quando toma decisões no plano sexual. Os nossos jovens precisam desesperadamente de conhecer os factos, mas não precisam para nada de lavagens ao cérebro.
Blogue sobre livros, discos, revistas e tudo o mais de que me apeteça escrever...
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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.
..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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2 comentários:
Concordo. Informação em vez de propaganda. Mas penso que com a educação sexual não haverá grandes perigos de ideologias se se deixar de fora questões morais religiosas. Do resto não me parece haver grandes perigos em termos de valores.
O moralismo judeo-cristão não é a única ideologia com incidências na sexualidade, e está longe de ser a única a desejar a hegemonia nas salas de aula.
Certos feminismos - refiro-me aos de género, e não aos de equidade - dominam já hoje a burocracia do Ministério da Educação. Os formulários informáticos, por exemplo, já não aceitam que os professores se declarem do sexo masculino ou feminino: têm de ter "género", quer queiram, quer não.
As aulas de educação sexual podem ser o veículo ideal para fazer a mesma propaganda politicamente correcta, sexista e anti-masculina que é frequente nas escolas inglesas e americanas - segundo a qual todos os homens são culpados e todas as mulheres são vítimas de cada caso de violação, abuso sexual ou violência doméstica.
Outro perigo é o de se pretender regulamentar, geometrizar, burocratizar os afectos. Uma educação sexual que enverede por este caminho só pode empobrecer a vida dos alunos.
A educação sexual só tem sentido se for feita sem moralismos, sejam eles "conservadores" ou "progressistas". A única moral que deve transmitir é a do consenso e do consentimento. E eu não tenho a certeza que seja isto que se prepara.
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