A tecnocracia é a ditadura dos meios. Contrariamente ao que vulgarmente se pensa, o tecnocrata não é um realista pragmático; não pensa que os fins justificam os meios; pensa, sim, que os fins são irrelevantes, ou indetermináveis, ou que consistem na perpétua e circular optimização dos meios. Neste sentido, o tecnocrata é um pós-moderno e um relativista radical.
Para o tecnocrata, a acção esgota-se na técnica e os instrumentos esgotam-se na sua operação. Diz o tecnocrata: é preciso ligar todas as escolas à Internet. Para quê? Ora, para quê! (surpreende-se o tecnocrata.) Para ficarem ligadas! Diz o tecnocrata que as empresas servem para produzir riqueza, isto é, valor útil; mas o que lhe interessa não é o valor, mas sim a expressão abstracta do valor, mesmo que inútil: ou seja, o lucro. Mesmo que virtual.
O universo do tecnocrata é abstracto e intransitivo: os valores que reconhece são instrumentais e não têm objecto. Nada vale por si mesmo. O tecnocrata dá valor à eficácia independentemente do propósito e à produção independentemente do produto. Por isso desvaloriza a política, actividade que lhe parece irrelevante porque é de sua natureza estabelecer, em vez de objectivos determinados pela técnica, fins determinados pela vontade, pela moral e pelo desejo.
Por isso o tecnocrata chama aos activistas políticos, especialmente aos de esquerda, voluntaristas, moralistas e utópicos. Voluntaristas, porque prosseguem resultados que avultam, não da cega operação dos meios, mas da vontade dos governantes e dos povos; moralistas, porque avaliam a acção em função do que consideram ser o maior bem do maior número, e não em função da sua eficácia absoluta; e utópicos porque têm em conta o desejo.
O tecnocrata não tem desejos autênticos, porque para ele todo o desejo autêntico é, por definição, impossível de satisfazer. O êxito do tecnocrata consiste em acumular instrumentos a que nunca dará uso; e o próprio dinheiro, que é o instrumento por excelência, serve apenas para ganhar mais dinheiro. Ou poder, que é outro instrumento; mas isto, para o tecnocrata, já é uma perversão - uma intromissão da sociedade no mercado.
Por isso, o tecnocrata nunca pára e nunca quer que os outros parem. Orgulha-se de ser um homem de acção e despreza os de reflexão. Se alguém lhe diz que a vida sem reflexão não é digna de ser vivida, o aforismo pouco o impressiona: para ele, a vida não é para ser vivida, mas sim para ser rentabilizada. E o ócio, precisamente porque vale por si mesmo, é para ele um desvalor.
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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.
..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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1 comentário:
Caro José Luíz, desta feita não vou comentar o post acertadíssimo. Venho antes dizer-lhe que este blogue é viciante! http://aescadadepenrose.blogspot.com/2009/08/vicios.html
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