O meu primeiro contacto com o conceito que dá o título a este artigo é muito recente: data ainda deste ano. Penso que encontrei a referência no blogue de Paul Krugman, The Conscience of a Liberal; mas ao pesquisar neste blogue não consegui encontrá-la de novo.
Segundo a Wikipedia, 'A Janela de Overton é um conceito de teoria política a que foi dado o nome do seu criador, Jack Overton, antigo Vice-Presidente do Mackinac Center for Public Policy. Este conceito descreve uma "janela" no conjunto de reacções da opinião pública às ideias presentes no discurso político, num espectro de todas as opções públicas possíveis sobre qualquer questão.
Overton descreve um método que permite deslocar esta janela de modo a colocar no âmbito da discussão possível ideias anteriormente excluídas, excluindo ao mesmo tempo ideias previamente aceitáveis. A técnica consiste em promover ideias ainda mais inaceitáveis do que as anteriormente tidas por marginais. Isto faz com que as ideias anteriormente marginais pareçam menos extremas, e consequentemente aceitáveis.
A escala de aceitação pública duma dada ideia pode ser descrita aproximadamente deste modo:
Impensável
Radical
Aceitável
Sensata
Consensual
Determinante de políticas públicas.'
Procurando no Google referências em português a este conceito, a mais recente que encontrei estava num blogue brasileiro, O Hermenauta e datava do fim de 2007. As outras duas referências encontram-se, como o próprio site faz notar, em dois blogues portugueses: a primeira, de Julho de 2006, no Designorado; e a segunda, de Maio de 2007, no Peão.
Outras leituras úteis, indicadas pela Wikipedia e/ou pelos blogues referidos, são:
An Introduction to the Overton Window of Political Possibilities
Daily Kos article on the Overton window
W3C and the Overton window - includes a clear explanation
The Overton Window, Illustrated
É pena que o conceito não seja mais utilizado em Portugal e no Brasil, tendo em conta a sua utilidade para explicar certos fenómenos intrigantes, como o estatuto de "sabedoria convencional" de que gozam certos delírios neoliberais, como a privatização de tudo o que é público, a desregulação radical do mercado de trabalho e a emergência aparentemente pacífica dum "capitalismo de expropriação" que não defende, antes ataca, o direito à propriedade privada (para já não falar na pública); ou a misteriosa identificação do PS com a "esquerda", ou a do BE com a "extrema-esquerda utópica" quando as suas propostas não vão muito mais longe do que as medidas muito pragmáticas, de índole social-democrata, que foram aplicadas na generalidade dos países democráticos no período posterior à 2ª Grande Guerra, conduzindo ao período de crescimento e prosperidade conhecido como "os Trinta Anos Gloriosos."
As técnicas fundadas na Janela de Overton têm sido utilizadas sobretudo pela direita para fabricar um novo centro. O êxito desta operação pode medir-se pelo número de políticas públicas anteriormente impensáveis e hoje consensuais, sem que deste consenso resulte qualquer benefício para o interesse público.
Mas se o centro político pôde ser deslocado para a direita, isto significa que também pode ser deslocado para a esquerda. Para tal é necessária uma estratégia de defesa - denunciar e combater o radicalismo de direita - e uma estratégia de ataque - definir um novo radicalismo de esquerda. No more Mr. Nice Guy. Diz a direita que a esquerda é utópica demais; cabe à esquerda decidir se não será, pelo contrário e para sua desvantagem, insuficientemente utópica.
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1 comentário:
Engraçado que vejo essa mesma radicalização a alastrar por toda a europa com o reflorescimento de fascismos que julgava já discutidos. Em Portugal vejo a direita a adoptar estratégias de campanha com semelhanças nos ultimos 10 anos americanos. Gostei do post. Obrigado.
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