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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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terça-feira, 17 de novembro de 2009

Em contra-mão na autoestrada

Suponhamos, por um voo louco da imaginação, que o governo da República Portuguesa tinha uma política educativa. Uma tal política resultaria de uma opção sobre o que melhor serve o bem comum: deve o sistema educativo ser sobretudo um sistema de ensino, como querem muitos professores e uma parte significativa da sociedade civil? Deve ser uma fábrica de mão-de-obra, como sugerem muitos empresários e alguns economistas? Deve ser um instrumento de engenharia social, como querem, e têm conseguido impor, os tecno-burocratas do ministério?

Imaginemos em segundo lugar que o governo optava por uma destas hipóteses, ou por uma combinação das três que fosse clara, coerente e explícita. Imaginemos ainda que esta opção dava à componente "ensino" a prioridade que o bom-senso lhe atribui. A primeira questão prática que surgiria seria: o que fazer para que os alunos aprendessem melhor?

Mas ao fazermos esta pergunta verificaríamos que ainda havia decisões políticas a tomar. Com efeito, quando dizemos "os alunos" estamos a falar duma média, e esta média tanto pode melhorar actuando sobre a parte como actuando sobre o todo. Esta decisão não é técnica, mas política, e implica a opção por um de três cenários: um a que chamarei "elitista", outro "populista" e outro "exigente".

No cenário "elitista" tratar-se-á de melhorar significativamente as aprendizagens dos alunos que já aprendem bem, cuidando de não piorar demasiadamente as dos outros. No cenário "populista" tratar-se-á de melhorar as aprendizagens dos que aprendem mal, empurrando os outros para fora da escola pública. No cenário "exigente" tratar-se-á, ainda mais que no "populista", de reduzir a diferença entre os melhores e os piores; assumindo porém a obrigação de melhorar também as aprendizagens dos melhores.

Para termos melhores aprendizagens precisaremos, entre outras coisas, de melhores escolas. Sublinho: entre outras coisas. E para termos melhores escolas precisaremos, mais uma vez entre outras coisas, de melhores professores.

Deixo para outra ocasião a qualidade das escolas e as outras condições que referi e trato aqui apenas da qualidade dos professores. Nesta fase do processo já estará resolvida a questão do que se entende por um bom professor: bom professor é o que ensina bem. Esta definição decorrerá naturalmente duma opção política que dê prioridade ao ensino. Mesmo a questão de ser melhor elevar a média actuando sobre os melhores (ou, em "empresarialês", promovendo a "excelência"); ou actuando sobre os piores; ou actuando sobre todos - decorrerá da decisão política paralela já tomada em relação aos alunos.

Para obter melhores professores seria necessário agir em sede de formação, de recrutamento e de motivação; para aferir os resultados desta acção seria necessário uma avaliação adequada aos fins estabelecidos. Não precisamos de um modelo perfeito: os modelos perfeitos não existem. Precisamos, sim, de um processo de avaliação que seja um meio e não um fim em si mesmo, e de um modelo de avaliação que seja um ponto de chegada e não um ponto de partida. A esta avaliação e a este modelo de avaliação eu não chamaria, se existissem, "moda" nem "fetiche".

Isabel Alçada parece ser muito mais sensata e simpática do que Maria de Lurdes Rodrigues; mas do velhinho que anda em contra-mão na autoestrada eu não quero saber se é simpático e sensato ou antipático e estouvado: quero, sim, medir o perigo que representa para os outros condutores.

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabéns pelo excelente texto!!!
è preciso estar atento à contramão.