I.
Cinco mil euros. É quanto o governo diz que se gasta por aluno e por ano no ensino básico e secundário. E eu acredito, embora dentro das escolas não seja fácil entender para onde vai tanto dinheiro.
Se cada professor ganhar um salário médio de 21.000,00 € por ano e o rácio professor aluno for de 1/14, sobram 3.500,00 € por aluno. Se cada turma tiver vinte alunos, sobram, descontados os salários dos professores, 70.000,00 € por turma. Se em cada escola o rácio turmas/salas de aula for de 3/2, sobram 105.000,00 € por ano por sala de aula, ou 8.750,00 € por mês.
Oito mil setecentos e cinquenta euros por mês para cada sala de aula é muito dinheiro. Chegaria para que todas estivessem sempre em perfeito estado de conservação, confortáveis, aconchegadas, aquecidas no Inverno, bem iluminadas, equipadas com tudo o necessário e até com algum luxo. Mesmo que metade desse dinheiro fosse para pagar a biblioteca da escola, os equipamentos desportivos, a manutenção de corredores, gabinetes e espaços exteriores, os serviços administrativos da escola e o aparelho do sistema educativo, ainda assim podíamos ter salas de aula capazes de rivalizar com as de qualquer país europeu.
II.
Então porque é que as não temos?
A resposta a esta pergunta encontrei-a há dias, quando tive de ir à Direcção Regional de Educação do Norte. Este organismo está instalado num edifício que já foi uma escola e que depois disso foi totalmente remodelado. Agora tem aquecimento central, ar condicionado, anteparas de vidro e aço inoxidável contra as correntes de ar, revestimentos de primeira qualidade no chão e nas paredes - tudo o que possa contribuir para tornar agradável a permanência dos que lá trabalham.
E são muitos, os que lá trabalham. Como são muitos os que trabalham nas outras Direcções Regionais de Educação, para não falar dos serviços centrais do Ministério, com a sua profusão de Direcções-Gerais, gabinetes, secretarias, dependências diversas. Tantos, que a maior parte do orçamento do Ministério é gasta, diz a Ministra, em salários - salários de burocratas, entenda-se, não de professores. Tantos, que o que chega às salas de aula não é, como devia ser, a fatia maior, mas sim algumas exíguas sobras outorgadas de má vontade.
Esta é uma das razões, e a mais concreta de todas, que me levam a dizer que qualquer melhoria significativa na qualidade do ensino em Portugal tem que passar necessariamente pela extinção ou redução drástica do Ministério da Educação. Mas será que isto alguma vez poderá acontecer?
Blogue sobre livros, discos, revistas e tudo o mais de que me apeteça escrever...
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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.
..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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31 comentários:
Meu caro JLS.
As alminhas que invectiva, não estão lá para purgar dinheiro. Estão lá para zelar por uma educação rumo aos mais altos desígnios.
Claro que um 'spin off' libertaria umas gordurazitas que bem podiam ser aproveitadas para encher chouriços.
Ah, reparei agora. Os chouriços estariam cheios de dioxinas e furanos. Raios partam, ainda não é desta.
Há outros sítios onde se gastou - e presumo que se continua a gastar muito dinheiro, que aparece contabilizado nos gastos do M: cada equipa que entra muda o logotipo. Isto signifiva papel timbrado, envelopes, cartões e papelaria basta que se manda fazer. As sobras da anterior, lixo com elas. Há toneladas de papel arquivadas nas profundezas dos edifícios do ME: campanhas de divulgação que foram pagas, desenhadas ,pensadas, feitas e cujos cartazes, desdobráveis, folhetos e outra tralha nunca chegou às escolas ou chegou em pequenérrima quantidade. Há armazéns cheios de livros destinados às bibliotecas escolares, alguns desde 1973 (eu já ou vi!) e que nunca lá chegaram - todos estes livros foram pagos... querem que continue?
nan:
"querem que continue?"
Por mim, abusando da hospitalidade do JLS, esteja à vontade.
Mas, já agora, e material audiovisual* que está guardado "em stock" (entretanto podre por obsoleto)?
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*Independentemente de eu achar que a sua aquisição foi um disparate.
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Também. Mas na altura em que foi adquirido era «topo de gama» e teria feito muito jeito nas escolas onde não chegou. Tal como os livros que não foram entregues às bibliotecas escolares. E o mobiliário escolar? Onde estão os milhares de antigas «carteiras» de madeira, de tampo inclinado (ideais para ler e escrever e evitadoras de dislexias posturais) e apoio para os pés, e caixa por baixo do tampo para guardar livros e cadernos... e que foram substituídas pelas infames mesas de fórmica onde ninguém está confortável?! Alguém ganhou uma pipa de massa com esta negociata, mas não foram as escolas certamente. E as velhas carteiras vão parecendo à venda em adelos e não são baratas...
Estou certo de que a sra ministra não sabe disto, caso contrário não aceitaria a contenção de despesas pelo afunilamento da carreira docente. Ou será que não é isso que lhe interessa, mas o próprio afunilamento como fim em si mesmo? A julgar pelas declarações de que pela divisão da carreira e consequente afunilamento é que se faz o apuramento da qualidade do ensino, com certeza que não seria o conhecimento dos desperdícios que iria obstacularizar tão corajosa medida. Bem haja, quem tem vistas largas e bolsos sem fundo!
Cumprimentos
Luís Ladeira
Com idiotices destas:
http://psitasideo.blogspot.com/2008/04/ao-ponto-que-chegmos-novo-curso-de.html
provavelmente o ensino vai melhorar e tornar-se-á certamente mais barato.
MAIS: passaremos a ser um país de futebolistas profissionais ... de Ronaldos, percebem? Ninguém nos agarra mais. VIVA o SUCESSO ESCOLAR!!!!
Não sabia que a fatia da Administração ia a tanto. Contando apenas com a despesa total da própria escola, na 'minha' chegamos a 2700€/aluno/ano.
azurara, temos então que, se a despesa da 'sua' escola for semelhante à das outras, a fatia da Administração central e regional é de 2300€/aluno/ano - quase metade do orçamento. Conhecendo razoavelmente o organigrama do Ministério e das suas dependências regionais, devo dizer que não me surpreende que esta fatia seja tão grande; surpreende-me antes que seja tão pequena.
Aposto que o JLS vai adorar esta:
http://blasfemias.net/2008/04/17/e-um-doutoramento-em-engomar-a-roupa/
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Range-o-dente, meu caro, melhor do que o post é o debate nos comentários! Até estou a chorar para cima do teclado!!!!
Ainda bem que faz as contas.
Também era preciso fazer as do congelamento e reposicionamento na carreira que sacaram milhões aos professores no terreno.
E esses desbaratos que foram sendo referidos são trocos ao pé da delapidação maior com TGV e ponte e outras faraónicas e inúteis obras.
E, caro JLS, que dizer deste abocanhamento, pelos sindicatos, da causa (pouco burilada que fosse) da generalidade dos professores, aceitando o que sempre renegaram, negociando em moldes que esvaziam o corpo principal da contestação? Como quem diz "Querem usar o movimento sindical para assuntos que fora dos altos desígnios por nós traçados? Façam-no à vossa custa".
Enfim, velhos hábitos de directório político, velhos hábitos de "sindicatos" com representantes do Comité Central.
.
Os sindicatos são o que são. As pessoas que estão nos movimentos de professores não são ingénuas e sabiam desde o princípio que ia haver aproveitamentos. Mas as direcções sindicais também não são parvas e tenho a certeza de que entenderam o aviso: estão debaixo de olho e há coisas que se podem passar à margem delas.
Vou furtar estas contas para o meu blogue.
Espero que não se importe.
Há aqui muito desconhecimento, mais graves ainda se trata de um professor que integra(ou) uma Assembleia de Escola:
"Se cada professor ganhar um salário médio de 21.000,00 € por ano e o rácio professor aluno for de 1/14, sobram 3.500,00 € por aluno."
O Salário médio dos professores é de aproximadamente 2000 euros/mês(ilíquidos), logo 28.000.00 euros por ano. O Rácio professor por aluno é 1/16 no Pré-Escolar, 1/15 no 1.º ciclo, ambos os ciclos em regime de monodocência, 1/7 no 2.º ciclo, onde os horários dos alunos são contabilizados em 45 tempos lectivos que equivalem a 45 horas!!!, 1/8 no 3.º ciclo, 1/7.5 no Secundário. Juntem-se aos professores os AAE e Administrativos.
Os custos, claramente excessivos, da estrutura do ME são de 102.875.244 euros, ver página 24 do orçamento do ME.
http://www.gef.min-edu.pt/ORCAMENTOS/OME2008.pdf
O Investimento por Aluno anda na cada destes valores:
3300 euros no Pré-Escolar
2600 no 1.º ciclo
5000 no 2.º ciclo
4400 no 3.º ciclo e secundário
Ver aqui exemplos dos orçamentos das escolas:
http://www.eseq.pt/ce/relatorios/RelatContaGer2006.pdf
http://web.educom.pt/~pr1309/contas2006.htm
Mais de 95% dos orçamentos vão para salários, logo não há dinheiro para manutenção, de resto o ME nem dá verbas para tal, são as escolas que a têm de fazer através do orçamento privativo.
Na minha escola o investimento por alunos anda na casa dos 6000 euros. Trata-se de uma escola central onde mais de 90% dos professores estão no 10.º escalão.
Realçar que neste momento está a decorrer um programa de modernização das escolas secundárias, aí no Porto, o Rodrigues de Freitas está a ficar excelente, e a Soares dos Reis vai ter excelentes instalações(a partir de Setembro) na antiga Oliveira Martins.
http://www.min-edu.pt/np3/1115.html
http://www.min-edu.pt/np3/30
"Esta é uma das razões, e a mais concreta de todas, que me levam a dizer que qualquer melhoria significativa na qualidade do ensino em Portugal tem que passar necessariamente pela extinção ou redução drástica do Ministério da Educação. Mas será que isto alguma vez poderá acontecer?"
Totalmente de acordo.
Ó futuro director, então o salário médio dos professores é de 2 mil euros? Não seria mau se assim fosse.
Isso é o que se ganha no topo da carreira. Julgo que na minha escola, grande e às portas de Lisboa, a maioria dos professores está para baixo do 7º escalão.
E a maioria das aulas é dada nuns incríveis barracões.
JLS:
"estão debaixo de olho e há coisas que se podem passar à margem dela"
Deus o oiça (digo eu que não sou religioso).
Vai ser uma luta renhida. Muito renhida e dentro de portas.
Seriam bom que a primeira batalha andasse à volta do DIREITO dos professores a pagarem, directamente (na totalidade), o seu próprio sindicalismo.
(uuii, o que fui dizer).
.
Cara Setora, o salário iliquido(sem descontos) de um professor no 7.º escalão(a média salarial dos professores está próxima do valor deste escalão) é de 2000 e tal euros(não tenho a tabela à mão) junte-lhe a contribuição do estado para a CGA/SS e passa este valor. Os professores do antigo 10.º recebem 3000 euros, líquidos 2100.
Na minha escola, tal como na generalidade das escolas secundárias e EB23(sobretudo no 2.º ciclo) centrais de Porto/Lisboa/Coimbra/Capitais de Distrito, a maioria dos professores está no 10.º escalão.
Caro futuro director:
Os valores que indiquei são meramente hipotéticos. Agradeço-lhe ter indicado os valores reais, mas eles não invalidam a minha tese, a saber: quase metade do orçamento educativo fica nos aparelhos central e regionais e não chega às escolas.
É isto que é intolerável. Um país que gaste em educação o mesmo que o nosso (em termos de euros por aluno ou mesmo em termos de percentagem do PIB) mas não tenha Ministério da Educação está claramente em vantagem sobre nós.
"quase metade do orçamento educativo fica nos aparelhos central e regionais e não chega às escolas."
A administração educativa obsorve muito dinheiro, cerca de 100 milhões de euros. As escolas(despesas de funcionamento) cerca de 5000 milhões de euros. Está no Orçamento do ME, indiquei o site.
O valores que indicou foram hipotéticos, mas facilmente poderia ter acesso aos valores reais da sua escola, basta dirigir-se ao PCE/Presidente do conselho Administrativo.
Pois, também não tenho a tabela à mão.
Lamento que não tenhamos esses dados com alguma precisão.
E claro que eu falava de líquido.
Lá irei aos sites que indicou cuscar umas coisinhas e ver se calculo quando acabarão os barracões onde decorre a maior parte das aulas na minha escola.
Setora, o que esses sites não indicam é quantos professores e funcionários das escolas estão destacados nas estruturas regionais e nacionais do Ministério, com os seus salários a serem contabilizados como despesas das escolas. Os números mentem, e muitas vezes mentem tanto mais quanto mais miudamente os cuscamos...
Setôra, não precisa de fazer as contas, diriga-se ao Conselho Administrativo da sua Escola ou Assembleia de Escola, ambos têm acesso ao orçamento da escola.
arecimentos. Todas as capitais de distrito, por exemplo, têm uma ESE, e ha muitas outras pagas tb pelo zé portuga por outras cidades. Algumas destas escolas estão com ratios de 5 professores para 1 aluno. Se os estudos indicam que o abandono escolar é elevadíssimo no ensino politecnico e universitário, e em face do que exponho a seguir, eu gostava que "o futuro director" ou (outra personalidade) fizesse o obséquio de pegar num simples lapito e ensaiar umas simples contas. Cento e cinquenta professores para um aluno.
Isto (só) ESES! Pelo menos os professores trabalham com crianças e adolescentes todos os dias. E muitos ganharam a vidita inteira uma santa miseria. E tiveram "roteiros pelo país" que foi obra, em situações humilhantes (os do secundario, menos, claro).
TABELAS DA CARREIRA DOCENTE PARA 2008
Com o actual (des)Estatuto de Carreira Docente, a dita carreira termina no 7º escalão. Vai ficando enrolada lá para trás. Estas tabelas (por assim dizer) correspondem à carreira que “já não é”. Claro!
Nas ligações que seguem, pode consultar as tabelas das "carreiras" docentes (tornadas indecentes, pelo ministério)!
Veja a tabela de remunerações líquidas dos docentes da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário.
Muito parecido, como se pode constatar, com um estatuto de carreiras dos ensinos politécnico e universitário em que nada foi alterado, e cujas tabelas remuneratórias pode consultar aqui.
http://mobilizacaoeunidadedosprofessores.blogspot.com/2008/05/tabelas-da-carreira-docente-para-2008.html
anahenriques
arecimentos. Todas as capitais de distrito, por exemplo, têm uma ESE, e ha muitas outras pagas tb pelo zé portuga por outras cidades. Algumas destas escolas estão com ratios de 5 professores para 1 aluno. Se os estudos indicam que o abandono escolar é elevadíssimo no ensino politecnico e universitário, e em face do que exponho a seguir, eu gostava que "o futuro director" ou (outra personalidade) fizesse o obséquio de pegar num simples lapito e ensaiar umas simples contas. Cento e cinquenta professores para um aluno.
Isto (só) ESES! Pelo menos os professores trabalham com crianças e adolescentes todos os dias. E muitos ganharam a vidita inteira uma santa miseria. E tiveram "roteiros pelo país" que foi obra, em situações humilhantes (os do secundario, menos, claro).
TABELAS DA CARREIRA DOCENTE PARA 2008
Com o actual (des)Estatuto de Carreira Docente, a dita carreira termina no 7º escalão. Vai ficando enrolada lá para trás. Estas tabelas (por assim dizer) correspondem à carreira que “já não é”. Claro!
Nas ligações que seguem, pode consultar as tabelas das "carreiras" docentes (tornadas indecentes, pelo ministério)!
Veja a tabela de remunerações líquidas dos docentes da educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário.
Muito parecido, como se pode constatar, com um estatuto de carreiras dos ensinos politécnico e universitário em que nada foi alterado, e cujas tabelas remuneratórias pode consultar aqui.
mobilizacaoeunidadedosprofessores.blogspot.com/2008/05/tabelas-da-carreira-docente-para-2008.html
anahenriques
O "futuro director" vai ter "sucesso". Não é "gago". É demagógico como convém para lhe ser reconhecido "mérito".
Então não conhece as tabelas de apoio aos alunos "no privado e no cooperativo". E nos colégios de Educação Especial privados. E nos gastos dos gabinetes só da 5 de Outubro em assessorias, consultadorias, gabinetes de comunicação, gabinetes de imagem. Está a atirar areia para os olhos de quem?
A 5 de Outubro, a 24 de Julho e as direcções regionais em despesa superula dava para manter o nível de remunerações dos professores das escolas. Se pensarmos no descalabro financeiro que a dona Maria instituiu em enriquecimentos curriculares no 1º ciclo, para financiar as camaras (os autarcas estavam muito descontentes com os cortes orçamentais), com a intervenção precoce nos colégios privados, com estudos, consultadorias, materiais obsoletos que não servem a ninguém, participações em "iniciativas generosas de empresarios pela inclusion e outros", dava para manter e mesmo pagar ainda melhor aos professores das escolas que trabalham, no duro, com os jovens deste país.
Vá para a sala de aula. Para aprender a fazer...contas.
anahenriques
REPTO!
http://mobilizacaoeunidadedosprofessores.blogspot.com/2008/05/repto-em-tom-de-desafio.html
anahenriques
Está tudo bem pelos teus lados? Já estamos com saudades de um postzito...
bj
brit com
Venho de visita mas não há novidades. Espero que o problema seja idêntico ao meu - falta de tempo e de alguma paciência. Temas e raivas temos, isso temos.
Peço desculpa pelo meu longo silêncio. Não se trata de falta de tempo, já que por razões de saúde tenho estado afastado da escola; trata-se mais de falta de paciência para chover no molhado, e também duma distância que se vai estabelecendo entre mim e a minha profissão.
Mas andava com uma fisgada há vários dias: comentar a afirmação da ministra, proferida durante uma entrevista na televisão, de que "facilitismo é chumbá-los". E esse artigo acabo de escrevê-lo.
Votos de rápido restabelecimento. Não se deixe abater.
Um abraço cheio de energia positiva.
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