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Pelo critério de Asimov, a série Star Trek não seria admissível: haveria que escolher entre a warp drive da nave Entreprise e o beam me up, Scotty, do capitão Kirk, mas no mundo de Asimov era proibido utilizar ambas as coisas.
Claro que a Space Opera sempre se esteve nas tintas para estas restrições. Esta liberdade permitia aos seus autores exibir uma ignorância científica muitas vezes cómica.
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Até que Terry Pratchett entra em cena. Em vez de admitir uma impossibilidade cientifica em cada história, como Asimov (ou nenhuma, como Arthur C. Clarke), Pratchett compraz-se em inventar um mundo em que nenhuma lei da natureza, tal como as conhecemos, se aplica, mas que apesar disto seja tão coerente quanto a imaginação prodigiosa do autor, aliada a uma considerável cultura científica, o permita.
Pratchett estipula um mundo em forma de disco, assente sobre quatro gigantescos elefantes que por sua vez estão de pé sobre a carapaça duma tartaruga de dimensões planetárias.
Como explicar que neste mundo haja anos e dias, Verão e Inverno, aurora, meio-dia, crepúsculo e noite, diferenças climáticas entre os vários continentes? Pratchett entrega-se a estas explicações com visível prazer: a velocidade da luz, por exemplo, é aqui mais ou menos a mesma que o som; a partícula básica constituinte do Universo não é o átomo, mas o «thaum» (palavra da família de «taumaturgia»: a unidade de magia mais pequena possível). No Departamento de Taumaturgia Aplicada da Universidade de Ankh-Morpork há um grupo de jovens investigadores dedica-se provocar a fissão do thaum e cria por acidente um universo auto-contido (numa esfera de vidro com o tamanho exterior aproximado duma bola de futebol e dimensões interiores muito maiores) em que as pessoas e as coisas ocupam, sem cair, a superfície de mundos esféricos.
Para além desta série de romances, Terry Pratchett foi co-autor, com Ian Stewart e Jack Cohen (um é biólogo e o outro, salvo erro é um químico), duma trilogia de divulgação científica: The Science of Discworld, The Science of Discworld II: The Globe e The Science of Discworld III: Darwin's Watch.
Vale a pena ler.
2 comentários:
Uma pequena correcção: O Ian Stewart é matemático.
Obrigado pela correcção, meu caro. E já agora: o próprio Terry Pratchett, se não é matemático, imita muito bem. O Discworld tem em comum com os mundos de Lewis Carroll uma perfeita coerência interna.
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