Disse-o a própria ministra, com um ar incompreensivelmente ufano, à comunicação social. O enunciado de um exame de Física, com a respectiva matriz e folha de critérios, demora a uma equipa de especialistas nove semanas a fazer.
Admitindo que cada semana contém cinco dias de trabalho, que cada dia é de sete horas, e que a equipa tem três membros, temos que o enunciado de um exame implica 945 horas de trabalho. Se cada uma dessas horas for paga a 8,00 €, temos que cada enunciado de exame custa ao contribuinte 7560,00 €.
Agora consideremos as despesas com a impressão dos enunciados, a sua manutenção em segurança e em segredo, o seu transporte e distribuição. A isto acrescentemos o fecho prematuro das aulas, a mobilização dos professores para as vigilãncias, para os júris, para as correcções, para os recursos. Multipliquemos tudo por todas as disciplinas, incluindo neste factor as várias versões de cada disciplina. O resultado é um balúrdio.
Desperdício? Não no entender da ministra: caso contrário procuraria esconder este custo e não alardeá-lo.
E com efeito, todas estas horas de trabalho são necessárias se se pretender avaliar todos os «objectivos» constantes do programa (a maior parte dos quais não têm nada a ver com o ensino da Física). Cada objectivo que se acrescenta ao programa duma disciplina representa, não uma nova parcela, mas um novo factor. A complexidade do todo aumenta, não por adição, mas por multiplicação.
O que é curioso é que os professores estão obrigados a leccionar os programas na sua totalidade (incluindo não só a «matéria» mas todos os «objectivos» que o integram) e a avaliar os alunos segundo critérios que tenham em conta esses objectivos. Façamos então as contas e vejamos o que significaria, em termos de horas anuais de trabalho de um professor, a elaboração de testes que obedecessem rigorosamente aos programas, aos protocolos e às directivas pedagógicas superiormente fixadas.
Cinco turmas, vezes dois testes, vezes três períodos, vezes 945 horas, daria 28.350 horas de trabalho anual. Ou seja: mesmo que o professor não tivesse férias nem fins de semana, ainda assim teria que trabalhar mais de 77 horas por dia só para elaborar testes.
O mal não está em haver exames. Acho muito bem que os haja, e até acho que os devia haver à entrada de cada ciclo com excepção do primeiro. Mas teriam que ser exames muito exactos, muito claros, muito limitados e muito modestos em relação àquilo que avaliam, de modo a que não se deitasse fora o que realmente interessa - o conhecimento e o ensino - e já agora a que se aliviasse significativamente a carga que os exames actualmente fazem pesar sobre o contribuinte.
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