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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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sábado, 30 de junho de 2007

Nove semanas para um exame

Disse-o a própria ministra, com um ar incompreensivelmente ufano, à comunicação social. O enunciado de um exame de Física, com a respectiva matriz e folha de critérios, demora a uma equipa de especialistas nove semanas a fazer.

Admitindo que cada semana contém cinco dias de trabalho, que cada dia é de sete horas, e que a equipa tem três membros, temos que o enunciado de um exame implica 945 horas de trabalho. Se cada uma dessas horas for paga a 8,00 €, temos que cada enunciado de exame custa ao contribuinte 7560,00 €.

Agora consideremos as despesas com a impressão dos enunciados, a sua manutenção em segurança e em segredo, o seu transporte e distribuição. A isto acrescentemos o fecho prematuro das aulas, a mobilização dos professores para as vigilãncias, para os júris, para as correcções, para os recursos. Multipliquemos tudo por todas as disciplinas, incluindo neste factor as várias versões de cada disciplina. O resultado é um balúrdio.

Desperdício? Não no entender da ministra: caso contrário procuraria esconder este custo e não alardeá-lo.

E com efeito, todas estas horas de trabalho são necessárias se se pretender avaliar todos os «objectivos» constantes do programa (a maior parte dos quais não têm nada a ver com o ensino da Física). Cada objectivo que se acrescenta ao programa duma disciplina representa, não uma nova parcela, mas um novo factor. A complexidade do todo aumenta, não por adição, mas por multiplicação.

O que é curioso é que os professores estão obrigados a leccionar os programas na sua totalidade (incluindo não só a «matéria» mas todos os «objectivos» que o integram) e a avaliar os alunos segundo critérios que tenham em conta esses objectivos. Façamos então as contas e vejamos o que significaria, em termos de horas anuais de trabalho de um professor, a elaboração de testes que obedecessem rigorosamente aos programas, aos protocolos e às directivas pedagógicas superiormente fixadas.

Cinco turmas, vezes dois testes, vezes três períodos, vezes 945 horas, daria 28.350 horas de trabalho anual. Ou seja: mesmo que o professor não tivesse férias nem fins de semana, ainda assim teria que trabalhar mais de 77 horas por dia só para elaborar testes.

O mal não está em haver exames. Acho muito bem que os haja, e até acho que os devia haver à entrada de cada ciclo com excepção do primeiro. Mas teriam que ser exames muito exactos, muito claros, muito limitados e muito modestos em relação àquilo que avaliam, de modo a que não se deitasse fora o que realmente interessa - o conhecimento e o ensino - e já agora a que se aliviasse significativamente a carga que os exames actualmente fazem pesar sobre o contribuinte.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Citação

A função da escola é ensinar às crianças como o mundo é, e não instruí-las na arte de viver.
Hannah Arendt

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Irracionalismo e proibicionismo

Há duas salas de professores na minha escola: uma para não fumadores e outra para fumadores. É esta que eu frequento, apesar de não fumar.

Há dias dizia-me uma colega minha, puxando do maço de cigarros:

- E isto para os fumadores passivos ainda é muito pior.

Em vão lhe tentei explicar alguns factos simples: que a sala contém várias centenas de metros cúbicos de ar; que mesmo que estivesse fechada um dia inteiro com dezenas de pessoas a fumar continuamente, a concentração de fumo no ar nunca chega a ser igual à que um fumador inala; que mesmo que o fumo exalado seja diferente e mais perigoso do que o fumo inalado (o que nunca ouvi dizer que fosse o caso), ainda assim o fumador activo estaria a respirá-lo juntamente com o fumador passivo, em adição ao fumo que estava a inalar.

E que tanto era assim, que eu próprio, não fumador, não tinha medo nenhum de permanecer na companhia dela naquela sala enorme, de pé direito altíssimo, e cheia de correntes de ar. Tinha medo, era destas.

Nada feito. A colega até é professora de Física, mas mais do que o treino científico pode a doutrina homeopática do fumo.

Desde que seja repetida vezes suficientes.

As minhas pinturas










(Acrílico e pastel de óleo sobre cartão)

Procurei numa distorcer as formas de modo a realçar o volume. Quis, contra o meu hábito, experimentar dar à pintura um aspecto inacabado e pouco pormenorizado, com os traços a conhecerem-se. Na outra dei mais atenção à representação realista da anatomia, o que não resulta visível na foto porque ficou um pouco desfocada.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Mais Terry Pratchett

Leiam este passo de Maskerade, que ilustra o que eu escrevi noutro post sobre o autor.

[Na cidade de Ankh-Morpork - a maior, mais populosa, mais suja do Discworld, a cidade que nunca dorme, em cujas ruas perigosas se cruzam trolls com anões, zombies com vampiros e lobisomens, humanos com golems, um fabricante de queijos reformado acaba de comprar a Ópera. O diálogo que se segue é entre o novo dono e o director artístico].

'I told you: the show must go on.'

'Why? We never said "the cheese must go on"! What's so special about the show going on?'


Salzella smiled. 'As far as I understand it,' he said, 'the ... power behind the show, the soul of the show, all the effort that has gone into it, call it what you will ... it leaks out and spills everywhere. That's why they burble about "the show must go on". It
must go on. But most of the company wouldn't even understand why anyone should ask the question.

Bucket glared at what passed for the Opera House's financial records.

'They certainly don't understand about book-keeping! Who does the accounts?'

'All of us, really,' said Salzella.

'
All of you?'

'Money gets put in, money gets taken out ...' said Salzella vaguely. 'Is it important?'

Bucket's jaw dropped. 'Is it
important?'

'Because,' Salzella went on, smoothly, 'opera doesn´t make money. Opera never makes money.'

'Good grief, man!
Important? What'd I ever have achieved in the cheese business, I'd like to know, if I'd said that money wasn´t important?'

Salzella smiled humourlessly. 'There are people out on the stage right now, sir,' he said, 'who'd say you would probably have made better cheeses.' He sighed, and leaned over the desk. 'You see,' he said, cheese
does make money. And opera doesn't. Opera's what you spend money on.'

'But ... what do you get out of it?'

'You get opera.'

Exactamente. Há coisas que não servem para criar riqueza. A educação, o ensino, a saúde, a cultura, a ciência, as artes - a ópera - não podem servir para criar riqueza. São fins em si mesmos. Servem para dar utilidade e sentido à riqueza que criamos noutro lado. Não é a civilização que tem que servir a economia - embora a sirva, e bem; é a economia que tem que servir a civilização.

Ensino e hóquei em patins

O seleccionador da equipa portuguesa de hóquei em patins fez as mudanças que entendeu boas no funcionamento da selecção. Na sequência destas mudanças a selecção apresenta-se numa prova internacional e sofre a derrota mais expressiva da sua história.

O que conclui o seleccionador? Que as mudanças foram insensatas? Que eventualmente foram no sentido oposto ao que deveriam ter ido?

Nada disso. As mudanças foram boas, a contestação de que foram objecto é que conduziu à derrota.

Isto faz-me lembrar a política educativa do governo. Para este governo é ponto assente que todas as mudanças são boas. Entre o fruto que amadurece e o fruto que apodrece não há qualquer diferença. Logo, se os resultados da mudança são maus, a culpa não é da mudança - é de quem a contestou.

Está visto: Maria de Lurdes Rodrigues, como Ministra, é uma óptima seleccionadora de hóquei; e o seleccionador nacional, como seleccionador, dava um óptimo, e muito socrático, Ministro da Educação.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

O Neoliberalismo não é (necessariamente) um Liberalismo

(Com a devida vénia ao Igor d'O Reino dos Fins)
Para saber se um neoliberal é um liberal, convém perguntar-lhe:
- o que pensa da criminalização das drogas;
- o que pensa das leis que regulam os comportamentos sexuais;
- o que pensa da validação, pelo Estado, dos casamentos entre homossexuais;
- o que pensa da validação, pelo Estado, dos casamentos entre heterossexuais;
- se pensa que a blasfémia pode ser, em certas circunstâncias, um crime;
- idem em relação à obscenidade;
- idem em relação à pornografia;
- se acha que pode haver crimes sem vítima;
- se acha que em caso de conflito a propriedade privada individual deve prevalecer sobre a propriedade privada colectiva, ou vice-versa;
- se acha que o direito à propriedade prevalece sempre sobre todos os outros, ou se pode haver outros que prevaleçam sobre ele em caso de conflito;
- se acha que um colectivo pode ser mais importante do que a soma das pessoas que o constituem;
- se considera, para efeitos do que respondeu no ponto anterior, que uma empresa privada é um colectivo ou se acha que é uma pessoa;
- se acha que o Estado, por natureza, oprime as pessoas;
- se acha que o Estado, por natureza, liberta as pessoas;
- se acha que o Estado, por natureza, oprime e liberta, sendo necessário organizá-lo de modo a que liberte o mais possível oprimindo o menos possível;
- como é que dispõe, por ordem de valor, os indivíduos, as famílias, as comunidades identitárias, as nações e as empresas.

domingo, 17 de junho de 2007

Racionalidade e tolerância

A história conta-se em poucas palavras. Uma médica holandesa, Maria Sickesz, pratica uma uma forma de medicina alternativa a que dá o nome de «terapia ortomanual», com a qual se propõe curar quase todas as doenças e em relação à qual nunca foi apresentada a mais leve sombra de validação científica.

A Associação Holandesa contra o Charlatanismo publicou há uns anos uma lista dos 20 maiores charlatães do século, lista essa em que se incluía o nome da Dra. Sickesz. Esta põe um processo à Associação, e perde.

A segunda instância inverte esta sentença e condena a Associação a pagar uma indemnização à doutora e a publicar uma série de anúncios pedindo desculpa. Estes anúncios custam muito dinheiro.

A Associação, fundada por volta de 1890, não pode arcar com esta despesa e provavelmente irá à falência.

A sentença fundamenta-se nas conotações negativas da palavra «charlatão»* e na aparente sinceridade da Dra. Sickesz. Em parte alguma da sentença se aborda a validade científica da «terapia ortomanual».

Parece que na Holanda, doravante, a liberdade de expressão dos proponentes de curas milagrosas é protegida, mas não a liberdade de expressão de quem os contradiz.

A minha pergunta para quem me lê é a seguinte:

Devemos ver nesta decisão judicial um exemplo da tão famosa tolerância holandesa? Ou devemos ver nela, pelo contrário, um exemplo da mais apertada e mesquinha intolerância?

*Kwakzalver, em holandês tem duas acepções: 1) aquele que publicita curas sem fundamento e ganha dinheiro com isso, e 2) mentiroso, fraudulento.

(PARA LER A NOTÍCIA NO SITE DE JAMES RANDI, CLICAR NO TÍTULO DESTE POST)

Terry Pratchett e o Discworld


O primeiro livro que li de Terry Pratchett foi Hogfather. Fiquei agarrado. Desde então fui lendo os outros à medida que os ia encontrando nos escaparates. Só depois de começar a não os encontrar é que me resolvi a encomendar na Amazon.com os que faltavam - e como Pratchett não escreve, infelizmente, com a mesma velocidade com que eu leio, a certa altura tive que começar a reler.
Decidi portanto ler de novo a série Discworld, mas desta vez por ordem de publicação. Vou agora em Interesting Times.

O Discworld está assente sobre quatro elefantes gigantescos, que por sua vez se apoiam numa tartaruga descomunal, que por sua vez está segura por - bom, falemos de outra coisa. Àqueles espíritos picuinhas que insistem sempre numa explicação pode-se sempre dizer «it's turtles all the way down»; e se esta explicação não os satisfizer tanto pior.

Para mim, uma das coisas mais interessantes nos livros de Terry Pratchett é a maneira sorrateira como ele nos vai confrontando, através do humor, da fantasia e do nonsense, com os dilemas morais que o próprio acto de viver implica. É com uma espécie de triunfo que chegamos a dois terços da narrativa e concluímos: «aha, isto afinal era sobre o multiculturalismo» - ou sobre o tiranicídio, ou sobre a guerra dos sexos, ou sobre a aceitação da morte, ou sobre o dever de trabalhar, ou sobre o valor do ócio, ou sobre outra coisa qualquer.

Sem deixar de ser, é claro, sobre as aventuras e atribulações de uns tantos maduros num mundo que, se não existe, devia existir.

Sorumbático

Passem por este blog, que vale a pena. Podem chegar lá clicando no título deste post.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Pedagogia delirante, burocracia gigantesca, incivismo endémico

O sistema de ensino enferma de tantos e tão variados vícios que a maior dificuldade de quem os quiser resolver será saber por onde começar. Sabemos por onde começou Maria de Lurdes Rodrigues: pelo ataque ao alegado absentismo e à alegada incompetência dos professores - problemas que demasiadas vezes são reais, mas acessórios e artificialmente empolados pela propaganda dum regime politico-económico interessado em demonizar as «corporações» - ou seja, todas as organizações da sociedade civil que possam pôr objecções deontológicas às decisões políticas, administrativas ou «técnicas» do poder. Daí o ataque sistemático, não só aos professores, mas também aos médicos e, mais recentemente, aos juízes.

O essencial está noutro lado. A Ministra da Educação começou pela ponta errada. O erro não foi inocente, longe disso; e Maria de Lurdes Rodrigues sabe muito bem que começando pelo acessório nunca vai chegar aonde alegadamente deseja.

Mas o que Maria de Lurdes Rodrigues alegadamente deseja está nos antípodas do que deseja realmente. A agenda pública é contrária à agenda oculta. Maria de Lurdes Rodrigues não quer um sistema de ensino eficaz ao serviço da República, mas sim um sistema «educativo» politicamente correcto ao serviço da oligarquia.

Se estivesse interessada em corrigir os vícios essenciais do sistema de ensino, começaria por assumir que se trata de um sistema de ensino, em vez de fugir desta palavra como o Diabo da cruz. Verificaria à partida que os vícios do sistema, sendo múltiplos e aparentemente intratáveis, radicam em apenas três; e que estes, longe de serem intratáveis, só não têm solução porque não há vontade política de os resolver.

Estes vícios, dos quais decorrem todos os outros, são os do título deste artigo: a pedagogia delirante que perverte as políticas, os currículos, os programas, as práticas e os manuais escolares; o gigantismo burocrático do Ministério da Educação; e o incivismo endémico nas nossas escolas. Cada um destes vícios alimenta e amplia os outros dois, pelo que qualquer tentativa de melhorar significativamente o conjunto implicaria um ataque simultâneo e concertado nas três frentes.

1. Pedagogia delirante

Sobre este tema muito tem sido escrito, em Portugal como noutros países. Por cá usa-se a palavra «eduquês», cunhada por Marçal Grilo, para designar a linguagem em que o delírio pedagógico se exprime. Esta linguagem está descrita no livro de Nuno Crato «O Eduquês em Discurso Directo» e é objecto de análise aqui, aqui 0u aqui, para dar apenas três exemplos. É uma linguagem terrorista, propositadamente vaga, abstrusa, opaca, que oculta os seus significados (quando os tem) porque os alunos, os professores e os pais nunca os aceitariam se os vissem claramente.

Que significados são estes? Que a escola não está ao serviço da república, mas sim do mercado; que não forma pessoas, mas sim «recursos humanos»; que não serve para formar elites culturais, científicas ou artísticas, mas sim para nivelar por baixo (mantendo assim, e ampliando, a estratificação social e económica e o domínio da oligarquia); que todos os «saberes» são igualmente válidos (o do astrólogo tanto como o do astrónomo); que a aprendizagem não exige esforço; que ensinar não é tarefa dos professores; que todo o saber tem que estar ligado à «realidade», sendo que esta se define pelo acidental concreto; que a memorização, a repetição e o treino são actividades dispensáveis, quando não nocivas; que a «capacidade crítica» se desenvolve pela imersão constante nos chavões do politicamente correcto, e não pelo treino sistemático dum cepticismo racional; que não há passado nem futuro, nem História, e só o presente é real e eterno.
Por isso se elimina, do ensino da Matemática, a exercitação e o treino; por isso se vai eliminando o ensino da História (começando pela eliminação da cronologia, ou seja, dum dos principais quadros de referência que nos situam no tempo e nos permitem integrar os conhecimentos); por isso se elimina a Filosofia; por isso se afirma textualmente, nos programas de Português e de línguas vivas, que o texto literário é um texto como qualquer outro e não merece ser privilegiado; por isso se dá o mesmo relevo a Camões, nos manuais e nos exames, que ao regulamento do Big Brother; por isso pode aparecer um horóscopo, num manual de Inglês, ao lado de um gráfico sobre o aquecimento global.

2. Gigantismo burocrático

Do que todos nos esquecemos é que a política acima exposta é duma violência extrema. Para a impor aos alunos e aos pais - que procuram na escola um mecanismo de ascensão social; para a impor aos professores - que se revêm numa deontologia que não renuncia ao principal tabu desta política - ou seja, o ensinar; para a impor às elites culturais e científicas, cujo consenso lhe é diametralmente oposto; para a impor à sociedade civil, que não a compreende e não a aceitaria se a compreendesse - é necessária uma polícia política. Esta polícia é o aparelho descomunal do Ministério da Educação e as suas metástases espalhadas pelo País.

Não sei - provavelmente ninguém sabe - quantas pessoas trabalham na DREN, na DREC, na DREL, na DGRHE, no GAVE, na 5 de Outubro, na 24 de Julho ... São milhares de assessores, técnicos, peritos, juristas, todos ocupados em legislar, em gerir, em esclarecer, em dirigir - em não deixar que as escolas eduquem ensinando, ou que se desviem um milímetro de práticas e teorias que vão contra todas as convicções, todos os instintos, todas as aspirações de pais, professores e alunos.

O que é que esta estrutura produz? Produz programas, currículos e reformas. E como é necessário, para que a estrutura possa continuar a existir, que a produção continue sem interrupção, os programas e os currículos estão sempre a mudar e as reformas sempre a renovar-se. Mas mudam e renovam-se, sempre, para que tudo fique na mesma. Não admira, neste universo surreal, que seja necessário um organismo especificamente dedicado à inovação educativa. Mas é sempre uma inovação em falso, uma falsa inovação, porque o progresso faz-se na História e o mundo desta gente é o eterno presente dos faraós e dos fellahs.

Tudo isto, ainda por cima, custa dinheiro. Cada euro pago aos burocratas da «educação» é um euro que não é utilizado para aquecer as salas de aula ou para pagar manuais escolares aos alunos que não os podem comprar. Mas isto não preocupa os burocratas, para quem o sistema de ensino ideal seria um sistema com Ministério e sem Escolas.

3. Incivismo

Nenhuma escola cumpre eficazmente a sua função de ensinar (insisto no ensinar) se os alunos faltam sistematicamente, chegam atrasados, agridem colegas e professores, comparecem sem material de trabalho, destroem ou degradam as instalações, desprezam o conhecimento e a cultura; se aos professores é retirado o direito à deontologia; se os pais e encarregados de educação se alheiam e se desresponsabilizam; se os funcionários se refugiam e afadigam no formalismo burocrático em detrimento de qualquer trabalho útil.

O incivismo é muitas coisas. É uma forma de resistência passiva, porque nem os pais, nem os professores, nem os alunos, nem a sociedade querem a escola que o poder lhes impõe; é uma forma de protesto; é o resultado da impunidade geral; é a expressão de quem não sabe exprimir-se doutro modo.

Para trazer civilidade às escolas é preciso dar aos alunos os instrumentos conceptuais que permitem o debate e a crítica, de modo a que tenham uma alternativa à violência. É preciso que a Escola não seja ela própria violenta - e isto não quer dizer uma escola que não exige e não pune, mas sim uma escola que não violenta os espíritos, uma escola em que os programas, as práticas pedagógicas e os normativos disciplinares respeitam minimamente os consensos sociais. É preciso que os alunos e os professores se sintam respeitados enquanto pessoas, e não apenas como «recursos humanos» actuais ou futuros.

E também é preciso que funcione nela uma autoridade legítima e que não tenha nada a esconder, de modo a que todos os actos e omissões, dos mais graves aos mais inócuos e aos mais meritórios, tenham consequências previamente conhecidas. Os professores deviam ser responsabilizados pela eficácia do seu ensino - e não pelas coreografias que executam ao som dos delírios pedagógicos do Ministério. Os alunos deviam ser responsabilizados pelo que aprendem e por aquilo que deixam os outros aprender - e não pela sua progressiva aproximação a um qualquer ideal tecno-burocrático. Os pais e encarregados de educação deviam ser responsabilizados - inclusivamente através de coimas ou perda de benefícios sociais - pela assiduidade, pontualidade, civismo e interesse em aprender dos seus educandos.

E o Ministério da Educação devia ser dissolvido, porque a sua própria existência faz parte do problema.


quarta-feira, 6 de junho de 2007

O Neoliberalismo não é um Humanismo

O Socialismo, dizem que é um Humanismo. A Social-Democracia e a Democracia-Cristã, também. Até o Cristianismo, o Comunismo e o Islamismo se dizem «humanos».
Mas o neoliberalismo, não. Nem se dá ao trabalho de mentir.

Discurso de Francisco Louçã

Este discurso foi feito no encerramento do Congresso do BE e não passou nas televisões. Para o ver e ouvir, clique no título deste post.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Romances policiais

Não tenho vergonha de confessar que gosto de romances policiais. Cresci com Agatha Christie, Ellery Queen, Rex Stout, Mickey Spillane. Li Dashiell Hammett e Raymond Chandler sem me aperceber ainda que eram génios.
Depois descobri - nessa altura já em inglês - John McDonald; mais tarde ainda, Eric Ambler, Ruth Rendell, P. D. James, Ngaio Marsh.
Agora leio Michael Connelly, Michael Dibdin, Barbara Nadel, Martin Cruz Smith, Donna Leon.
(Uma vez, na livraria do aeroporto de Zurique, a menina da caixa perguntou se eu sabia que Donna Leon era proibida em Itália. Eu disse-lhe que não sabia, e para dizer a verdade ainda não sei).
Sigo as aventuras de Harry Bosch em Los Angeles, de Arkady Renko em Moscovo, do Inspector Ikmen em Istambul, do Comissário Brunetti em Veneza, de Aurelio Zen por toda a Itália.
Hoje terminei The Innocent de Harlan Coben.
Gostei . Fiquei com a ideia que se Updike escrevesse romances policiais talvez escrevesse algo parecido com isto.

De Rerum Natura

Um blogue publicado por cientistas, filósofos e educadores, todos de topo. A não perder!

(Para ligar a
De Rerum Natura clique no título deste post)

sexta-feira, 1 de junho de 2007

The Skeptic's Dictionary

É o nome de um site e é o título de um livro. No livro, da autoria de Robert Todd Carroll, são apresentados vários strange beliefs, amusing deceptions e dangerous delusions, começando em acupuncture e terminando em zombies. É um livro bom para acompanhar Pseudoscience and the Paranormal de Terence Hines.
No site, podemos encontrar vários artigos, discussões e ligações, e sobretudo uma classificação e caracterização bastante completas das falácias mais correntes no discurso anti-racional.
Para um educador o site representa um recurso inestimável, sobretudo num contexto político em que as pedagogias dos «saberes» no plural e das «competências» abrem as portas a todas as superstições, irracionalismos e manipulações ideológicas.