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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O Estranho Mundo de Maria de Lurdes

Um dos meus terrores é apresentar-me um dia num tribunal na qualidade de litigante ou réu e deparar com um juiz que não saiba latim, francês, inglês ou alemão, que mal domine o português e não seja capaz de pensamento crítico; que nunca tenha lido Antero de Quental, António Vieira, Arendt, Aristófanes, Aristóteles, Austen, Balzac, Beauvoir, a Bíblia, Brecht, Burke, Carlyle, Camilo, Camões, Céline, Cervantes, Cesário Verde, Cícero, Conrad, Debord, Dickens, Dostoievsky, Eça, Epicuro, Ésquilo, Flaubert, Freud, Hawthorne, Hemingway, Hobbes, John Stuart Mill, Kant, La Fontaine, Lampedusa, Locke, Lucrécio, Maquiavel, Marco Aurélio, Marx, Melville, Milton, Montaigne, Montesquieu, Nietzsche, Ortega y Gasset, Paine, Pessoa, Platão, Rousseau, Sade, Sagan, Sartre, Shakespeare, Sófocles, Stendhal, T.S. Eliot, Thoreau, Twain, Unamuno, Whitman; que nunca tenha vivido, estudado ou trabalhado noutro país; que não saiba ver um quadro ou uma escultura, compreender uma criança ou ouvir uma sinfonia.
Tenho medo de ser julgado por um juiz que só saiba do mundo as formalidades do Direito. Tenho medo que os meus netos sejam ensinados por um professor que só saiba dos homens as ortodoxias da Pedagogia de Estado em vigor; de ser tratado por um médico que só sabe Medicina (e que, nas palavras de Abel Salazar, nem Medicina sabe); de ver as minhas poupanças geridas por economistas que só saibam Economia - ou, pior que isso, Finanças.
José Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues ainda são suficientemente jovens para poderem vir a ser vítimas da sociedade que estão a criar. No caso deles, terá sido feita justiça: justiça poética. Mas que justiça nos será feita a nós, que não temos culpa nenhuma?

8 comentários:

Paulo G. Trilho Prudêncio disse...

E Proust, já agora.

Abraço.

Paulo Prudêncio.

Francisco Trindade disse...

Como o Paulo dá a entender faltariam muitos outros autores que é impossível de enumerar num pequeno texto que também não tem como objectivo enumerar todos os grandes vultos da História, aquilo que Plekhanov chamava de "manifestações brilhantes"...Mas, caro colega Sarmento, não se esqueça de que a maior parte daqueles que designa "Mas que justiça nos será feita a nós, que não temos culpa nenhuma?" têm efectivamente culpa "no cartório" porque foram aqueles que votaram neles e acreditaram ingenuamente (toda a crença é ingénua)nas promessas do "inginheiro".
Eu pessoalmente estou descansado, não votei. E os outros votantes poderão dizer o mesmo?

Anónimo disse...

Caro Paulo:
Proust, é claro, e muitos outros. e não só na Literatura e na Filosofia: também nas Artes, na Música, nas Ciências. O meu ponto é que há certas profissões (professor, juiz, médico, político) que não podem ser exercidas com um nível mínimo de competência por quem não tiver uma cultura sólida, o que implica uma visão do mundo e dos homens sofisticada, consistente, reflectida e em permanente aperfeiçoamento.

A tragédia está em que os políticos de hoje, não contentes com a sua própria mediocridade, estão a fazer tudo para a impor também aos outros. Talvez isto seja um pequeno sintoma, entre muitos, que estamos numa situação de retrocesso civilizacional só comparável à queda do Império Romano.

Caro Francisco:
Eu também não votei no inginhero, mas não culpo quem o fez. Ninguém podia adivinhar que o homem ia agir em contradição directa ao estabelecido no seu programa eleitoral e no seu programa de governo. Ao fazer isto, de resto, entrou em incumprimento de mandato (que além duma duração, tem também um conteúdo), fazendo assim com que a sua legitimidade democrática caducasse prematuramente.

Hoje pode-se dizer, em bom rigor, que o poder que o inginhero exerce é ilegítimo e usurpado; e que os cidadão têm, não só legitimidade para desobedecer, mas o dever cívico de o fazer.

Francisco Trindade disse...

Caro Sarmento,
estou de acordo com a sua análise à excepção de um ponto que para mim, se calhar não tanto para si, é muito importante, quiçá decisivo:
"Ninguém podia adivinhar que o homem ia agir em contradição directa ao estabelecido no seu programa eleitoral e no seu programa de governo."
Só os ingénuos, tendo em conta o conhecimento da História política que nos está disponível, é que poderiam de algum pensar nesses termos.
Conhece a expressão: O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente? Sabia que tem mais de duzentos anos? E as pessoas não aprendem? Ainda têm ilusões?

Um abraço
e vamos continuar a luta
que não estamos em tempo de desistência...

Francisco Trindade

Paulo G. Trilho Prudêncio disse...

Meus caros.

Votei no ps nas últimas legislativas (não me lancem para o fogueira, ok?). Não vou votar no ps nas próximas legislativas. Subscrevo tudo aquilo que escreveram, e também, claro, o seguinte: "e vamos continuar a luta
que não estamos em tempo de desistência..."

Um grande e fraterno abraço aos dois.

j. manuel cordeiro disse...

Excelente texto.

Fátima André disse...

José,
Fez uma excelente análise da realidade ferida. Tocou-lhe no cerne.
Um abraço. Bom fim de semana.

Anónimo disse...

Ler este pequenino texto, equivale a um ler um bom livro com mais de 400 páginas.
João Serra