As aulas vão recomeçar e acho que em 32 anos de carreira nunca comecei um ano lectivo tão desmotivado e tão descrente como agora. O estatuto que me rege manda-me executar as políticas educativas do governo mesmo que delas discorde - e discordo, visceralmente. Não encontro nada que me motive, nem nos fundamentos filosóficos desta política - se é que os tem - nem nas "tarefas" e "actividades" fúteis e irrisórias que me são atribuídas em vez de ensinar, nem no formalismo das reuniões, nem na burocracia da gestão, nem no projecto educativo pré-formatado em cuja definição devo supostamente participar, nem em nada.
O que eu quero é reformar-me. Mais oito anos a arrastar a minha descrença pelas salas de aula, e a contagiar com ela, mesmo sem querer, os meus alunos - eis o que me pesa como uma condenação.
Pelo crime de sempre ter querido ser professor.
Blogue sobre livros, discos, revistas e tudo o mais de que me apeteça escrever...
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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.
..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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3 comentários:
Caro José Luis,
apreciei muito a sua sinceridade. E acredito que o seu estado de espírito se identifica com o de tantos professores.
Contudo, não pude deixar de tomar nota da sua última frase que parece ser o desabafo do balanço de toda uma vida votada ao ensino: "Pelo crime de sempre ter querido ser professor." Espero que seja apenas um desabafo sem ser o balanço da sua carreira! Quando os professores considerarem que gostar da sua profissão se tornou num "crime", como as medidas políticas do M.E. por vezes induzem, então a única salvação para toda esta situação que, a meu ver, ainda reside nos professores e não nos cérebros de escritório, ficará seriamente comprometida.
Um abraço
Caro colega
Tudo o que disse sinto-o profundamente. Também vou ser uma espécie de pau-mandado a cumprir burocracias que não vão melhorar o ensino!
Mas se somos professores temos que centrar-nos no que interessa que são os nossos alunos e, no pouco espaço de manobra que nos foi deixado,poderemos fazer ainda muita coisa e ajudar a formar mentalidades.
A nossa missão ninguém nos pode tirar, não se esqueça disso.
Abraço.
Magda
Meu caro JLSarmento eu diria que o que sente está certo e não tem nada a ver com as políticas do ministério. Simplesmente voce não nasceu para ser toda a via empregado. A vida tem fases, tempos, há um tempo para crescer, há outro para aprender, outro ainda para fazermos parte do sistema produtivo e finalmente um para vivermos a vida a partir de nós. Esta fase começa pelos cinquenta e tal, pelo que tenho observado e por experiÊncia própria.
Voce simplesmente está na altura de um novo nascimento; os seus interesses já não estão no ensino. A sua vida tem mais caminho do que esse. Não espere pela reforma para abraçar a nova fase da sua vida. Se não pode reformar-se agora, mesmo com penalizações, arranje maneira de viver ao mesmo tempo a vida velha e a nova. O que me parece que já estará a fazer.
Portanto, não desespere - o seu desinteresse pelo novo ano escolar só significa que você está a percorrer correctamente o seu caminho na vida; que novos horizontes se lhe estão a abrir. É pois, um bom sinal!
Estando conciente disto, pode agora tratar com carinho estes anos de despedida da sua actividade de professor, este é o seu tempo de transição entre fases da vida - é o tempo de uma viagem entre tempos. Um abraço
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