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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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terça-feira, 26 de maio de 2020

Aldous Huxley, Point Counter Point

Quando participei num desafio em que era convidado a publicar no Facebook as capas de dez livros que me tivessem marcado, um dos títulos em que pensei foi 'Nineteen Eighty-Four' de George Orwell. E como este livro é frequentemente emparelhado com a distopia de Aldous Huxley 'Brave New World', pensei em incluir este título na lista.

Não o fiz, porém. É certo que Nineteen Eighty-Four' me marcou, é igualmente certo que 'Brave New World' também, e que a conjunção ou oposição das duas distopias me marcaram ainda mais. Nenhuma das duas me serviu de grelha de leitura única para compreender o meu tempo porque - lá está -existia também a outra.

Mas a obra mais ambiciosa de Huxley é 'Point Counter Point', e marcou-me mais do que me pareceu à primeira leitura. O romance foi publicado em 1928 e grande parte das suas personagens podem ter sido inspiradas em contemporâneos de Huxley. O mundo em que a acção decorre é o das elites artísticas, jornalísticas, literárias e científicas da época. E políticas, também: o líder fascista Edward Webley chefia um movimento que é, na Europa dos finais dos anos Vinte, perfeitamente respeitável.

Porquê falar deste romance e não de outro mais imediatamente relevante - como 'Brave New World' - para as perplexidades da era em que vivemos hoje? Em parte porque os pares de opostos que determinam a organização do texto - natureza e artifício, racionalidade e intuição, espectáculo e acção, ponto e contraponto - continuam a ser úteis para podemos ler o nosso tempo. Mas principalmente porque se trata, não de um panfleto nem de um 'roman à clef', mas de literatura. O autor não ignora a economia, a política ou a história - se as ignorasse nem literatura seria capaz de fazer - e não se abstém, longe disso, de produzir crítica social. Produz esta crítica de um ponto de vista que não é o do seu contemporâneo D.H. Lawrence; mas, ao retratar Lawrence na personagem Mark Rampion, e dando-lhe amplamente voz, cria o contraponto crítico para o seu ponto. Já é obra de monta.

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