Porque é que os portugueses não se revoltam? Esta questão já intrigou Lord Byron, que depois de visitar Portugal nos chamou povo de escravos. Unamuno caracterizou-nos pelo culto da dor e por sermos um povo de suicidas. Temos uma fascinação antiga pela mediocridade, pelo sofrimento e pela pobreza: Salazar bem a conhecia, e soube bem tirar partido dela. Até na inveja somos pobrezinhos: odiamos quem tem um pouco mais que nós, mesmo que o mereça, mas tratamos com admiração e subserviência qualquer ladrãozeco que tenha acumulado uma fortuna.
A austeridade cai-nos no goto: achamos que merecemos ser pobres e vemos nessa pobreza uma manifestação de virtude. Por isso aceitamos que nos digam, mentindo, que não trabalhamos o suficiente: por mais que trabalhemos, e por mais penosamente, nunca seremos punidos como merecemos pela culpa de ser portugueses. Tudo o que realça a vida é luxo, e tudo o que é luxo é pecado: daí a nossa aversão às Ciências, às Letras e às Artes. Em vez de favorecer o engenho, condenamo-lo à miséria. Já disto se queixava Camões, no tal Canto Décimo que todos os portugueses deviam saber de cor:
Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida;
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a Pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza.
Estamos então na mesma? Não: estamos pior. Porque não se muda já como soía, os portugueses são hoje menos para mandar do que para ser mandados. E mandados por alemães; é isto que é o cúmulo da vileza.
6 comentários:
Certeiríssimo. Infelizmente, a maioria dos portugueses são uns poltrões, fracos e venais, que arreganham os dentes quando sentem a chibata e puxam a carroça com mais força ainda...
Com menos ministros, Deputados e Generais, em suma com menos chicos espertos a viver à conta do orçamento, nao seria mais justo? O s males devem ser todos denunciados como faria um bom médico.
Creio que foi S. Lucas que disse:
Ai daqueles que chamarem bem ao mal, e mal ao bem!
Pois;houve um sr. que disse que esta tendência para a curvatura era atávica; outro disse mais tarde que o povo é sereno; o Eça dizia que o povo era um burro de carga,incapaz de um coice ou de um agitar de orelhas; o povo, quanto a mim, sofre de uma patologia complicada, mistifório de orfandade e resignação; continua a agarrar-se ao fado, ao futebol e ao tinto para curar ou afogar as frustações,senão a fome, na vaga esperança de vir um D. Sebastião que o irá salvar das mãos dos seus algozes...Se não fizer pela vida e abrir a pestana, bem pode esperar por uma manhã de nevoeiro que nunca chegará!...
Excelente Post!
Concordo com cada palavra!
Um abraço
Pelo que leio cá dentro fico com a sensção de o TUGA ser matéria de estudo, case study, leccionada em tudo o que é universidade dos outros povos. Contudo como já vivi lá fora e vi que todos os povos olham para si próprios com o mesmo grau de autocritica, já não me sinto tão só ou especial.
Limpinho, até quando ...
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