Começo a estar um bocado farto de as médias serem termo de comparação, tanto no discurso dos politicos. Os resultados dos alunos portugueses aproximam-se da média da OCDE? Triunfo! Os salários de (alguns) professores ultrapassam a média da OCDE? Escândalo!
Ninguém vai aos jogos olímpicos para ficar nos lugares intermédios. Todos querem ficar pelo menos no pódio, e se possível no primeiro lugar. A isto, chama-se ambição. Mas na linguagem dos políticos e dos tecnocratas a «ambição» é chegar à média - quando não, como é o caso nas políticas austeritaristas em vigor, de mudar para pior. Em politiquês técnico, o empobrecimento de um povo é um objectivo «ambicioso».
Suponhamos que visávamos, em vez disto, o topo. O objectivo não seria um sistema de ensino quase tão bom, ou mesmo tão bom, como o da Finlândia, da Coreia do Sul ou de Singapura: seria um sistema de ensino melhor do que estes.
Por onde começar? Desde logo pela inventariação dos meios: temos uma classe docente que até há poucos anos esteve motivada para a transmissão do conhecimento entre a geração anterior e a próxima; e em que alguns resistentes ainda o estão. Temos um «parque escolar» com edifícios de altíssima qualidade arquitectónica mas conforto zero, e outros confortáveis mas de qualidade baixíssima em termos de arquitectura, engenharia e construção. Uma enorme e caríssima burocracia educativa a nível central e regional. Um sistema de administração política na tradição napoleónica - não a melhor das tradições, mas que tem funcionado razoavelmente na Europa do Sul.
O que nos falta? Para começar - e esta carência pode vir a revelar-se um obstáculo intransponível - falta-nos uma sociedade que valorize as letras, as artes e as ciências; que procure preservar o conhecimento antigo e criar o novo, prestigiando por extensão os transmissores do primeiro e os autores do segundo. Faltam-nos ainda um substrato de várias gerações letradas; a cultura corporativa da aprendizagem, ofício e mestria que ainda hoje informa os sistemas de ensino da Europa Central; hábitos de disciplina e auto-disciplina; a noção da gratificação diferida; e a vontade política de afirmar o País por via da competição cultural.
No entanto, se compararmos o sistema de ensino finlandês com o coreano, verificaremos que partem de filosofias e radicam em culturas que nada têm de comum entre si. Na Finlândia, é ponto assente que há vida para além da escola - alunos e professores têm férias longas e a semana escolar tem poucas horas; na Ásia os alunos vivem na ou para a escola. Na Ásia promove-se a competição, na Finlândia desencoraja-se. Na Ásia, o que conta é ser o melhor; na Finlândia conta o ser hoje melhor que ontem e amanhã melhor que hoje.
2 comentários:
Infelizmente assim é! Para mudar a situação,terão os politicos de mudar as suas mentalidades.
Adorei. Magnifico texto.
Saudações poéticas.
Teresa G.
Ando tão desanimada que já só me lembro de remédios radicais. Eis o último - proibir a educação. Depois abrimos escolas clandestinas e contratamos gorilas para cobrar as mensalidades. É genial: movimenta-se capital, criam-se empregos, e o nível de educação vai subir como nunca. A «malta» adora tudo o que é proibido, sobretudo se for caro...
(Imagine-se um smiley de sorriso amarelo e descorado)
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