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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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segunda-feira, 26 de maio de 2008

Delírios

Katharine McKinnon: A violação é uma instituição social pela qual os homens, todos os homens, mantêm as mulheres, todas as mulheres, em estado de subjugação política.

Andrea Dworkin: Todo o acto sexual que envolva penetração da mulher pelo homem é uma forma de violação.

Maria de Lurdes Rodrigues: Facilitismo é chumbá-los.

Eu: Já estamos habituados a ser governados por facínoras; já estamos habituados a ser governados por bárbaros; mas temos mesmo que ser governados por doidos varridos?

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Quem manda nos empresários?

Segundo o Sr. Engº Belmiro de Azevedo, ninguém. Textualmente: «Os ministros não têm autoridade para mandar nos empresários».
Isto, a propósito das tímidas medidas que o governo tem falado em tomar para mitigar a desproporção obscena entre os salários dos gestores e os dos trabalhadores.
Usar o tema da desigualdade como introdução para o tema da autoridade do Estado revela, da parte do Sr. Engenheiro, uma colossal falta de tacto. Mas não é da falta de tacto do engenheiro que quero aqui falar, é da sua completa falta de razão.
Os ministros têm autoridade para mandar nos empresários, sim senhor. Como é que eu sei que a têm? Porque eu próprio, como eleitor, contribuí para lhes dar essa autoridade.
Ao contrário do que o Sr. Engenheiro pensa, os empresários é que não têm qualquer autoridade para mandar nos ministros. É certo que mandam, embora sem autoridade para tal; mas para que mandem o menos possível é que todos nós, incluindo os empregados nas caixas do Continente, vamos de vez em quando às urnas.
Por isso, Sr. Engenheiro, habitue-se: enquanto os seus empregados tiverem direito a voto, o desejo que você tem de mandar em tudo continuará por satisfazer cabalmente.

sábado, 10 de maio de 2008

Estamos a ser governados por bárbaros.

"Facilitismo é chumbá-los."

Isto disse a actual ministra da educação, textualmente, numa entrevista televisiva. E nenhum leitor de Orwell que a estivesse a ouvir deixou, com certeza, de sentir um arrepio: Peace is War, Freedom is Slavery, tudo aquilo que nos ficou no ouvido quando lemos Nineteen Eighty-Four.

"Facilitismo é chumbá-los."

O senso comum diria antes que facilitismo é passá-los sem saberem. A maioria dos professores, que na sua maior parte sabem mais de ensino do que a ministra (e alguns muito mais), tenderia a concordar neste ponto com o senso comum; outros talvez acrescentassem que facilitismo é não diversificar as escolas, os programas e os currículos de maneira a que cada aluno possa encontrar no sistema o que melhor corresponde aos seus interesses, aos seus talentos e à sua idiossincrasia. Mas é claro que para uma estrutura centralizada e massiva como o ministério da educação o que é fácil é o modelo único.

"Facilitismo é chumbá-los."

Na convicção, na certeza absoluta com que a afirmação foi feita ouvem-se os ecos de todos os fanáticos e de todos os fundamentalistas. Vem à memória a Revolução Cultural Chinesa, com a qual tantos dos nossos políticos neo-liberais simpatizaram na juventude. Num recanto qualquer da mente de Maria de Lurdes Rodrigues a condição de "intelectual" continua a ser crime: daí o seu empenho inflexível em "re-educar" os professores pelo "trabalho": quanto mais desqualificado, humilhante, exaustivo e penoso este for, mais virtuoso será, e mais revolucionário.

"Facilitismo é chumbá-los."

A dilaceração psicológica que hoje afecta os professores assemelha-se na sua índole - embora não em grau, felizmente - àquilo a que costumo chamar o dilema do guarda no campo de concentração. Imagino um jovem alemão que nos anos trinta se tenha alistado no exército e que alguns anos depois se encontre colocado, sem nunca o ter pedido, num campo de extermínio. Sabe, não pode deixar de saber, o que lá se passa. Sabe que deve obediência à hierarquia legitimamente constituída. Sabe que essa obediência contradiz frontalmente a ética militar que lhe ensinaram - um soldado não pode nem deve ser um carniceiro e não mata civis desarmados - e contradiz igualmente a moral que lhe foi ensinada pelos pais, pelos professores, pela sociedade, pela igreja, que o proíbe de matar e torturar. A quem obedece o guarda? Aos seus superiores ou à sua consciência?

"Facilitismo é chumbá-los."

Tenho o sentido das proporções. Sei que o Portugal de hoje não é a Alemanha dos anos 30. Sei que os tecno-burocratas que pululam pelos nossos ministérios não são assassinos sádicos. E os nossos governantes não são psicopatas criminosos: são apenas, mais modestamente e de modo mais vil, bárbaros deslumbrados, incapazes de distinguir entre a civilização e o espectáculo.

"Facilitismo é chumbá-los."

Mas a ignorância do bárbaro, especialmente a do que se julga dono do futuro, tem-se mostrado historicamente tão perigosa como a violência do tirano. Um professor, um bom professor, é alguém que sempre se colocou como antepara e protecção entre a civilização e a barbárie. O combate à barbárie é o centro e o fundamento da sua ética profissional, da sua razão de existir e até, muitas vezes, da sua identidade como ser humano.

"Facilitismo é chumbá-los."

Que fará um professor, um bom professor, ao ver-se obrigado a optar entre o seu dever de obediência a uma autoridade (cuja legitimidade não pode negar) que lhe impõe a barbárie como objectivo e programa, e a obediência à deontologia mais elementar da sua profissão, que o obriga a combater por todos os meios essa mesma barbárie? Temo que a maior parte faça como fez a maior parte dos guardas dos campos de concentração. Desobedecer é perigoso, obedecer é seguro. Muitos escolherão a obediência. E com essa escolha generalizada o sistema terá chegado a um patamar superior de facilitismo e decadência.