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Mas não o estou a ler dum só fôlego. Não consigo. É como quem lê o Diário de Anne Frank ou vê a Lista de Schindler: há momentos em que tenho que interromper, pensar noutra coisa, desviar a minha atenção dos horrores que estou a ler antes que a minha indignação se anestesie e perca o gume.
É um livro que nos mostra que a tortura, os campos de concentração, o genocídio, as execuções extra-judiciais, o a redução estratégica de populações inteiras à mais sórdida pobreza não são actos exclusivos dos ditadores do costume, mas sim princípios de acção política teorizados e postos em prática, neste mesmo momento, por distintos académicos e por políticos «democráticos e civilizados».
É um livro de leitura penosa para quem preza a sua a humanidade e respeita a humanidade dos outros. Mas é um livro que tem que ser lido por quem olha à sua volta e se interroga como está a ser possível fazer regredir um a um todos os adquiridos civilizacionais dos últimos duzentos anos - apesar de os avanços tecnológicos criarem as condições materiais para que eles progredissem.
É um livro que, se não tiver outro efeito, terá pelo menos este: o de fazer com que os lacaios da nova tirania não tenham mais desculpa e não possam dizer que não sabiam.
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