A primeira resposta que ocorre a esta pergunta é: não pode e não tem nada que tentar.
Mas há um problema com esta resposta. As conclusões da ciência fundamentam muitas vezes decisões políticas sobre as quais os cidadãos têm o direito e o dever de se pronunciar mesmo que não disponham de informação suficiente.
Esta questão põe-se hoje com especial acuidade na questão do aquecimento global. Todos os dias aparecem nos jornais, nas televisões, nos blogues, pessoas de quem nunca ouvimos falar mas que se apresentam ou são apresentadas como cientistas, umas a defender que o aquecimento global antropogénico é uma realidade objectiva, outras que ele é uma uma invenção esquerdista e parte duma conspiração para destruir o capitalismo. Em quem acreditar?
Para um cientista, este dilema é relativamente fácil de resolver. Pode consultar os trabalhos publicados, replicar as experiências em que eles se basearam, examinar os protocolos respectivos, pedir a colegas que façam o mesmo no que respeita as suas áreas de competência, avaliar os resultados à luz do seu próprio conhecimento.
Para quem não tem acesso ao método científico resta, por defeito, o argumento de autoridade: quem diz o quê, e com que credenciais? Perante uma afirmação atribuída ao sr. A e a afirmação contrária atribuída ao sr. B, nada nos impede de ir ao Google e fazer uma pesquisa sobre um e outro. Depois é uma questão de estabelecer critérios.
A primeira coisa a ver é se o sr A e o sr B afirmaram mesmo o que lhes é atribuído: os meios de comunicação e os blogues distorcem com muita frequência o que as pessoas afirmam, por vezes a ponto de as pôr a dizer o contrário do que realmente disseram.
Outro critério é se o cientista citado se está a pronunciar dentro da sua área de competência ou fora dela. Fora da sua área de competência um cientista é um leigo como qualquer de nós.
E qual é essa área de competência? A Economia, a Sociologia, a Psicologia, o Direito, a Politologia, a Antroplogia são disciplinas perfeitamente respeitáveis, sofisticadas e imprescindíveis ao conhecimento humano; mas os seus resultados não têm o poder de coacção intelectual que têm os da Física, da Química ou da Biologia. A Meteorologia e a Climatologia, que vão buscar às ciências experimentais o objecto e às Matemáticas o método, dão também elas boas credenciais aos seus praticantes.
Que currículos apresentam o sr. A e o sr. B? Que artigos publicaram? Em que revistas? Que livros? Editados por quem? A que instituições estão ligados?
Uma universidade prestigiada é para mim mais credível,
a priori, do que uma universidade de que nunca ouvi falar, e muito mais credível do que um
think tank. Isto não me dispensa, é claro, de pesquisar estas instituições: quem as fundou? Quais são os seus estatutos? Quem as financia? Quem responde por elas? Quem as critica, e com que argumentos? Que êxitos já obtiveram? Tudo isto pode ser pesquisado. O mesmo vale para as publicações, as editoras, as associações profissionais e científicas, os
lobbies, os organismos internacionais, as organizações governamentais.
Um leigo que queira formar uma opinião sobre questões como o aquecimento global não está desprovido de recursos. Não tem obrigatoriamente que se basear em pressupostos religiosos ou políticos, nem em preconceitos ou palpites. Pode não estar ao seu alcance ter uma opinião científica em sentido restrito, mas está ao seu alcance ter uma opinião informada.