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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Zeitgeist: The Movie

O filme tem uma hora e cinquenta e seis minutos de duração e foi realizado para ser visto online. Pode ser encontrado aqui ou clicando no título deste post. Na primeira parte compara a mitologia cristã com diversas outras mitologias, para a seguir analisar a utilização que dela foi feita ao longo da História como instrumento de propaganda ideológica.
Também pode ser encontrado no youtube, dividido em fragmentos de poucos minutos. A versão completa para que remete o meu link é falada em inglês e tem um menu de legendas em várias línguas, incluindo o espanhol.
A não perder. Vejam e divulguem.

sábado, 20 de outubro de 2007

The Shock Doctrine de Naomi Klein

Esprerava ler este livro dum só fôlego. Era o que as críticas me diziam que ia acontecer. E de facto a linguagem é clara, o tema apaixonante, a argumentação cogente, a exposição articulada e densa.

Mas não o estou a ler dum só fôlego. Não consigo. É como quem lê o Diário de Anne Frank ou vê a Lista de Schindler: há momentos em que tenho que interromper, pensar noutra coisa, desviar a minha atenção dos horrores que estou a ler antes que a minha indignação se anestesie e perca o gume.

É um livro que nos mostra que a tortura, os campos de concentração, o genocídio, as execuções extra-judiciais, o a redução estratégica de populações inteiras à mais sórdida pobreza não são actos exclusivos dos ditadores do costume, mas sim princípios de acção política teorizados e postos em prática, neste mesmo momento, por distintos académicos e por políticos «democráticos e civilizados».

É um livro de leitura penosa para quem preza a sua a humanidade e respeita a humanidade dos outros. Mas é um livro que tem que ser lido por quem olha à sua volta e se interroga como está a ser possível fazer regredir um a um todos os adquiridos civilizacionais dos últimos duzentos anos - apesar de os avanços tecnológicos criarem as condições materiais para que eles progredissem.
É um livro que, se não tiver outro efeito, terá pelo menos este: o de fazer com que os lacaios da nova tirania não tenham mais desculpa e não possam dizer que não sabiam.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Como pode um leigo avaliar a ciência?

A primeira resposta que ocorre a esta pergunta é: não pode e não tem nada que tentar.

Mas há um problema com esta resposta. As conclusões da ciência fundamentam muitas vezes decisões políticas sobre as quais os cidadãos têm o direito e o dever de se pronunciar mesmo que não disponham de informação suficiente.

Esta questão põe-se hoje com especial acuidade na questão do aquecimento global. Todos os dias aparecem nos jornais, nas televisões, nos blogues, pessoas de quem nunca ouvimos falar mas que se apresentam ou são apresentadas como cientistas, umas a defender que o aquecimento global antropogénico é uma realidade objectiva, outras que ele é uma uma invenção esquerdista e parte duma conspiração para destruir o capitalismo. Em quem acreditar?

Para um cientista, este dilema é relativamente fácil de resolver. Pode consultar os trabalhos publicados, replicar as experiências em que eles se basearam, examinar os protocolos respectivos, pedir a colegas que façam o mesmo no que respeita as suas áreas de competência, avaliar os resultados à luz do seu próprio conhecimento.

Para quem não tem acesso ao método científico resta, por defeito, o argumento de autoridade: quem diz o quê, e com que credenciais? Perante uma afirmação atribuída ao sr. A e a afirmação contrária atribuída ao sr. B, nada nos impede de ir ao Google e fazer uma pesquisa sobre um e outro. Depois é uma questão de estabelecer critérios.

A primeira coisa a ver é se o sr A e o sr B afirmaram mesmo o que lhes é atribuído: os meios de comunicação e os blogues distorcem com muita frequência o que as pessoas afirmam, por vezes a ponto de as pôr a dizer o contrário do que realmente disseram.

Outro critério é se o cientista citado se está a pronunciar dentro da sua área de competência ou fora dela. Fora da sua área de competência um cientista é um leigo como qualquer de nós.

E qual é essa área de competência? A Economia, a Sociologia, a Psicologia, o Direito, a Politologia, a Antroplogia são disciplinas perfeitamente respeitáveis, sofisticadas e imprescindíveis ao conhecimento humano; mas os seus resultados não têm o poder de coacção intelectual que têm os da Física, da Química ou da Biologia. A Meteorologia e a Climatologia, que vão buscar às ciências experimentais o objecto e às Matemáticas o método, dão também elas boas credenciais aos seus praticantes.

Que currículos apresentam o sr. A e o sr. B? Que artigos publicaram? Em que revistas? Que livros? Editados por quem? A que instituições estão ligados?

Uma universidade prestigiada é para mim mais credível, a priori, do que uma universidade de que nunca ouvi falar, e muito mais credível do que um think tank. Isto não me dispensa, é claro, de pesquisar estas instituições: quem as fundou? Quais são os seus estatutos? Quem as financia? Quem responde por elas? Quem as critica, e com que argumentos? Que êxitos já obtiveram? Tudo isto pode ser pesquisado. O mesmo vale para as publicações, as editoras, as associações profissionais e científicas, os lobbies, os organismos internacionais, as organizações governamentais.

Um leigo que queira formar uma opinião sobre questões como o aquecimento global não está desprovido de recursos. Não tem obrigatoriamente que se basear em pressupostos religiosos ou políticos, nem em preconceitos ou palpites. Pode não estar ao seu alcance ter uma opinião científica em sentido restrito, mas está ao seu alcance ter uma opinião informada.

domingo, 14 de outubro de 2007

Dez passos para uma América fascista

Naomi Wolf publicou em Setembro The End of America: Letters to a Young Patriot, onde sustenta a tese de que em todas as sociedades que passaram de democracias a ditaduras foram dados os mesmos dez passos, e que todos os dez estão em curso na América de George W. Bush. São eles:

1. Invocar um inimigo interno e externo
2. Criar um gulag
3. Desenvolver uma casta de rufiões e dar-lhes poder
4. Instalar um sistema de vigilância interna
5. Incomodar e perseguir associações de cidadãos
6. Proceder a detenções e libertações arbitrárias
7. Identificar opositores chave
8. Controlar a imprensa
9. Eliminar a distinção entre dissidência a traição
10. Suspender o estado de direito.

Os paralelismos que Naomi Wolf estabelece entre o que se está agora a passar nos EUA e o que se passou em sociedades tão diversas como a Alemanha nazi, o Chile de Pinochet e a República Democrática Alemã são no mínimo perturbadores e dignos de que se reflicta sobre eles. Pode ser encontrado um resumo do livro neste artigo.

Boa leitura, e bons sonhos.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Desafio ao leitor

"The chief enjoyment of riches consists in the parade of riches, which in their eye is never so complete as when they appear to possess those decisive marks of opulence which nobody can possess but themselves."

Quem escreveu isto?

domingo, 7 de outubro de 2007

O mais recente de Terry Pratchett

Em Making Money encontramos de novo a personagem principal de Going Postal, o ex-burlão Moist von Lipwig que depois de se reorganizar os Correios de Ankh-Morpork se vê agora na direcção da Casa da Moeda. Conseguirá von Lipwig introduzir o papel-moeda nos hábitos da população? Conseguirá impedir as perturbações causadas pela introdução de quatro mil golems no mercado de trabalho? Sobreviverá às maquinações da família Lavish? Conseguirá neutralizar o chantagista que o ameaça?
Como todos os romances de Pratchett, Making Money insinua-se nas boas graças do leitor como uma inofensiva fantasia humorística carregada de nonsense e de alusões para se transformar a pouco e pouco numa alegoria ética de enorme profundidade e largo fôlego.
Enquanto reforma o sistema financeiro da cidade tem ainda que reencaminhar para o Paraíso - ou pelo menos para um paraíso - um fantasma que assombrava o Departamento de Necromancia da Unseen University e para escapar às atenções da Liga dos Assassinos.
Não digo "a não perder" porque se trata do trigésimo-primeiro título da série Discworld e quem já leu os outros não vai perder este. Digo apenas que tenho pena de ter chegado ao fim sabendo que vou ter que esperar muitos meses até que Pratchett publique outro livro.

sábado, 6 de outubro de 2007

Mudam-se os tempos

It is no crime to be ignorant of economics, which is, after all, a specialized discipline and one that most people consider to be a ‘dismal science.’ But it is totally irresponsible to have a loud and vociferous opinion on economic subjects while remaining in this state of ignorance.

- Murray N. Rothbard, via O Insurgente

Dantes dizia-se que a política era a arte de impedir as pessoas de se meterem no que lhes diz respeito. Agora, pelos vistos, é a economia.

Modernices...


sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Democracia e mercados livres

No próximo domingo vai ser testada, julgo que pela primeira vez desde que há regimes democráticos, a compatiblidade entre a democracia e os mercados livres. A Costa Rica vai decidir em referendo se aceita ou não a assinatura do CAFTA (Central American Free Trade Agreement). Alguns políticos americanos e o Wall Street Journal já começaram a insinuar a possibilidade de represálias se o voto popular for contra a ortodoxia neoliberal.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

O pior ser humano dos últimos 100 anos

Todos conhecemos a conversa, de tão repetida. Quem foi o pior ser humano da história recente? Os dois candidatos principais a este título são, é claro, Hitler e Stalin. A tal ponto que entre uma certa direita e uma certa esquerda o essencial do debate parece reduzir-se a isto: Pois é, mas vocês têm o Hitler. Mas vocês têm o Stalin. Mas vocês têm o Hitler. Mas vocês têm o Stalin. E assim sucessivamente, numa repetição infinita que, por motivos para mim misteriosos, parece não entediar quase ninguém.

Bom, talvez não seja bem assim. Há quem se entedie com a repetição, é claro. E mesmo os que não se entediam definitivamente precisam de pausas. Para preencher o tédio definitivo de uns e o tédio temporário dos outros, aparecem de vez em quando outros candidatos ao título: Pinochet, Fidel Castro, Saddam Hussein, Pol Pot, Dick Cheney, Ahmadinejad, Rumsfeld, Bin Laden... Noutros contextos, há quem mencione, por exemplo, Alastair Crowley ou Charles Manson; mas vamos deixar estes contextos de parte para não complicar.

No contexto do poder político, quem foram, nos últimos cem anos, os principais representantes do Mal?

O que parece estar implícito, tanto na blogosfera como nos diversos discursos propagandísticos, é uma espécie de sistema de pontos correspondentes a um número relativamente reduzido de critérios: número de pessoas mortas, número de pessoas torturadas, número de inocentes presos, número de pessoas reduzidas à pobreza extrema, número de livros queimados ou museus destruídos, grau de intencionalidade em todos estes actos, redução das liberdades privadas e públicas, grau de cobertura destes «custos» pelos «benefícios» verificados ou prometidos... Penso que não me esqueci de nenhum: se me esqueci, digam-me.

O problema com estes critérios é que uns são mais fáceis de quantificar do que outros, e portanto este debate é um debate que nunca terá fim. Esta inconclusividade pode torná-lo desinteressante para quem faz questão de chegar a conclusões, mas quem aprecia o espectáculo e o jogo pode continuar a segui-lo com interesse e até com paixão.

É neste espírito que lanço mais um nome para a contenda. Não se trata dum líder político nem militar. Nunca assinou uma sentença de morte. Que eu saiba, nunca matou uma mosca. Foi um pacato professor universitário e um respeitável académico. E contudo a sua responsabilidade por muita das injustiça e muito do sofrimento a que incontáveis seres humanos foram sujeitos talvez seja comensurável com a de qualquer dos monstros acima mencionados. Pode ser um contendor de segunda ou terceira linha para o título, mas é um contendor, e é como tal que o nomeio: Milton Friedman.

Bleakanomics

Enquanto não recebo The Shock Doctrine de Naomi Klein, deixo aqui o link para um artigo de Joseph E. Stiglitz, prémio Nobel da Economia, em que se faz a recensão do livro.