Christine Lagarde está mais preocupada com as crianças nigerianas do que com as crianças gregas. Isto é o que ela diz, mas mente. A última coisa com que o FMI se preocupa quando intervém num país é o bem-estar das crianças. Preocupa-se, sim, com o pagamento integral das dívidas nacionais - mesmo quando foram contraídas por tiranos corruptos em seu benefício pessoal ou quando as partes credoras nos contratos concederam estes empréstimos sabendo muito bem o que estavam a fazer e conheciam bem os riscos que corriam. Tanto o FMI como o Banco Mundial se opõem terminantemente ao princípio de que as dívidas devem ser pagas por quem as contraiu em benefício próprio. De auditoria à dívida - isto é, do direito elementar de cada um verificar as facturas que lhe são apresentadas - nem querem ouvir falar. De modo que o único país em apuros a fazer uma auditoria oficial à dívida foi a Islândia. Em Portugal, a auditoria está a ser feita, não pelo governo que tinha o dever de a fazer, mas por uma organização da Sociedade Civil ligada aos partidos da esquerda dita "radical". Na Grécia, a intenção por parte do Syriza de pôr em marcha este simples procedimento de rotina, que o FMI devia ser o primeiro a incentivar, vale a uma esquerda que mais não é, em rigor, que coerentemente social-democrata a acusação de "extremista."
Nem interessa ao FMI que os credores saibam onde está o dinheiro que emprestaram, quando é muito mais fácil fazer os pobres pagar. E os pobres que pagam são em grande parte as crianças africanas por quem Lagarde chora as suas lágrimas de crocodilo.
Alguns exemplos que refiro a seguir resumidamente estão desenvolvidos nesta hiperligação. No Gana, a intervenção do FMI reduziu em dois terços o acesso à escola das crianças provenientes dos meios rurais. Na Zâmbia, graças aos cortes impostos pelo FMI nas despesas de saúde, a mortalidade infantil disparou de novo, quando já estava a decrescer. Na Nigéria - sim, na Nigéria - o Programa de Ajustamento Estrutural imposto pelo FMI atingiu de forma especialmente grave os 85% da população que se dedicam à agricultura, tornando mais intensas e frequentes as fomes cíclicas e fazendo piorar os índices, que já eram maus, de subnutrição infantil.
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