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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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sábado, 28 de abril de 2012

All the Pretty Horses



Para o imaginário dum leitor português moldado culturalmente pela Europa, dificilmente haverá cenário mais remoto que a região fronteiriça entre o Texas e o México entre 1950 e 1960. Mas é a partir de cenários e situações históricas localizadas, alheias à experiência corrente dos habitantes do Mundo, que os grandes escritores nos iluminam sobre a variedade e a universalidade da condição humana.

Cormac McCarthy faz-nos vestir a pele das suas personagens, sejam elas um cowboy de 16 anos nascido e criado num rancho a Norte da fronteira, uma velha dama mexicana educada na Europa e testemunha da tragédia política do seu país desde o início do século, ou ainda o dono duma imensa hacienda que se estende sobre pastos, deserto e montanha. O mundo que elas habitam reflecte, por uma estranha alquimia, o nosso; e, por mais que sintamos, ao visitá-lo, que ficámos a conhecer um pouco de alguma coisa que nos era estranha, ficamos também com a sensação de conhecer melhor a nossa própria circunstância.

 All the Pretty Horses é o primeiro de três romances incluídos num volume com o título The Border Trilogy. Acabei de o ler ontem à noite, maravilhado e com o fôlego cortado. Estive tentado a passar imediatamente ao segundo romance, The Crossing; mas não o fiz porque não quero amalgamar a experiência das duas leituras. Como o comensal dum banquete que come sorvete de limão entre dois pratos fortes, estou de momento a limpar o palato com um pouco de Wodehouse.

All the Pretty Horses retrata o fim duma era. No Texas e no México ainda há ranchos imensos de criação de gado, e há cowboys e rancheiros para quem é uma evidência, pese embora o seu conhecimento enciclopédico sobre as estirpes de puro-sangue, que os cavalos foram postos neste mundo para trabalhar com gado. Em conversa com John Grady Cole, o jovem cowboy americano que é a personagem principal do romance, um vaquero mexicano põe de parte a possibilidade de os cavalos desaparecerem do Mundo: Deus nunca o permitiria.

E no entanto a paisagem, que continua imensa como no tempo em que só a habitavam Comanches, já não se deixa cruzar livremente a cavalo. Por toda a parte interpõe obstáculos: autoestradas, linhas férreas, estações de serviço, vedações, barreiras de asfalto, camiões na noite. O tom da escrita é, inevitavelmente, elegíaco. Mas a prosa sumptuosa de McCarthy, aparente tanto na sua voz autoral como na voz autêntica e lacónica das suas personagens, ajuda a redimir este apocalipse. Para quem vê as televisões e lê os jornais, e vê a América reduzida à caricatura ínane a que o actual debate ideológico a tem reduzido, é bom recordar que há mais América para lá da caricatura: um país natural sob o manto das estrelas e habitado por humanos de verdade.

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