Para o imaginário dum leitor português moldado culturalmente pela Europa, dificilmente haverá cenário mais remoto que a região fronteiriça entre o Texas e o México entre 1950 e 1960. Mas é a partir de cenários e situações históricas localizadas, alheias à experiência corrente dos habitantes do Mundo, que os grandes escritores nos iluminam sobre a variedade e a universalidade da condição humana.
Cormac McCarthy faz-nos vestir a pele das suas personagens, sejam elas um cowboy de 16 anos nascido e criado num rancho a Norte da fronteira, uma velha dama mexicana educada na Europa e testemunha da tragédia política do seu país desde o início do século, ou ainda o dono duma imensa hacienda que se estende sobre pastos, deserto e montanha. O mundo que elas habitam reflecte, por uma estranha alquimia, o nosso; e, por mais que sintamos, ao visitá-lo, que ficámos a conhecer um pouco de alguma coisa que nos era estranha, ficamos também com a sensação de conhecer melhor a nossa própria circunstância.
All the Pretty Horses retrata o fim duma era. No Texas e no México ainda há ranchos imensos de criação de gado, e há cowboys e rancheiros para quem é uma evidência, pese embora o seu conhecimento enciclopédico sobre as estirpes de puro-sangue, que os cavalos foram postos neste mundo para trabalhar com gado. Em conversa com John Grady Cole, o jovem cowboy americano que é a personagem principal do romance, um vaquero mexicano põe de parte a possibilidade de os cavalos desaparecerem do Mundo: Deus nunca o permitiria.