As pedagogias românticas procuram manter o ensino colado à "realidade do aluno" (ver a propósito este artigo do Ramiro Marques). À realidade do aluno, entenda-se bem, e não à realidade tout court: aquela, por exemplo, em que o Universo se expande em velocidade acelerada. A "realidade" das pedagogias românticas não é a realidade do mundo: é a normalidade nivelada por baixo. Assim, os manuais de línguas modernas podem apresentar textos em que se fala de astrologia sem nunca a pôr em causa. "Normal" é cada um saber o seu signo e guiar-se por ele em maior ou menor grau; pôr isto em causa seria coisa de elitistas, excêntricos ou anormais.
A mesma ausência de contraditório se verifica quando o tema é o ambiente (tudo o que é "natural" é bom, tudo o que é artificial é mau), a violência doméstica (as mulheres são sempre vítimas boazinhas, os homens sempre agressores mauzões, e das crianças e velhos não se fala para não complicar a questão), ou da fome e da pobreza (são sempre crimes de omissão e nunca de comissão). O multi-culturalismo é a regra. As vítimas de racismo e xenofobia nunca são brancas nem de classe média. Todas as famílias são bi-parentais e quase todas têm dois filhos, um de cada sexo. A guerra deve-se à violência inata dos homens e nunca a políticas deliberadas; em vez de poesia há lyrics; não há arte para além dos graffitti nem música para além dos sucessos do momento.
2 comentários:
Caro JLS,
Concordo com a quase totalidade do seu post.
Apenas discordo relativamente à gradação (de qualquer forma pouco significativa) relativamente à paternidade da ideia ou, pelo menos, a quem mais a segue.
Sendo verdade que muita gente de direita embarcou nesse disparate, comprou-o (à borla). A origem da coisa está na mentalidade revolucionária que é intrinsecamente de esquerda.
A mentalidade revolucionária usa todas as 'ferramentas' que descreve e está-se nas tintas relativamente à sua razoabilidade ou não. Usa-as porque servem o propósito de avacalhar tudo quanto confere à sociedade consistência social, inércia que lhe dá estabilidade, porque, finalmente, lhe permite (julga ela) reinar sobre uma mole humana desestruturada e incapaz de pensar por si própria. Apresenta-se como uma variante do cacique.
Do sexo à religião, tudo serve.
Tem razão. A «pedagogia romântica» não é de esquerda, é tontice pura, é fruto de adultos que ficaram presos numa adolescência eterna e não querem contrariar as crianças para não lhes ouvirem o «Não gosto de ti!» que todos nós dissemos um dia aos nossos pais quando nos contrariaram - atitude que mais tarde lhes agradecemos. Ser-se contra tal conglomerado de tolices não é de direita, é apenas sensatez.
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