Ando a escrever este texto na minha cabeça há muitas semanas. Um texto que se vai escrevendo na cabeça melhora até certo ponto; a partir desse ponto, piora.
Mas isso não me preocupou, porque não sabia se o viria a publicar; nem estava certo, sequer, de alguma vez voltar a escrever neste blogue ou na caixa de comentários de qualquer outro. De repente pareceu-me que tinha deixado de valer a pena. Não se tratava já de ser contra certas alternativas e a favor de outras - o que permite, e até exige, que se intervenha - mas de algo muito mais profundo: um desgosto generalizado com o tempo em que vivo.
Quem assim sente tende a tornar-se num reaccionário; mas para tal é preciso encontrar no passado um tempo melhor que o presente, e a mim parecem-me todos ainda piores. Não houve Idade de Ouro; nem é previsível que alguma vez a haja.
Resta a decência. Pervasiva no melhor dos casos, isolada em pequenas ilhas no pior. Decência, ao menos.
Ligeiramente indecente, além de completamente equivocado, foi o gáudio com que grande parte da blogosfera docente recebeu os resultados eleitorais. Muitos colegas nossos deslumbraram-se tanto com a derrota de José Sócrates que ficaram cegos à vitória de Passos Coelho. Temos hoje um governo com o mesmo universo mental do anterior. Um universo mental que não lhe permite sequer conceber um sistema de avaliação que não radique no neotaylorismo em vigor - na educação, mas também na saúde, na justiça, na segurança e sobretudo, com efeitos particularmente perniciosos, no sector privado. Um governo que fala sem pudor, tal como o precedente, em 'recursos humanos'; e que não conhece nem pode imaginar qualquer forma de organização social que não tenha no centro, sob mais ou menos camadas de verniz politicamente correcto, a escravatura pura e simples. Um governo que fala de mudança mas teme a alternativa. Um governo europeu, enfim; e não é preciso dizer mais.
8 comentários:
Desgostosa e muito enojada! É assim que eu me sinto. Fui de facto daquelas que vibrou com a escolha de Nuno Crato. E porquê? Ingenuidade, talvez. Li o livrrinho do eduquês, vi todos os "Planos Inclinados"....
Belo post, Luís.
Desiludido, tal como eu; muito desiludido mesmo. A mudança de governo que todos nós esperávamos pressupõe,no mínimo, novas alternativas, novos conceitos que dêem sustentabilidade às nossas legítimas aspirações. Os actuais inquilinos do poder estarão à altura dos desafios que a nossa sociedade enfrenta? Não quero ser tomado pelo pessimismo, mas o futuro deste país e o das nossas crianças é uma incógnita, se não mesmo angustiante...
Estava há espera que fosse mau...mas parece ainda pior que o outro. É igualmente mentiroso.
Isto tudo, este post e estes comentários são assim, mais ou menos, um discurso hermético sobre a falta de um salvador ou iluminado que nos salve disto tudo. O sebastianismo. É assim que se chama, não é?
Caros amigos e colegas, temos é de acordar bem-dispostos, trabalhar,melhorar a vida dos nossos alunos, aproveitar a vida e andar para a frente. O resto é conversa.
Isto tudo, este post e estes comentários são assim como que, mais ou menos, um discurso hermético sobre a falta de um salvador ou de um iluminado que nos salve disto tudo. Sebastianismo, não é? É assim que se chama, não é?
Caros amigos e colegas, temos é de acordar bem-dispostos, trabalhar, aproveitar a vida e andar para a frente. O resto é conversa.
Engraçado. E eu a pensar que estava a escrever contra o sebastianismo de que nasceu Passos Coelho.
Olha lá Luís Costa, "o resto é conversa"? Não é não. O resto é de facto o buraco onde nos encontramos metidos que não nos deixa acordar bem-dispostos, trabalhar, melhorar a vida dos nossos alunos, aproveitar a vida e andar para a frente.
De qualquer forma escrevo para não perder o escritor já que tanto se perdeu. Eu, mera leitora, torço para que a perda de valores não implique a perda do processo criativo que tanto admiro, até sua confissão de desgosto e nojo dá vasão ao meu olhar...
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