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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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domingo, 28 de fevereiro de 2010

O Trilema de Rodrik, a Bússola Política e o Hipercubo

Consideremos a possibilidade de haver democracias reais (entendendo-se por "real", por oposição a "formal", um sistema político em que o voto popular tem consequências); consideremos a possibilidade de existirem Estados Soberanos; e consideremos a possibilidade de haver Mercados Livres Globalizados. O Trilema de Rodrik diz-nos que quaisquer duas destas condições podem coexistir, mas nunca as três.

O que me interessa hoje discutir não é a validade desta tese, mas sim a possibilidade de acrescentar uma terceira coordenada à nossa já conhecida Bússola Política: a oposição entre nacionalismo e cosmopolitismo. A oposição entre laissez-faire e regulação económica não subsume esta terceira coordenada, uma vez que é possível, pelo menos em teoria, ser-se favorável aos mercados livres no âmbito nacional ou regional e desfavorável a eles no âmbito global.

Temos assim que o nosso conhecido quadrado em que se definem quatro espaços políticos é substituído por um cubo em que se definem oito; e o grau de extremismo de cada posição política é definido pela proximidade em relação a cada um dos vértices.

E é aqui que a questão se começa a tornar interessante. Suponhamos que introduzíamos na nossa bússola tridimensional uma nova coordenada. Por exemplo: se as leis devem ter uma base moral que reflicta o consenso da comunidade ou, no extremo oposto, uma base utilitária que não atenda a mais que a protecção dos direitos de cada cidadão contra as acções dos outros. Na primeira opção, é perfeitamente legítimo que o Estado nos proíba de injectar heroína nas veias - nas nossas, é claro - ou de andar nus na rua; na segunda, leis como estas seriam ilegítimas, tais como quaisquer outras que definissem crimes sem vítima. A figura geométrica que ilustraria a variedade de opções políticas daqui resultante seria, não já um segmento de recta, um quadrado ou um cubo, mas sim um hipercubo.

Um hipercubo não é mais nem menos real, nem mais nem menos abstracto, nem mais nem menos imaginário, que um segmento de recta, um quadrado ou um cubo a três dimensões. Mas, se não é menos imaginário, é muito menos imaginável. É, até, inimaginável de todo: o cérebro humano não está equipado para visualizar objectos com quatro dimensões espaciais.


Mas está equipado para os compreender, ou seja: para conhecer as suas propriedades. No caso dum hipercubo, é possível determinar o seu volume (que, se ele tiver dez centímetros de lado, será de 10.000 cm4). E é possível saber quantos vértices tem, que são dezasseis - cada um dos quais representará, na nossa metáfora, uma posição política extrema.

A noção de hipercubo é perfeitamente inútil, por exemplo, para um arquitecto que queira projectar um edifício (a não ser numa história engraçadíssima de Robert A. Heinlein, intitulada And He Built a Crooked House). Mas talvez não seja assim tão inútil para um cidadão empenhado em definir-se politicamente.

O que só prova (esta é para o director do
Sol) que a política é mais complicada que a arquitectura. Mas isto já nós sabíamos.

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