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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Excerto:

"Not far away from that palace room where no bird is singing, a man is as high in the air as birds might fly, working from a scaffold under a dome. The exterior of the dome is copper, gleaming under moon and stars. The interior is his.

There is light here in the Sanctuary; there always is, by order of the Emperor. The mosaicist has served tonight as his own apprentice, mixing lime for the setting bed, carrying it up the ladder himself. Not a great amount, he isn't covering a wide area tonight. He isn't doing very much at all. Only the face of his wife, dead now two years, very nearly.

There is no one watching him. There are guards at the entrance, as always, even in the cold, and a small, rumpled architect is asleep somewhere in this vastness of lamplight and shadow, but Crispin works in silence, as alone as a man can be in Sarantium.

If anyone were watching him, and knew what it was he was doing, they would need a true understanding of his craft (of all such crafts, really) not to conclude that this was a hard, cold man, indifferent in life to the woman he is so serenely rendering. His eyes are clear, his hands steady, meticulously choosing tesserae from the trays beside him. His expression is detached, austere: addressing technical dilemmas of glass and stone, no more.

No more? The heart cannot say, sometimes, but the hand and eye - if steady enough and clear enough - may shape a window for those who come after. Someone might look up one day, when all those awake or asleep in Sarantium tonight are long dead, and know that this woman was fair, and very greatly loved by the unknown man who placed her overhead, the way the ancient Trakesian gods were said to have set their mortal loves in the sky, as stars."

domingo, 18 de outubro de 2015

Diálogo ficcional entre um engenheiro de há 77 anos e um economista de daqui a 71 anos

Em 1939 um jovem engenheiro acabado de desmobilizar, por problemas de saúde, da Marinha norte-americana escreveu um livro de ensaios sobre as suas opiniões em matéria de política e economia. E opiniões possuía ele em abundância: em tal abundância e variedade, e tão fora do comum, que não encontrou editor para o livro.

Chamava-se este jovem engenheiro Robert A. Heinlein; e ninguém previa, nem ele, que as décadas seguintes fariam dele o mestre indisputado de um género literário nascente, a ficção científica. Perante a rejeição do seu livro de ensaios, resolveu rescrevê-lo sob a forma de um romance, uma "história do futuro" com o título "For Us, The Living".

Como romance, é fraquito. As personagens são planas e o enredo quase inexistente. Mas é fascinante para três categorias de leitores: aqueles que, conhecendo a obra posterior de Heinlein, encontram aqui condensados quase todos os tópicos que ele desenvolveu durante o meio século em que se tornou uma lenda viva; aqueles que tiram prazer da comparação entre as sua previsão da história do Mundo desde 1939 e o que realmente aconteceu até agora (prever, em 1939, a constituição e posterior desintegração de uma estrutura em tudo semelhante à União Europeia não é façanha pequena); e aqueles que julgam que algumas ideias políticas e económicas que hoje consideramos de vanguarda eram impensáveis há 76 anos.

O enredo é rudimentar. Um engenheiro recém desmobilizado da marinha, Perry, tem um acidente de automóvel em 1939 e acorda em 2086, num corpo jovem em tudo idêntico ao seu. Há um sub-enredo amoroso, como não podia deixar de ser, mas o essencial do livro é uma sucessão de conversas com várias personagens que lhe permitem compreender a América de 2086 e, por comparação com esta, a do seu próprio tempo.

O excerto que traduzi consiste numa conversa entre "Perry" e um professor de Economia, "Master Davis", sobre aquilo a que hoje chamaríamos "Rendimento Básico Incondicional".

"Sobre o que me está a incomodar,” [disse Perry,] “parece-me que já entendo o actual sistema financeiro e vejo bem que funciona melhor que o do meu tempo, mas há coisas nele para que não encontro justificação. Especialmente este dividendo ou cheque-herança. Por que carga de água há-de toda a gente receber dinheiro, quer trabalhe, quer não? Concedo que é justo para as viúvas e os órfãos, os doentes, os cegos e os aleijados, mas porquê sustentar no ócio um matulão que é preguiçoso demais para se sustentar a si próprio? A minha ideia é esta: aumentar o subsídio se necessário, e dar um dividendo maior a quem não se pode sustentar a si próprio, mas se um zângão não quer trabalhar, que morra à fome. Não o vamos deixar viver à custa de todos nós."

"Estou a ver. Incomoda-te que seja permitido a alguém que é capaz de trabalhar viver sem trabalhar. Mas porque é que consideras o trabalho uma virtude?"

"Bom, essas pessoas consomem bens e serviços que podem fazer falta a outras pessoas."

"Sabes de alguém que não tenha tudo o que quer das coisas boas do Mundo?"

"Bem, não."

"Então como é que podes dizer que os ociosos consomem bens que pertencem de justiça aos trabalhadores?"

"Parece-me óbvio."

"Quer dizer que te parece lógico. Mas, se não consegues encontrar no mundo real um caso que a confirme, pode a tua lógica estar correcta? Parece-me que encontraste o teu cisne negro [falácia lógica, discutida anteriormente, que consiste num silogismo em que a premissa maior é desmentida pelos factos observados]."

"Talvez sim. Mas como se pode justificar que homens saudáveis vivam na ociosidade?"

Davis estendeu os lábios. "A ética é mais uma questão de opinião do que de ciência. A moral tem mais a ver com os costumes que com a lei natural. Contudo, se quiseres um argumento moral para justificar a situação, eu posso dar-to. Havia alguém no teu tempo que vivesse sem trabalhar?”

“Oh, havia os que estavam a receber subsídio.”

“Não estou a falar desses. Presume-se que esses quisessem trabalhar e não encontrassem emprego, e lembras-te que provámos matematicamente que não lhes era possível encontrá-lo. Refiro-me àqueles que podiam trabalhar mas não queriam, e viviam bem.”

“Bem, não.”

“De certeza? E os que viviam dos rendimentos, e os proprietários de terras, e os detentores de capital que não participavam na gestão?”

“Ah, sim, claro. Uns poucos milhares, talvez. Mas tinham o direito de viver na ociosidade se quisessem. Ou eles ou os pais tinham ganho o dinheiro. Um homem tem com certeza o direito de providenciar para os seus filhos.”

“Todos os ociosos de hoje são filhos ricos de pais trabalhadores.”

“Estás a tentar brincar comigo?”

“Não foi uma piada, mas é verdade que falei em linguagem figurada. Diz-me, quais são os factores que intervêm na produção da riqueza real?”

“Bom, o trabalho, claro – e as matérias-primas e a terra.”

“Quais eram os factores quando jogámos o nosso jogo de produção e consumo?”

“Ah, sim – e também o capital, e o empreendimento e a gestão, e a inovação e a técnica, e o governo também estava no tabuleiro, mas não tenho a certeza que ele seja um factor na produção.”

“Mas é, como vais ver. Vamos examinar esses factores e tentar fazer uma estimativa aproximada da sua importância. O trabalho é básico, com certeza. Só nas mais paradisíacas ilhas dos Mares do Sul é que o Homem pode viver sem trabalhar. Marx errou ao considerar que o trabalho era único factor a considerar por ser o mais imediato, embora nos seus textos esteja implícita a existência de outros. A iniciativa é mais importante que o trabalho. Sem iniciativa, gestão, capacidade de direcção, e imaginação, a nossa cultura actual, altamente produtiva, seria impossível. A iniciativa é uma forma de trabalho criativo, mais difícil que o trabalho rotineiro, e absolutamente necessária a um alto nível de produção. O capital, ou melhor, a capitalização consiste essencialmente na disposição por parte de um possuidor de riqueza acumulada de a arriscar na esperança de adquirir mais. A sua recompensa é o juro. Hoje já não lhe damos muita importância. O capital é abundante, e, por meio da concorrência exercida pelo Banco dos Estados Unidos, fizemos o juro descer até um ponto em que é proporcional ao risco. […]

“Disse-te há bocado que o governo é um factor na produção. E é um factor, se não por outra razão, porque através dos seus poderes de policiamento cria um ambiente seguro para trabalhar. Sem ele, ninguém poderia acumular riqueza e a criação de riqueza em larga escala não seria viável. O que é outra maneira de dizer que os indivíduos só adquirem riqueza pela permissão da comunidade e a comunidade pode exigir-lhes qualquer tributo necessário à promoção do bem comum. O governo desempenha outras funções, numerosas demais para mencionar, mas estás a ver o meu ponto.

“A terra e as matérias-primas são outro factor óbvio na produção de riqueza. Mesmo na economia mais simples, o trabalhador tem que ter algo sobre que actuar e um lugar para o fazer a fim de produzir riqueza.

“O último factor é a inovação e a técnica. Não me refiro apenas às invenções modernas, protegidas por patentes, mas também a toda a acumulação de conhecimento útil desde a idade da pedra até ao presente. Embora se possa criar riqueza sem inovação, ou com muito pouca, ela é o mais importante de todos os factores. Basta que penses numa mercadoria qualquer para te convenceres disto. Por exemplo, um par de sapatos. Numa fábrica moderna, a produção anda à volta de seiscentos pares de sapatos por trabalhador por dia. Se deduzirmos a matéria-prima e os custos de capital, ficaremos ainda com quatrocentos pares por trabalhador por dia. Há algum homem capaz de fazer quatrocentos pares de sapatos num dia? Põe um homem a uma banca de sapateiro e assume que se trata de um sapateiro experiente, e já será muito bom que ele consiga fazer um par de sapatos num dia. Será então a gestão? A gestão é importante, uma vez que uma má gestão reduzirá a produção, digamos, em 50%, mas apesar disso a fábrica ainda produz muito mais do que produziria um número de sapateiros artesanais igual ao número dos seus trabalhadores. É óbvio que o que permite esta produção é o conhecimento técnico, a contribuição do inventor e do artista criativo. É por isso que os recompensamos tão bem hoje em dia. Há uma característica única do inventor-criador: é que o seu trabalho lhe sobrevive e é cumulativo no seu efeito. Devemos mais ao génio desconhecido que inventou a roda e o eixo do que a todos os trabalhadores que vivem hoje sobre a terra. Além disso, cada inventor está de pé sobre os ombros dos seus antecessores. Nenhuma invenção moderna seria possível sem o trabalho prévio de Bacon, Da Vinci, Watt, Faraday, Edison, et cetera sem número.”

“Sim, isso é evidente, mas e daí? Não vejo como é que o trabalho desses homens possa justificar a preguiça de hoje.”

“Estes homens são os nossos antepassados. Deixaram a cada um de nós a herança mais valiosa que é possível imaginar com excepção da terra e da própria vida. A cada um de nós, nota bem, tanto aos preguiçosos como aos trabalhadores. Recusar ao nosso irmão que prefere não trabalhar a sua parte da produção por razões moralistas que nós próprios inventámos seria exigir para nós aquilo que não ganhámos e a que não temos direito.”

Perry parecia desconcertado mas não convencido. “Admitindo que o que estás a dizer é verdade – e é, suponho – apesar de tudo é preciso trabalho para aplicar essa herança de conhecimento técnico. Porque não há-de cada homem capaz ser obrigado a contribuir para esse trabalho?”

“Mas, Perry, com certeza que vês que não há neste mundo trabalho suficiente para todos. As máquinas libertaram-nos da maldição de Adão. Como caberíamos todos nos postos de controlo das máquinas? Trabalhamos poucas horas, é verdade, e a maior parte dos operadores das máquinas reformam-se jovens, mas não é prático fazer mudanças de turno de quinze em quinze minutos nem treinar novos trabalhadores de poucas em poucas semanas. Havíamos de pôr as pessoas a cavar buracos e a enchê-los de novo para criar trabalho por amor do trabalho? Havíamos de destruir as máquinas e substituí-las por bancas de sapateiro? Há sempre trabalho criativo para fazer; não há limite para ele, mas também não há maneira de o sujeitar a horários. Se um homem tem em si a capacidade de criar, tudo o que podemos fazer é dar-lhe o ócio necessário para a desenvolver.”