Brüning, um economista prestigiado, aplicou na Alemanha as mesmas políticas que Merkel aplica na Europa. Não se chamavam de «austeridade», como agora, porque os tempos eram menos hipócritas e chamava-se fome à fome. Mas consistiam na mesma na redução dos serviços do Estado, no equilíbrio contabilístico a todo o custo, na ligação rígida a um padrão (na altura o ouro, hoje o euro), no ataque aos funcionários públicos e às classes profissionais, na fragilização das classes médias, e traduziam-se na descredibilização do centro politico-partidário face ao centro sociológico.
Um dos reflexos desta descredibilização foi o crescimento dos partidos nos extremos do espectro político: o partido nazi e o partido comunista. Com a agravante, que hoje (ainda) não se verifica em nenhum país da União Europeia, de se tratar em ambos os casos de partidos armados.
Não foi propositadamente que Brüning abriu as portas a estes dois partidos. Apenas não previu que uma classe média débil e em pânico, tal como ele a criou, fosse terreno fértil para as propostas mais violentas e extremistas. Era um tecnocrata, e dum tecnocrata não se pode exigir mais. Quando se deu conta das consequências políticas das suas políticas económicas, era tarde demais: ainda conseguiu desarmar o partido comunista, mas já não conseguiu desarmar o partido nazi. Ainda tentou por todos os meios - honra lhe seja feita - barrar o caminho a este último, mas já não o pôde fazer.
Um povo encurralado e em pânico é uma coisa terrível de se ver. É um monstro imprevisível e irresistível, que num instante vira de pantanas constituições, tratados, sistemas jurídicos e verdades tidas por imutáveis. E não o faz atendendo aos seus próprios interesses racionalmente considerados, mas sim ao ódio pelos que vê como causadores da sua desgraça: ontem os judeus, hoje os banqueiros.