...............................................................................................................................................

The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
....................................................................................................................................................

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Merkel igual a Hitler? Claro que não.

Um termo de comparação muito melhor é Heinrich Brüning, chanceler alemão entre 1930 e 1932 que ficou conhecido por Chanceler da Fome devido às suas políticas deflacionárias. (Sim, deflacionárias; e será sempre para mim um mistério que os alemães tenham tão boa memória para a hiper-inflação da década anterior e tão má para a deflação que antecedeu imediatamente a subida dos nazis ao poder.)

Brüning, um economista prestigiado, aplicou na Alemanha as mesmas políticas que Merkel aplica na Europa. Não se chamavam de «austeridade», como agora, porque os tempos eram menos hipócritas e chamava-se fome à fome. Mas consistiam na mesma na redução dos serviços do Estado, no equilíbrio contabilístico a todo o custo, na ligação rígida a um padrão (na altura o ouro, hoje o euro), no ataque aos funcionários públicos e às classes profissionais, na fragilização das classes médias, e traduziam-se na descredibilização do centro politico-partidário face ao centro sociológico.

Um dos reflexos desta descredibilização foi o crescimento dos partidos nos extremos do espectro político: o partido nazi e o partido comunista. Com a agravante, que hoje (ainda) não se verifica em nenhum país da União Europeia, de se tratar em ambos os casos de partidos armados.

Não foi propositadamente que Brüning abriu as portas a estes dois partidos. Apenas não previu que uma classe média débil e em pânico, tal como ele a criou, fosse terreno fértil para as propostas mais violentas e extremistas. Era um tecnocrata, e dum tecnocrata não se pode exigir mais. Quando se deu conta das consequências políticas das suas políticas económicas, era tarde demais: ainda conseguiu desarmar o partido comunista, mas já não conseguiu desarmar o partido nazi. Ainda tentou por todos os meios - honra lhe seja feita - barrar o caminho a este último, mas já não o pôde fazer.

Um povo encurralado e em pânico é uma coisa terrível de se ver. É um monstro imprevisível e irresistível, que num instante vira de pantanas constituições, tratados, sistemas jurídicos e verdades tidas por imutáveis. E não o faz atendendo aos seus próprios interesses racionalmente considerados, mas sim ao ódio pelos que vê como causadores da sua desgraça: ontem os judeus, hoje os banqueiros.

É a este estado de confusão e desespero que Merkel e Sarkozy estão a conduzir toda a Europa, porque se querem credibilizar perante os Mercados. Mas valia que se preocupassem em credibilizar-se primeiro perante 500 milhões de Europeus. Talvez assim evitassem a catástrofe.

domingo, 20 de novembro de 2011

Carta aberta ao PS

Caro PS:

Vou ser sincero. Deixei há muito tempo de confiar em ti e de votar em ti. As desilusões têm um efeito cumulativo, e as que tu me deste foram muitas e vêm de longe. Há um ponto a partir do qual se torna impossível fechar os olhos à corrupção, ao amiguismo, à capitulação, à falta de ideais.

Não foste - longe disso - o único partido socialista europeu a deixar-se transportar na ilusão neoliberal. Quanto a isto, é possível que até nem tenhas grande culpa: era o espírito dos tempos. Mas depois de 2008? Depois de se ter tornado óbvio, escancaradamente óbvio, a quem servia a doutrina económica dita ortodoxa? Não poderias ter feito desde essa altura, ou pelo menos esboçado, o teu exame de consciência? Que considerações, que compromissos, que rabos de palha te impediram de o fazer? Podias ter saído da torre de marfim politqueira onde te encerraste ou te encerraram. Podias ter olhado à tua volta. Podias ter visto, ouvido e lido o que se estava e está a passar no mundo. Porque escolheste permanecer cego e surdo?

Quando governaste, governaste mal. Atacaste com afinco e com acinte, não só os trabalhadores em geral, mas também, de entre estes e em particular, as classes médias e as classes profissionais que eram o teu principal sustentáculo. Onde estavas com a cabeça? Atacaste direitos chamando-lhes privilégios, e deixaste os privilégios como estavam, se é que os não favoreceste ainda mais. Chegaste a ser o único partido parlamentar - nota bem, o único - a colocar obstáculos inultrapassáveis a que se combatesse eficazmente a corrupção. Talvez me fosse possível perdoar-te o resto. Isto, nunca.

Assinaste um acordo com a troika em que se previa que o défice das contas públicas fosse atacado em dois terços pelo lado da despesa e num terço pelo lado da receita. Porquê esta proporção e não outra qualquer? Ocorreu-te sequer fazer esta pergunta? Que tabu, que fetiche te paralisou o cérebro? Abstiveste-te na votação dum Orçamento de Estado que decorria deste acordo. Com que cara vens agora mendigar ao governo que devolva metade do que ajudaste a roubar aos funcionários públicos e aos reformados?

Agora anuncias a tua abstenção quanto à Greve Geral do dia 24. Não me surpreende esta atitude: era a que esperava de ti, dado o teu currículo. Mas compreende uma coisa: o mundo está em guerra. Já não a podes evitar com paninhos quentes. E quem se mantiver na terra de ninguém ficará sob fogo cruzado. 

Já não tens muito tempo. Ou te colocas, rapidamente e sem equívocos, do lado dos 99%, ou ficas para sempre do lado dos 1%. E estes não te ficarão gratos: para ti, doravante, a vida será sempre a perder.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Junta governativa

A Europa é hoje governada por uma junta não eleita, que não presta contas a ninguém e que não pode ser destituída por meios democráticos: Lagarde, Merkel, Sarkozy, Draghi, Barroso, Juncker, van Rompuy e Oli Rehn. Este grupo, ideologicamente muito homogéneo, preocupa-se muito com o que pensam os mercados e nada com o que querem os 500 milhões de Europeus. Tem o poder de demitir governos, esvaziar preceitos constitucionais e proibir referendos. Só uma revolução democrática o poderá afastar do poder.