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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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segunda-feira, 8 de junho de 2009

Vencedores e vencidos

Ponto prévio: na política, como na guerra, não há vitórias esmagadoras. Mesmo que se julgue ter exterminado todo um povo, há sempre um recanto remoto onde sobrevivem meia-dúzia de crianças - e destas crianças há-de nascer, a seu tempo, um exército.

Vencer é, tão somente, atingir ou ultrapassar os objectivos fixados; perder é não os atingir. A derrota e a vitória medem-se pela distância a que se ficou além ou aquém dos objectivos.

E não vale a pena fazer batota: se colocamos a fasquia baixa demais no intuito de podermos mais tarde cantar vitória, alguém se a encarregará de a pôr à altura certa.

Nestas eleições europeias houve um derrotado e quatro vencedores. O derrotado foi o PS. Tinha por objectivo ser o partido mais votado, ainda que por por margem estreita, e não o foi por larga margem. Tinha por objectivo ficar bem colocado para disputar as legislativas, e não ficou. Tinha por objectivo ficar com as mãos livres para fazer o que quisesse no que resta do seu mandato, e ficou com elas presas. Sócrates sabe que está perdido se continuar no caminho que traçou, mas também sabe que está perdido se se desviar dele um milímetro.

Já o PSD ganhou, e folgadamente. Bastava-lhe ficar um pouco atrás do PS e ficou muito à frente. Previa não ter alternativa à participação num bloco central, e abre-se-lhe a possibilidade de integrar um bloco de direita. A imagem cinzenta da sua líder vai ficar de um dia para o outro bastante mais colorida, porque nothing succeeds like success.

Ganhou o Bloco de Esquerda. Queria uma votação que o pusesse na primeira liga, e obteve-a. Queria dois mandatos, obteve três. Os outros partidos vão tentar retratá-lo como um partido marginal e irrelevante, mas não vão conseguir. Tem uma boa equipa no Parlamento Europeu, e uma equipa de luxo na Assembleia da República - dedicada, inteligente, culta, trabalhadora, entusiástica, imaginativa, eloquente e fanática do trabalho de casa bem feito. Quase triplicou o número de votos em relação às eleições anteriores, e tem o eleitorado mais jovem de todos os partidos. Foi uma vitória enorme.

Ganhou a CDU. Queria sacudir a imagem de velharia ultrapassada, e sacudiu-a. Passou, como se esperava, da terceira posição para a quarta, mas por uma diferença mínima. Não tem as expectativas de crescimento do BE, mas não está em risco de definhar.

Ganhou o CDS. Derrotou as sondagens. Ficou numa boa posição para disputar as legislativas. Se a votação que teve se repetir, e se nem o PS nem o PSD tiver a maioria absoluta, pode aspirar à posição de partido-charneira.

Ganhou a sociedade civil. A classe política ficou notificada - ou pelo menos os mais inteligentes dos seus membros - que é impossível, além de ilegítimo, governar contra o Soberano. Para esta vitória, contribuiu decisivamente a luta dos professores. As duas referências que Paulo Rangel fez às classes profissionais no seu discurso de vitória mostram que compreendeu a importância e o poder da sociedade civil, mesmo que outros políticos ainda insistam em demonizá-la sob o epíteto depreciativo de "corporações." Mas não nos iludamos: Rangel vai para Estrasburgo e nada nos garante que os seus correlegionários que cá ficam, a começar por Manuela Ferreira Leite, tenham a mesma perspicácia ou a mesma sensibilidade.

Tão importante como falar de vitórias é falar do seu preço. O preço da derrota é a própria derrota, mas o da vitória pode variar. Quem pagou o preço mais alto pela vitória foram o PSD e o CDS. Para ganhar a Europa, tiveram que enviar para lá os seus melhores generais, e deixaram mal guarnecida a frente interna. Isto poderá ficar-lhes caro em Outubro. Já ao BE ficou barata a vitória. Não lhe faltam generais brilhantes: conservam-se em Portugal Ana Drago, Cecília Honório, Francisco Louçã, Luís Fazenda.

De tudo isto vamos nós - os professores e as outras classes profissionais - ter que tirar as devidas ilações. As regras do jogo mudaram; temos mais aliados do que tínhamos, mas não sabemos bem quais são as suas agendas nem até que ponto se articulam com a nossa. É tempo de rever tácticas e estratégias, na certeza porém que, se vencemos uma batalha, ainda estamos muito longe de ganhar a guerra.

2 comentários:

Safira disse...

Olá!
Tens uma surpresa no meu blogue.
Abraço.

Hurtiga disse...

Luiz, passei-lhe o testemunho de um prémio. Está no meu blogue.
Abraço.