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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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sábado, 8 de dezembro de 2007

Duas coisas que nunca ouvi ao vivo

A primeira vez que suspeitei da existência do Quarteto Opus 132 de Beethoven foi no fim da minha adolescência, ao ler o Contraponto de Aldous Huxley. Era tão jovem que ainda lia traduções de livros escritos originalmente em inglês, mas neste caso não perdi muito, já que a tradução era de Erico Veríssimo. No romance de Huxley, uma personagem põe a tocar na grafonola, na presença de alguns amigos, o 3º Andamento deste quarteto e exprime a sua convicção de se estar perante o mais belo trecho musical jamais composto.

Isto intrigou-me, como não podia deixar de ser; como também me intrigou, confesso, o longuíssimo e excêntrico título do andamento: Molto Adagio (Heiliger Dankgesang eines Genesenen an die Gottheit; in der lydischen Tonart) Andante (Neue Kraft fühlend) Molto Adagio (Mit innigster Empfindung).

Nesse tempo não se comprava um LP com o mesmo à vontade com que hoje se compra um CD, e passaram-se meses até que eu pudesse ouvir esta música. À primeira audição não compreendi muito bem o que é que ela tinha de assim tão especial, mas com o tempo acabei por me apaixonar e por ficar quase convencido que estava ali o culminar da arte musical de todos os tempos.

Passaram os anos e as décadas. Ouvi muita música durante esse tempo: em cassetes, em LP's, em CD's, ao vivo. A Grosse Fuge, que também faz parte do disco que vêem por cima aqui ao lado, ouvi-a pela primeira vez numa sala de concertos em Milão; mas nunca ouvi ao vivo o Opus 132. No primeiro ano de funcionamento da Casa da Música foi programada a integral dos quartetos de cordas de Beethoven e Shostakovitch, pelo mítico Quarteto Borodin: comprei a assinatura, ouvi-os todos - mas uns meses antes do último espectáculo, em que se havia de tocar o Opus 132, um dos membros do quarteto partiu um pulso e o espectáculo foi primeiro adiado e depois cancelado. Não cheguei a ouvir o Heiliger Dankgesang.

Também nunca cheguei a ouvir ao vivo o Concerto de Violino Opus 61. Espero ainda ter essa oportunidade. A Sonata «Primavera», último elemento do meu trio mágico, essa já a ouvi ao vivo; e estou a ouvi-la agora nos auscultadores enquanto componho este post, interpretada por Takako Nishizaki ao violino e Jenö Jandó ao piano. Será impressão minha, ou esta sonata é melhor que Prozac? O facto é que nunca falha: ouvi-la deixa-me sempre sereno e feliz.

E é assim: quando me perguntam pelo meu compositor preferido, hesito sempre entre Beethoven e Mozart; mas quando me perguntam pelas minhas composições preferidas, as que ponho em primeiro lugar são sempre de Beethoven. Claro que há a Flauta Mágica e o Don Giovanni de Mozart, mas para mim a ópera é teatro antes de ser música. E para vocês que me lêem como é que tudo isto funciona?

2 comentários:

Orlando disse...

Bem, há uns blogs que põem umas musiquinhas para nós ouvirmos...
Não temos direito a nada?

Anónimo disse...

Já que pergunta...

O meu preferido é Dvorak.

É sempre bom ler opiniões sobre música clássica. São raras, especialmente neste universo dos blogs.

Foi um post refrescante. Obrigada.