...............................................................................................................................................

The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
....................................................................................................................................................

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Moloch e Menino Jesus

(Publicado originalmente no Leviathan)

Na ortodoxia neoliberal o Estado é Moloch: um deus selvagem e monstruoso que se alimenta do sangue das suas vítimas. Alguns membros da seita vão ao extremo de aplicar a metáfora ao pobre, débil e incipiente Estado português.

Se olharmos com olhos de ver à nossa volta e procurarmos deuses selvagens, monstruosos e sedentos de sangue, encontraremos provavelmente alguns Estados: a China, a Coreia do Norte...
Mas são excepções. No mundo actual os despotismos resultam mais da falta de Estado do que do excesso de Estado. No Paquistão um grupo de juízes tribais condena uma mulher a ser violada em público por seis homens, e o Estado central nem força tem para manter os violadores na prisão; na Nigéria um tribunal islâmico condena uma mulher à morte por lapidação - por ter tido um filho sendo viúva - e o Estado central tem de tratar do assunto com infinitos cuidados, não vá o monstro devorá-lo. Na Somália, no Iraque, no Sudão, os Senhores da Guerra e os Mensageiros de Deus digladiam-se entre si e impõem a lei, e não há Estado que os contenha.

Se olharmos à nossa volta veremos Moloch, sim, mas não no Estado, e muito menos no Estado português. Vê-lo-emos nas grandes empresas multinacionais, em Wall Street, na City de Londres; vê-lo-emos em Roma, sentado no trono de S. Pedro; vê-lo-emos na Direita Religiosa americana; vê-lo-emos a vociferar na rua, ébrio de Deus, um pouco por todo o mundo islâmico.
Vê-lo-emos até, se soubermos olhar, nas prateleiras das livrarias, em que cada vez mais espaço é ocupado pela categoria «exoterismo e religião».

Comparado com isto tudo, o pobre, débil e incipiente Estado português não é Moloch, é o Menino Jesus.

Sem comentários: