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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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sexta-feira, 29 de maio de 2020

David Graeber, 'Debt: The First 5,000 Years'

Se há uma pergunta na ciência económica para a qual toda a gente pensa que tem uma resposta óbvia, é esta: "O que é o dinheiro?" E quanto menos sabemos o que é o dinheiro mais pensamos que sabemos. Quem sabe, porém, sabe sobretudo que não sabe. A natureza do "dinheiro" (como a de "riqueza", que não é a mesma) é uma das questões mais intratáveis e complexas no debate entre economistas; e já esteve na raiz de não poucas guerras, e das mais mortíferas.

Há hipóteses mais plausíveis do que outras. Uma delas, bastante consensual, é que a definição de "dinheiro" está ligada à de "dívida." Isto, numa primeira abordagem, parece óbvio: se forneço a alguém um bem ou serviço e recebo em troca um papel que não serve para nada a não ser para obter outro bem ou serviço, então o que tenho em meu poder não é em si mesmo riqueza, mas apenas o título de uma dívida em que estou na posição de credor.

Mas não há consenso sobre todos os eixos de articulação entre o dinheiro e a dívida. Pior: também não há consenso sobre uma definição exacta de "dívida" nem sobre uma definição exacta de "riqueza." Sabemos que as três noções não são sinónimas, presumimos fundamentadamente que estão ligadas, mas não sabemos exactamente como estão ligadas.

Para discutir estas matérias, David Graeber recua 5.000 anos até à Idade do Bronze e viaja por toda a Terra, examinando as mais diversas formas de organização social e económica que os historiadores, os sociólogos e os antropólogos têm estudado. E centra-se na noção de "dívida", provavelmente aquela que se presta a uma definição mais plausível. "Dívida" será então a obrigação - moral, religiosa, legal, ritual - de compensar um benefício recebido mediante uma contrapartida. Sendo que nem o benefício nem a contrapartida são necessariamente objectivos ou facilmente quantificáveis.

Juntamente com mais duas ou três obras canónicas (não serão muitas mais), 'Debt' obriga-nos a pensar por fora das vulgatas cássica e marxista sem por isso termos que renunciar ao que há de mais frutífero nas respectivas teorias. E obriga-nos a dar pelo menos o benefício da dúvida às tão negligenciadas abordagens anarquistas da economia, da sociologia e da história.

Da última vez que procurei, este livro não tinha sido editado em português. Havia outros do mesmo autor, porventura menos importantes; fica a hipótese de os editores portugueses se terem assustado com a extensão do texto. Entretanto pode ser que já tenha sido publicada uma tradução em português. É uma leitura que se recomenda, quando mais não seja para evitarmos pronunciamentos taxativos sobre noções como dívida privada e dívida pública e sobre as implicações políticas e estratégicas do que sabemos, ou julgamos saber, sobre a matéria.

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