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The aim of life is appreciation; there is no sense in not appreciating things; and there is no sense in having more of them if you have less appreciation of them.


..........................................................................................................Gilbert Keith Chesterton
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sábado, 2 de junho de 2012

Dani Rodrik, The Globalization Paradox

Dani Rodrik é professor de Economia Política Internacional na John F. Kennedy School of Government da Universidade de Harvard. É um economista de topo e conta-se, segundo algumas listas, entre os 100 mais influentes do Mundo. O seu blogue, que faz parte da minha lista de hiperligações, é frequentemente citado em publicações como The New York Times ou The Economist

Mas o que o torna mais conhecido do grande público é talvez o famoso "Trilema de Rodrik": a globalização, a soberania nacional e a democracia não podem coexistir. Podem coexistir quaisquer duas delas, mas nunca as três. É deste "trilema" que trata The Globalization Paradox.

Forçados a escolher, depressa nos damos conta que é quase certamente impossível eliminar os Estados soberanos: isto implicaria o estabelecimento de um governo mundial que não se pode antever num futuro próximo. E não queremos, muitos de nós, prescindir da democracia. Resta a globalização - que é, como mostra a história dos seus altos e baixos, uma opção política e não uma inevitabilidade histórica. Se queremos Estados soberanos e democráticos, temos que encarar de frente opções políticas que, tendo em conta os inegáveis benefícios da globalização, não a deixem prevalecer sobre as soberanias nacionais nem sobre a democracia. 

A utopia do "Estado Mínimo", nomeadamente, é um projecto de destruição do Estado Social que se apoia na natural aversão das pessoas aos impostos - mas que dificilmente conseguirá, apesar deste apoio, tornar-se realidade em democracia. A ideia de que o "estado gordo" se financia por um "esbulho" traduzido em impostos tão altos que empobrecem os cidadãos é factualmente falsa. Na realidade, quanto mais alta, em termos percentuais, é a apropriação por parte do Estado da riqueza de um país, mais alto é, em termos absolutos, o rendimento disponível dos cidadãos individuais. Eu próprio já tive essa experiência: nunca tive tanto rendimento disponível como no período da minha vida em que paguei mais IRS. Passo a palavra a Rodrik (tradução minha) para explicar este aparente paradoxo:

"Os mercados são mais desenvolvidos e mais efectivos na geração de riqueza quando têm na sua retaguarda sólidas instituições governamentais. Os mercados e os estados são complementares, não substitutos, como pretendem muitas vezes algumas narrativas económicas simplistas. [ ... ]

Deparei-me inesperadamente com este ponto há alguns anos. O governo desempenha um papel tão difuso nas sociedades modernas que muitos cientistas sociais, eu incluído, se vêem impossibilitados de não ficarem obcecados com ele. Um dia estava sentado no meu gabinete, perguntando-me porque é que reduzir o sector público se revelava tão difícil apesar do clamor pelo "estado mínimo" levantado pelos políticos conservadores, quando um artigo do cientista político de Yale David Cameron cruzou a minha secretária.


Cameron estava interessado na seguinte questão: Porque é que o sector público se tinha expandido tão rapidamente nas principais economias avançadas na década seguinte à II Guerra Mundial? Embora Cameron focasse apenas a experiência posterior a 1945, esta era de facto uma tendência que vinha de muito antes. Por volta de 1870, a parte correspondente às despesas do Estado naquelas que são hoje as economias avançadas era em média cerca de 11%. Em 1920, esta parcela tinha quase duplicado para 20%. Aumentou mais ainda, para 28%, em 1960. Quando Cameron realizou o seu estudo, estava em mais de 40%, e tem continuado a crescer. O aumento não tem sido uniforme nos diferentes países. Os governos são hoje consideravelmente mais pequenos nos E.U.A., Japão e Austrália (com parcelas de despesa à volta dos 35%) que na Suécia ou na Holanda (55-60%), com a maioria dos outros países europeus em posições intermédias. Cameron queria compreender as origens desta diferença.


A sua conclusão, baseada no estudo de 18 nações avançadas, foi que a abertura ao comércio internacional tinha sido um dos factores principais. Os governos tinham crescido mais nas economias mais expostas aos mercados internacionais. Alguns países têm maiores defesas naturais contra as forças da competição internacional, por serem maiores ou por serem mais distantes dos serus parceiros comerciais. É este exactamente o caso dos governos mais pequenos da nossa lista (Estados Unidos, Japão e Austrália). As pequenas economias próximas dos seus parceiros comerciais, por contraste, efectuam muito mais trocas comerciais e têm sectores públicos maiores (tal como na Suécia e na Holanda).


Este argumento é altamente contra-intuitivo para quem está habituado a pensar que os mercados só podem prosperar onde o Estado não interferir. Eu já sabia, é claro, que as economias mais avançadas têm sectores públicos maiores, mas a tese de Cameron era outra: ele argumentava que a variação no tamanho do sector público entre economias igualmente ricas podia ser explicada pela importância do comércio internacional nas suas economias.


Confesso que achei suspeitos os resultados de Cameron; os economistas tendem a ser gente bastante céptica, especialmente em face de trabalhos estatísticos da autoria de outros cientistas. A minha primeira reacção ao artigo foi: isto não pode ser verdade. A amostra é pequena demais (só 18 países). O efeito deriva da dimensão do país e não da exposição em si mesma ao comércio internacional. Há muitos outros factores de confusão que a análise não teve em conta. E assim sucessivamente.


Decidi verificar por mim mesmo. Descarreguei alguns dados e comecei a alinhar o tamanho dos governos contra a abertura económica. Escrutinei primeiro os países avançados que Cameron  tinha focado. usei fontes de dados diferentes e diferentes períodos de tempo, mas para minha surpresa os resultados de Cameron mantiveram-se. Então expandi a análise para países em desenvolvimento, observando mais de cem países para os quais havia dados disponíveis. Mais uma vez, o cenário era o mesmo. Finalmente tentei fazer desaparecer os resultados controlando-os contra tudo o que consegui imaginar - tamanho do país, geografia, demografia, níveis de rendimentos, urbanização, e muitos outros factores além destes. Dispusesse os dados como dispusesse, encontrei sempre uma forte correlação positiva entre a abertura duma nação ao comércio externo e o tamanho do seu sector público.


De onde vinha esta correlação? Considerei muitas explicações possíveis, mas nenhuma sobreviveu à minha bateria de testes. Por fim, as provas pareciam apontar para o tema da segurança social. As pessoas exigem compensação pelo risco quando as suas economias estão mais expostas a forças económicas internacionais. Este era essencialmente o argumento de Cameron, e ia claramente além do conjunto de países ricos que ele tinha estudado. Eu acabava de tropeçar numa das verdades fundamentais da Economia de que nunca ninguém me tinha falado na Faculdade: Se queremos expandir os mercados, precisamos de fazer o mesmo com os governos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Este blog tem muito interesse.
Vejam também www.anticolonial21.blogspot.com

Anónimo disse...

I have read your stories but this is my first time to comment, i love your work